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Julie Byrne, um bálsamo de levitação

O seu segundo álbum “Not Even Happiness” de 2017, teve os maiores elogios da crítica e foi considerado pela Pitchfork um dos melhores 50 álbuns do ano. A doce jovem norte-americana Julie Byrne esteve em Portugal pela primeira vez na semana passada, e encantou quem teve o privilégio de a ouvir, em Faro, Lisboa e Braga. Em Lisboa foi dia 15 de Junho no magnífico Teatro da Trindade, num concerto promovido pela Galeria Zé dos Bois.

Assuntos futebolísticos à parte, às 21h30m a sala do Teatro da Trindade não estava cheia, mas no final da terceira música encheu. Desde a primeira música, “Sleepwalker”, que Julie Byrne controlou a respiração da sala. Uma delicadeza sublime no recostar da cadeira, no levantar a guitarra e a colocar no colo. No esticar dos longos dedos da mão esquerda antes de os deslizar nas cordas da velha guitarra do seu pai. No segundo tema chamou os dois músicos que a acompanham, Dan Bridgwood-Hill no violino e Taryn Blake Miller nas teclas. “Follow My Voice”, seguido de “Morning Dove”, remetendo-nos para um caminhar lento sob a floresta encantada, As teclas conseguiam reproduzir a corrente serena do rio e o violino o chilrear dos troncos das árvores, “I went out walking in the wood / By a river wich never sleeps / All I bare all I sieve / I thought of you so presently”. Magnifico.

Julie fez pausas em cada tema, musicando um “Thank you so much” no final de cada aplauso efusivo. Confidenciou-nos estórias da sua jovem vida e, apesar da profissionalização da música ter sido uma escolha recente, Julie Byrne compõem e canta há anos suficientes para ser considerada uma das canta-autoras mais promissoras da América. “Sea as it Glides” ou “Melting Grid”, em que a sua respiração fazia o compasso de mais uma nota meticulosamente trabalhada.

Finalmente “Natural Blue”, pedido a pouco mais do início do concerto por uma das pessoas do público. Julie ouvia-nos e respondia com um sorriso sincero, capaz de conquistar todas as adversidades do mundo. Voz quente e doce, num grave melódico que nos fazia fechar os olhos para que melhor a ouvíssemos. Saída de palco, em passos de levitação num vestido comprido campestre e angelical. Julie e os seus músicos regressaram ao palco e, a seu pedido, a luz sobre ela ficou mais ténue envolvendo-a numa áurea transcendente. Sem guitarra, de costas direitas e pálpebras grandes luzidias, concentrou-se apenas na sua voz e deixou-a ao som do violino e das teclas, “I Live Now”.

Uma dezena de magnificas composições, a sua maioria do último álbum. O afinar da velha guitarra (1969), enquanto nos dizia que tinha que regressar a Lisboa para a conhecer melhor. Julie Byrne é uma compositora poética, com uma maturidade lírica fora do comum. Toca com “uma afinação aberta” e deixa qualquer sala de espetáculos bafejada de um perfume balsâmico, provocando uma espécie de levitação terrena.

Pudemos ainda encontrar todo o merchandising, CD´s, EP´s e posters no hall do teatro. A Julie fez questão de lá estar pessoalmente. Saí do teatro com aquela sensação de leveza, com o sorriso pendurado na cara e a alma oxigenada de felicidade.

 

Texto – Carla Sancho
Fotografia – João Rebelo