Notícias

“Sandcastles” é o segundo lançamento de “Downside Up”, EP de estreia dos Ledher Blue

“Sandcastles” é o segundo lançamento de “Downside Up”, EP de estreia dos Ledher Blue. Depois de Jar, que espelha o final da jornada, chegam as justificações. Passamos do resultado ao fundamento – o que deu nome ao projeto.
“Sandcastles” é tão pós-rock como é pós-conflito. Um baixo quente temperado com linhas de bateria livre; e guitarras que criam pressão, durante o verso, para explodir, em suaves violinos, no refrão. A letra mostra o conflito comum às canções da banda. Um conflito entre melodias alegres e tons pesados, entre ritmos rígidos e métricas suaves e sussurradas (, entre memórias reprimidas e mantras esperançosos…).

Tal como não se pode entrar de babouches amarelas num casino em Marrakesh, também não se pode compreender o ambiente deste EP sem primeiro escutar “Sandcastles”. A canção preocupa-se com a nostalgia, frustração e raiva acumulada; com a popularidade de um moço, e suas interrogações naïves quanto ao que é verdadeiramente ser humano; e, com mais importância, com a explosão calma que resulta no seu mantra: “donʼt build your dreams on that”. Uma espécie de moral da história; uma aula, dada sem condescendência, sobre não deixarmos que os nossos falhanços controlem, em demasia, decisões futuras.
A dicotomia dos sentimentos e sensações – própria do humano – é fundamental no processo da banda. A apreensão, aceitação e compreensão de tudo o que engloba viver e saber viver – com uma nota positiva para o dia de amanhã. Da mesma forma que o café alimenta o cigarro, os arrependimentos também
podem alimentar a felicidade, desde que não nos consumam.

https://open.spotify.com/track/5bRD6M6xcRt5P5KQZLSuPZ?si=42058f0c27724006

Ledher Blue nasceu em Guimarães, pela mão de Zé e Pedro Duarte – dois amigos que lá se conheceram, na adolescência, e que aí partilharam a luta contra a mocidade. Esta amizade, temperada com alguns destilados, acelerou a passagem do tempo. Alguns anos depois, quando conheciam já de cor a paisagem noturna da sua pequena cidade, decidiram trocar a asfixia das Praças pela liberdade de uma velha garagem. A luta era agora outra e, armados com o material de que dispunham, disparavam à monotonia. Este passatempo foi-se enraizando, começando a ser levado a sério.
Chegou o confinamento e, cerceados pelas restrições sanitárias, partiram os mealheiros para investirem em equipamento a sério. Construíram um estúdio caseiro – no anexo de casa dos pais do Zé -, com tudo o que uma boa festa requer. Para lá se mudaram. Após alguma formação autodidata em programas
de edição, estavam aptos a gravar o que tinham criado até aí.
A banda aumentou com a entrada de uma bateria virtual – sob a forma de piano -, e de um baixo emprestado. Esta nova amplitude de possibilidades serviu para completarem as suas músicas mais pesadas. Depois de lançarem algumas delas, online, surpreenderam-se com uma receção calorosa. Isto motivou-os e, dado o resultado obtido com material e técnicas caseiras, decidiram subir mais um degrau. Gravaram um EP, livre das virtualidades com que tinham improvisado, depois de uma residência no interior de Portugal.
Os dois elementos de Ledher Blue situam-se em pontos diametralmente opostos: quanto aos seus gostos musicais, sentido estético ou, até, forma de estar na vida. A sua música vive desta tensão que, creem, produz um resultado singular.
Essa avaliação ficará a cargo do público e poderá ser feita em novembro, aquando o lançamento do EP Downside Up.