Concertos Reportagens

Red Fang, Descarga de alta voltagem

No ano que corre tenho vindo a reparar que a prática dos concertos ao Domingo, para além de ser um alento a um bom início de semana, é também um bom ritual que, não sendo religioso, se torna purificante! Isto porque todos os concertos a que tenho assistido aos Domingos têm sido tão grandiosos que estão já a concorrer a concertos do ano. Desta vez falo da passada noite de dia 30 de Junho no Lisboa ao Vivo na companhia de Red Fang e Dollar Llama

O caos de Dollar Llama abria a noite com cerca de 40 minutos de sludge bem esgalhado e trabalhado. Com novo elemento na guitarra (Pedro Lourenço), a monstruosidade e engenho mantém-se e tem vindo a ser aprimorada há já 17 anos, arrastando já uma boa legião de fãs que cria circle pits num abrir e fechar de olhos. Desta vez, Tiago fora para o meio dele. Corpos a passar entre cabeças, suor e alguma excitação desenfreada fizeram parte deste início de trilho com riffs monstruosos e poderosos, uma bateria rápida e feroz e um baixo delineador e compacto.
Das faixas tocadas, só uma não pertencia ao último álbum da banda lançado em Dezembro de 2017 – Juggernaut – a “Grand Union” tocada quase na recta final. “Stagefires”, a encerrar o concerto, deixava todos sedentos e já com algum aquecimento para a descarga de adrenalina que viria a seguir. 

Os americanos Red Fang pisavam o palco dispostos a arrasar um Lisboa ao Vivo cheio. A sua complexidade e densidade mandou-nos, logo nos primeiros minutos, de rojo, uma vaga sonora estridente e corpulenta que quase nos desequilibrou. Para quem nunca os tinha visto (como eu), estavam apresentados e quão bem apresentados! “Blood Like Cream” foi a banda sonora da apresentação e serviu de travo de cafeína e adrenalina até ao final do concerto. Solos mascavados entrelaçados por ondas distorcidas e musculadas embatiam em nós e guiavam o nosso corpo. O headbanging era inevitável e os saltos também. Por diversas vezes, uma jarda sonora vinha em direcção a nós de modo feroz e fazia com que, por segundos, nos faltasse o ar. No final de “Crows in Swine”, Bryan dava as boas noites e que bela noite estava!
O stoner complexo, espesso e compacto passava pelo deserto e ia de rompante até marte como se entrássemos numa corrida de jactos em formato loop emotivo e contagiante. O baixo de Aaron tem um peso de dinamite e pega-nos ao colo durante os embates e a bateria torna-se a nossa maior aliada. Durante a jornada deste concerto a intensidade fora tão grande e tão poderosa que se torna difícil colocar em palavras aquele que foi um caminho de estrondos, explosões e confrontos com sorrisos de serpentes.
O cheiro a Zeppelin, YOB, QOTSA e até Motorhead misturam-se e criam um aroma moderno com capacidade de nos colocar em transe mental enquanto o corpo ganha vida própria e não consegue parar. “Antidote”, “Wires”, “Number Thirteen” e “Dirt Wizard” são exemplos de perfeito êxtase entre o público que se encontrava num caos controlado de crowdsurfing, saltos e suor. Antes do encore, os ânimos elevaram-se, ainda mais, com “Prehistoric Dog” que levou o LAV a entoar em bom som a letra do princípio ao fim. Depois de uma pausa para um breve suspiro de prazer e satisfação, os Red Fang regressam para um encore com “Hank is Dead” e “Throw Up”.

Neste Domingo, houve um preenchimento de qualquer vazio que pudesse existir entre ou em nós. Houve um libertar ânsias e um recebimento de uma energia tão forte que perdurou horas no corpo. Continuo a dizer que seríamos tão mais felizes durante a semana se acordássemos depois de uma jornada completa como esta.