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PAUS, À descoberta de paus-brasil

Foi na passada quinta-feira que assistimos a mais uma dádiva da banda lisboeta PAUS, no Musicbox, com a apresentação do EP LXSP, gravado em S. Paulo com a ajuda da Red Bull. Uma noite cheia de energia, garra e suor, como já seria de esperar de um concerto de PAUS.

22:45 e é hora do quarteto subir ao palco. Quem já os assistiu, como é provável para a maior parte do público presente na sala da Rua Cor de Rosa sabe o que é que a casa gasta. Energia e explosão do duo Quim Albergaria e Hélio Morais na bateria siemesa e ritmo assertivo e endiabrado tanto do Makoto Yagyu e Fábio Javelim, no baixo e teclas, respetivamente.

Foram dois os motivos pelos quais PAUS deram este espectáculo. Primeiro, o já referido lançado do EP LXSP, gravado dos estúdios da Red Bull na cidade paulista. Quatro temas que foram elaborados com vários nomes conhecidos do panorama da música brasileira. O outro: os 10 anos de existência da banda. Até parece que foi ontem, mais já há uma década que a banda está na estrada, tendo já publicados 4 álbuns originais, EPs e muitos quilómetros de estrada nas pernas. Passou rápido.

Tal como passou rápido o concerto. Em cerca de uma hora de concerto passaram a pente fino vários temas dos vários álbuns. Desde do homónimo, PAUS passando pelo Clarão, com temas como o Bandeira Branca, ou até mesmo o Mitra, com o Mo People ou o Era Matá-lo, foram vários os temas que não podiam ficar de fora. Também o recente álbum, Madeira, não foi esquecido, tanto com o tema que dá nome ao disco ou ainda o tributo aos que vivem na periferia de Lisboa, L123.

Mas o momento da noite, intercalado por outros temas, coube claro ao EP. LXSP é mais do que um álbum gravado com portugueses e brasileiros. É uma conexão que os fez repensar no seu trabalho, é uma viagem que expande horizontes e procura sonoridades. Graças à influência de Kastrup, produtor musical de vários artistas, inclusive da Elza Soares, vemos uma aproximação a sonoridades mais latinas e recorrendo a vozes como a Maria Beraldo, em Fora de Pé. Ou do talentoso – e que já merece mais uma vinda a Portugal – Dinho, vocalista dos Boogarins, com o Corpo Sem Margem. Embora não tenha estado presente, os seus vocais não foram esquecidos. “Fizemos uma chamada por skype“, brincou Quim.

Nesta viagem transatlântica, também houve espaço para o Memória Afetiva Descolonizada, com a voz de Edgar, longe do Musicbox por estar em França. Um caso de longe mas perto. Mas também o Perdidos em SP, figurou nos temas da noite. Um EP que para além da aproximação dos dois povos também é uma reflexão aos tempos atuais, mais complicados no país da América Latina.

Para despedida, a muito custo, pois podia durar a noite toda, ficou o A Mutante, que é a analogia perfeita para a noite e dedicado aqueles que não param de se transformar. Que é aquilo que os PAUS fizeram. Se reinventaram mas continuam com uma relação afetiva muito próxima ao público. À semelhança de sempre, uma noite para mais tarde recordar.