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The Cosmic Dead, nas vísceras do cosmos

Os The Cosmic Dead estiveram em Portugal durante a passada semana para uma série de cinco concertos do norte ao centro do país, em festivais e em clubes.

Na sexta dia 20 estiveram no Rodellus Festival em Braga, no dia seguinte no Festival WoodRock, dia 24 passaram pelo Boom Festival e nós encontrámo-los na passada quarta-feira no Musicbox em Lisboa, na penúltima data desta mini tour que terminou no Woodstock 69 no Porto.

Os escoceses que se estrearam em Portugal em Dezembro de 2013 a convite das Cartaxo Sessions têm sido desde então uma presença assídua, seja em festivais ou clubes quase todos os anos; (Cartaxo Sessions, Reverence Valada, Woodrock Festival, Milhões de Festa, Sonicblast Moledo, Plano B, Sabotage Club, Music Box) apresentaram-se desta vez com uma formação renovada após a saída de Julian e Lewis no passado mês de Maio, naquilo que Lewis reportou no site da banda como um acto de auto-imolação metafórico. A bateria passou para as mãos de Tommy Duffin e Russel Gray tomou conta do sintetizador.

20180726 - The Cosmic Dead @ Musicbox

Os The Cosmic Dead que se auto-intitulam ironicamente como “a melhor banda de tributo aos Hawkwind”, concretizaram algo maior e muito distinto do que é uma banda de tributo. Se pesquisarmos um pouco quanto às suas preferências musicais e sobre aquilo que os influenciou e influência, é certo que encontramos no meio de tudo os Hawkwind, mas a chama dos Cosmic Dead não se extingue aí, muito pelo contrário.

A repetição é de facto o seu mantra, perdoem-me a quase redundância. Mas se a repetição ritmica das suas músicas é um facto, no lado oposto dessa repetição ritmica está a inesperada forma como cada concerto é vivido e o concerto desta noite não foi uma excepção.

Os rapazes de Glasgow entraram em palco alguns minutos depois das 22:30, começaram devagar, manipularam o ritmo que se entranhava na nossa circulação e aumentou exponencialmente a frequência cardiaca, até que a bateria entra realmente no meio da acção para despoletar a ascencendência de um ritmo que durou quase dez minutos sem nunca se esgotar até iniciarem uma espiral desenfreada de distorção rápida e feroz. Vinte minutos de concerto que passaram num ápice, invisíveis. James McKay informa-nos que na noite anterior tinham um lema e que hoje também tem um para nos transmitir; “We are all one!” e repete-o várias vezes para que não exista qualquer equívoco. A  segunda música avança por entre os gritos de incitação a que a audiência se manifeste, “Enjoy your life!” clamam. O tempo parece parar mas continua a desaparecer por entre os nossos dedos à medida que a segunda música toma cada vez mais corpo na cadência hipnótica do baixo de Omar Aborida, a velocidade e a repetição aceleram até se transformarem num loop vertiginoso e estridente, e algures no meio do crescendo Russel agarra no microfone e grita, um grito que vem das mais profundas entranhas do seu ser, que nasce no meio de si como que para nos libertar a todos de tudo. Tenta descer do palco, desce do palco, circula pela plateia incitando toda a gente a que se liberte, James McKay acaba por descer também para o meio do público que rejubila no meio daquela comunhão inesperada e desejada.

20180726 - The Cosmic Dead @ Musicbox

Do principio ao fim, todo o concerto dos Cosmic Dead pautou-se por uma entrega muito para lá do razoável.

Nada do que se passou era reconhecível aos nossos ouvidos. Há uma razão plausível para isso. As quatro músicas apresentadas foram escritas entre 2 e 4 de Julho, e os seus nomes poderão ainda não ser definitivos segundo Russel Gray, teclista desde Maio deste ano, o que apenas aumenta a expectativa para a concretização material do próximo registo dos The Cosmic Dead. A saber; Portal, The Scottish Space Race, Unity Jam Function e The Grizzard.

Aconselha-se o consumo da discografia completa como forma de compreensão do cosmos enquanto aguardamos ansiosamente o novo álbum dos Cosmic Dead.

 

Texto – Isabel Maria
Fotografia – Daniel Jesus