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Preoccupations, a consolidação

Em mais um fim-de-semana de boa música, os canadianos Preoccupations passaram pelo nosso país para dois concertos, em Lisboa (25 de Janeiro) e no Porto (Hard Club, 26 de Janeiro) . A promotora At the Rollercoaster, trouxe até à acolhedora sala de Alvalade, RCA Club, a tour “New Material” do quarteto de Calgary. Depois da digressão americana, é a vez da Europa poder assistir aos concertos que promovem o seu segundo/terceiro longa duração, “New Material”, bem como à consolidação do próprio nome da banda. Levaram algum tempo a distanciar-se do (ex) nome mal afamado “Viet Cong”, que lhes deu os dissabores de tours europeias canceladas e acusações de racismo.

 Desde 2015 que andam a misturar ritmos de forma consistente e, acima de tudo, a introduzir novas sonoridades que podem marcar uma nova linha do pós-punk dos anos 1980. Sendo bastante arrojados nas enredadas batidas da bateria e nos acordes mais curtos do baixo, são cuidadosos na escolha dos ritmos samplados. Aqui conseguem ser menos electrónicos e mais orgânicos, pulverizando com a assimetria melódica da voz de Matt Flegel, que nesta 6ª feira em Lisboa foi melhorando ao longo da sua actuação.

Sem nenhuma referência à banda, o palco estava despido de qualquer identificação, amuleto ou até mesmo alguma sonoplastia mais produzida. Flegel entrou em palco com um copo de vinho tinto (supomos nós) e uma garrafa de água e brindou com o publico, com um “cheers” tímido. O resto da banda encaixou-se nos instrumentos e assim ficou durante uma hora e um quarto de uma actuação vibrante.

Daniel Christianse e Scott Munro intercalavam as guitarras com as teclas, chegando mesmo em alguns temas, a ficarem mais dedicados aos samplers. A movimentação de Scott Munro destacou-se durante todo o concerto, tanto pelo excelente trabalho na distorção da guitarra como na preocupação das afinações técnicas a que teve que recorrer. Intensidade nos temas que se prolongava na densidade das expressões de dor Flegel, principalmente nos últimos. Destaque para o profissionalismo da técnica de som, que não descansou um único minuto durante o concerto, e conseguiu o magnifico feito de apurar o aveludado timbre da voz de Matt Flegel.

Mike Wallace que ficou conhecido por ter tocado um par de concertos só com uma mão e ter estado às portas da morte 5 vezes, (in Consequence of Sound, 2016), esteve em grande nesta noite! Wallace é a prova de que, nem sempre um bom baterista tem que ter muitos e longos anos de batidas, para se destacar entre os seus pares. A ele a destreza corre-lhe nas veias e mesmo com um pequeno percalço técnico, este moço brilhou e mostrou que a bateria é uma continuação do seu próprio corpo. O peitoral desnudo bem musculado na vitalidade de um surfista californiano, é disso exemplo!

Um alinhamento intenso e muito focado no último álbum, mas logo no segundo tema regressaram a Viet Cong (2015) e a uma das suas canções mais conhecidas, “Continental Shelf” e, do álbum homônimo Preoccupations (2016) trouxeram “Zodiac”. Já passávamos o meio do concerto, quando do público saiu uma sugestão dirigida a Flegel para substituir o “café” pelo tinto que em pequenos tragos bebia. Normalmente a ingestão de café provoca energia,  e o que depreendemos desta sugestão, seria que Matt Flegel estaria a precisar de mais aceleração. Eu diria que comparativamente aos outros músicos, sim.

Duas dezenas de músicas seguidas que, mesmo na ausência de encore, foram habilmente esticadas com alguns apontamentos de improviso que revelaram cumplicidade entre os músicos. Uma nova linha do Pós-Punk está a consolidar-se.