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OUT.FEST 2019 divulgou novos nomes para a sua  16.ª edição

O OUT.FEST – Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro divulgou novos nomes para a sua  16.ª edição. Kelsey Lu, Bad Gyal Akabadgyal, Karol Conka ,Chong Kwong, Carne Doce, Bruno de Seda, Plantasia por Moullinex e Bruno Pernadas, Altın Gün são os nomes confirmados. A eles juntam-se Alpha Maid, Bezbog, Bonaventure (dj set),CALHAU!, Chão Maior, Deaf Kids, Gabriel Ferrandini e Camerata Musical do Barreiro, Mczo & Duke, VIEGAS [dj set],  Violeta Azevedo.

Alpha Maid

Trio (aqui duo) londrino liderado por Leisha Thomas (parte do colectivo Curl, de Mica Levi e Coby Sey entre outros), que estabelece um cruzamento em versão feminina e actualizada do que é possível fazer com a herança dos Big Black de Steve Albini num mundo em que a Mego e a Raster Noton já existem há largos anos. Canções abrasivas à guitarra e electrónica glitch, que vão do grunge a melodias estilo Neue Deutsche Welle. Canções de estrutura musculada mas melancólicas e cinza, com todo o travo característico da capital inglesa.

Bezbog

Duo resiliente, sensível, audaz, corajoso (inserir mais adjectivos dos bons) afecto à portuense e muito pulsante Favela Discos, que vai em quatro edições num percurso de cinco anos. Música que apanha do free jazz, das cassetes de baixa fidelidade, da honestidade e firmeza sob várias formas, e se descreve a si própria sistematicamente pelo processo: “Bezbog é música com saxofone, trompete e percussão amplificados e transformados electronicamente.”

Chernobog” é o seu último lançamento. Austero e empático em igual medida, navega entre uma versão cinza das coisas mais abstractas da cave dos Wolf Eyes, mas também por referências lusas como Sei Miguel, Tropa Macaca – tudo gente diferenciada; tal como a música em causa, soa a si própria. Pérola escondida por entre gente que trabalha muita bem e seriamente cá por cima, para ver a reluzir na margem Sul do Tejo.

Bonaventure (dj set)

Lançando um EP no final do ano passado pela pertinente Planet Mu (RP Boo, Jlin, Mike Paradinas, etc), Bonaventure é o projecto da suíça-congolesa Soraya Lutangu, que parece que agora distribui residência entre a Suíça e Portugal.

No seu disco e nos seus dj sets, faz uma leitura personalizada da pop, do coupé decalé do seu país africano de origem, e de várias quebras rítmicas africanas (onde também há kuduro e kizomba/zouk), cheios de filtros e roupagens mais digitais, hi-fi e urbanóides que começaram a ser partilhadas nas festas Ghetto Gothik por Venus X, Fatima Al Qadiri ou J-Cush há alguns anos. É neste melting pot de dança globalista de timbres sintetizados que nos encontramos nas últimas horas do OUT.FEST deste ano.

 CALHAU!

Difícil neste ponto já conseguir discernir onde começa a individualidade de um e termina a de outro, entre Marta e João von Calhau, das unidades criativas mais interessantes, produtivas, multidisciplinares e criativamente livres da música e das artes portuguesas neste século.

O seu trabalho em som, melodia, palavra, fonética, poesia, performance, pintura, grafia, vídeo, filme, colagem, e coisas que no fundo já só parecem magia (branca), não tem paralelo no meio artístico português. Sempre a procurar algo de novo dentro de um vocabulário muito seu, muitas vezes a partir da desmontagem e reconfiguração do significado da palavra, são eles próprios gente-personagem onde já tudo está positivamente misturado entre os bonecos e a pessoa em som (mas em bom!).

Chão Maior

Formação novíssima com uma data de gente que se tem mantido ocupada e criativa em Lisboa nos últimos anos largos, eis um sexteto liderado por Yaw Tembé (trompete, electrónicas), com Norberto Lobo (guitarra, duh), Leonor Arnaut (voz), João Almeida (trompete), Yuri Antunes (trombone) e Ricardo Martins (bateria).

Convidados não-completamente-às-cegas-mas-quase, com a certeza da qualidade de trabalho dos intervenientes, falaram sobre a sua música como “composições cíclicas que se relacionam com uma espacialidade onde melodia, harmonia e ritmo se realizam em forma de deriva, gravitando em torno de um tempo elástico”.

Deaf Kids

Power trio brasileiro que lançou este ano o seu terceiro álbum, desta feita com a chancela Neurot, da malta dos Neurosis (para os quais têm sido banda de abertura nas várias últimas tournés), que lhes tem permitido chegar a outros circuitos e escalas.

Cruzam vários aspectos do punk hardcore iniciático, várias declinações do metal, e uma tribalização rítmica que é uma versão de hard’n’heavy psicadélico à Sepultura via Motorhead, com uma data de momentos mais para o abstracto, com muito trabalho da cartilha do rock cabeludo cheio de delay. Com o Brasil num estado, mais um, de novas e muito complexas convulsões, os Deaf Kids assumem eles próprios estarem a tentar perceber, através dos seus vocabulários, o que significa ter nascido e crescido num país colonizado. Rockalhada desenhada para as noites da ADAO.

Gabriel Ferrandini e Camerata Musical do Barreiro

Baterista e cada vez mais artista e compositor de méritos próprios, o Gabriel Ferrandini tornou-se galopantemente um dos grandes bateristas e músicos do free jazz e improvisação na Europa em poucos anos, partilhando palco com… quase toda a gente que interessa, e por mérito próprio, sem esquemas. Iniciou também trabalho composto pela sua batuta, particularmente na residência na Galeria Zé dos Bois, de onde se formou o trio Volúpia das Cinzas, com Hernâni Faustino no contrabaixo, e Pedro Sousa no saxofone, que acaba de ver lançado o seu disco de estreia, ‘Volúpias’, pela Clean Feed.

No seguimento disso, da sua recente encenação no Teatro Nacional D. Maria II da sua primeira peça de teatro (!), e do trabalho de residência no Matadero de Madrid, em que apresentou peça para percussão/bateria e um ensemble de sopros, é a vez das cordas no Barreiro, onde a Camerata Musical da cidade vai estar a produzir um novo trabalho com esta luz incessante do panorama musical português.

Kimbo Slice” é o nome da peça trabalhada, em homenagem dupla ao homónimo pugilista bahamiano e a ‘Only the Lonely’ do mestre Sinatra. Trabalho da voz ao abrigo do poeta da nova sarjeta, e figura de proa da essencial editora Cafetra, Miguel Abras.

Mczo & Duke

Tropa de Dar es Salaam, Tanzânia, dois dos proeminentes artistas a sair do que se tem chamado de Singeli, estilo completamente alucinado que corre largas vezes a velocidades acima dos 200bpms. Uma boa década depois de ter chegado a ouvidos ocidentais o epifenómeno sul-africano do Shangaan Electro, através da editora do Uganda, Nyege Nyege Tapes – que produz também um importantíssimo festival na capital Kampala – foi lançada este ano a estreia de Duke, produtor, com ‘Uingizaji Hewa‘. A música soa basicamente a gabber gravado em cassette mas feito num laptop mamado, cheio de shuffles e quebras rítmicas africanas várias, por vezes cruzando com um estilo que o próprio Duke descreve como Hip Hop Singeli, nuns quantos instrumentais mais curtos que se encontram pelo disco.

MCZO é um dos MC’s da comunidade, e vai ser ele o hypeman desta festa de aceleramento descontrolado.

VIEGAS [dj set]

Parte do impressionante colectivo mina, participante nas festas Rabbit Hole e já de há tempo parte da Rádio Quântica, Viegas vem aqui também representar o Barreiro. Nos seu sets viaja-se pela pura festa e por várias latitudes da lascívia de pista.

Alimentando-se de montes de música nova de matriz dançante de todo o mundo, que pulula maioritariamente por circuitos bem paralelos ao que é difundido nos media de jornalista tipo helicóptero, há aqui muito techno, actualizações do uk bass, shuffles afro-caribenhos, zero palha e muita, muita pica.

 Violeta Azevedo

Jovem flautista que começou recentemente a iniciar o seu percurso a solo, depois de vários trabalhos com Jasmim, haraem ou Savage Ohms, e que faz um híbrido ambient entre a composição e a improvisação.

Utilizando a flauta transversal como invulgar despoletador do som de origem, tem uma orquestra de pedais como deve ser com que vai desenhando e polindo timbricamente uma data de imagens lindas e abstractas que remontam a vários momentos do ambient; entre o canónico Eno, à escola Kranky (Windy & Carl, Stars of the Lid, etc), Basinski, mas disse à OUT.RA, em entrevista a propósito da sua recente visita ao Barreiro, que tem como heroína uma das deusas da síntese modular e da library music, Delia Derbyshire – o que faz sentido pelos padrões pulsantes que devem a essa tradição e que a Violeta também aplica nestas suas visões.