Crónicas Opinião

Os passos da Vinil Experience Records na música portuguesa

Hoje falo-vos de uma pequena editora, quase de bairro… A Vinil Experience Records, nasceu através da loja com o mesmo nome e pela necessidade de ajudar alguns músicos, compositores ou bandas a terem os seus trabalhos editados no formato de vinil. Vou-vos falar dos últimos lançamentos correspondentes aos anos de 2018 e 2019.

A Vinil Experience Records teve início em 2012 com um 10 polegadas feito em parceria com a Raging Planet (a grande editora independente Portuguesa de Rock mais alternativo, sobretudo Metal, Punk e R’n’R) do Fast Eddie Nelson & Phil D. de nome “nuff said” (edição já esgotada). Centremo-nos, no entanto, nestes últimos dois anos: 

Em 2018 lançou um só disco e, também, no formato de 10 polegadas (mini- álbum). Foi resultado de um desafio feito ao grupo Democrash para editarem uma cover dos Beatles. A mesma foi apresentada nas Caldas da Rainha depois de serem desafiados a tocar num terraço de um telhado, um pouco à laia daquilo que os Beatles fizeram em N.Y.. A música chamava-se “one after 909” e o álbum chama-se  “909 democrash drug” onde posso destacar três faixas: o hino de nome “democrash” com a participação do Rodrigo Amado no saxofone, a dita cover dos Beatles mas bem diferente do original e a brutal “feedback is my drug”… Musicalmente falando estes Democrash situam-se no chamado Pós-Rock, pós-punk, no – Wave, tendo também algo de Kraut, psych e até um pouco teatral. Editado em parceria com a Raging Planet é um disco que mostra bem o que eles valem. Experimentem vê-los ao vivo! A geométrica e bela capa esteve a cargo do designer e guitarrista da banda Rui Garrido.

Seguiram-se os Dirty Coal Train com o LP de nome “Primitive”, desta feita em parceria com a Hey Pachuco Records e a Groovie em 2019, gravado no Brasil um ano antes nos Caffeine Studio em São Paulo. Podemos destacar a participação do grande baterista  Marky Wildstone dos Dead Rocks. Os Dead Rocks são uma banda de Surf/Rock Brasileiro com alguma popularidade. O disco contém 23 faixas de puro garage/punk, punk, surf,psych, exótic/tropicalismo e claro R’n’R. O LP tem a duração de 44:12 min, com faixas muito curtas, sendo que a maior tem menos de 3 min. Tem, ainda, quatro covers, podendo dar destaque à dos The Shandells – go go gorilla e à dos Dead Moon – psychadelique nightmare. A dupla Ricardo Ramos e Beatriz Rodrigues, ambos voz e guitarras com o Ricardo também a acumular a drum machine, conjugados com a bateria do Marky ditam as suas leis! A capa esteve a cargo do fabuloso Olaf Jens.

“High on Reality” do Fast Eddie Nelson é o seu quarto disco na Vinil Experience Records também em parceria com a Raging Planet – o Nelson terá sido o grande responsável da aparição da Vinil Experience Records. Para mim e, principalmente, para o Nelson este disco é especial pois ele já não editava nada desde o ano de 2015, tendo acumulado algumas musicas que entretanto fez. Para este álbum contou com algumas grandes participações das quais destaco o Adolfo Luxúria Canibal, Scúru Fitchadu, Poli Correia, Kaló e Raquel Ralha e ainda destacaria a entrada em definitivo do Rui Guerra dos The Quartet of Woah! e do João Alves dos Peste & Sida. Temos, pela primeira vez, duas música cantadas em Português: uma pelo Adolfo e uma cover do José Nisa pelo próprio Nelson. Blues, Blues/ Rock, Country /Rock, Rock e até música popular portuguesa são esperados neste último trabalho do Fast Eddie (edição em vinil amarelo e no tradicional preto). A fabulosa capa esteve a cargo do designer José Mendes.

O 3º disco de uma banda, é  o disco de confirmação, caso ainda precisem. Falo dos The Black Wizards e do seu “Reflections”. Liderados pela Joana Brito (voz, guitarra, composição) e Paulo Ferreira (2ª voz, guitarra, composição), tem o João Lugatte (bateria) e ainda o João Mendes (baixo). Este disco em vinil tem como particularidade a oferta de um 7 polegadas (single) com mais 2 faixas (só disponíveis nesta edição). O seu heavy stoner psicadélico torna-se no desenvolver do mesmo num som mais coeso, talvez mais melódico mas de certeza mais inventivo e penetrante. A voz da Joana está como nunca e musicalmente passa por terrenos dos óbvios Black Sabbath, Blue Cheers, Janis Joplin, Cream e às vezes uma pitada de Quicksilver Messenger Service. A belíssima capa psicadélica esteve a cargo da própria Joana Brito. Mais um disco em parceria com a Raging Planet, obviamente a explorar.

Para terminar o ano de 2019 um grande “discaço”! Benguela Blues Connection (embora com um numero de referência anterior, foi o último a sair). Um self – project de Nuno Carromeu, conhecido como baterista de Fast Eddie Nelson e de King John. Pôs as mãos à obra e sozinho, pontualmente com a ajuda de dois amigos, montou este projecto que, musicalmente falando, faz as minhas delícias… o blues, o rock, o hard stoner, o psicadelismo, o afro – beat, o folk ou mesmo a world music, é o que podemos encontrar neste grande LP dos Benguela B.C. A fabulosa capa ficou a cargo do Ricardo Reis e é um disco editado com a Raging Planet novamente na jogada.

E para 2020? O futuro ninguém sabe, ainda por cima pós Covid19. Já em fábrica está o novo dos Asimov & the Hidden Circus de nome “Flowers” (disco que aguardo com muita impaciência) e à partida o novo dos Dirty Coal Train.