Concertos

“Umbra” o novo álbum de Indignu apresentado no Musicbox Lisboa

Passado um ano sobre o fecho da tour de Ophelia, terceiro álbum de originais da banda de Barcelos, regressam a Lisboa com o último trabalho discográfico, Umbra. Foi definitivamente um privilégio Lisboa ter sido agraciada pelo primeiro de dois concertos nacionais de apresentação de Umbra. Por alturas da Páscoa “Marcha sob Marte”, primeiro das seis faixas, foi dada a conhecer nas redes sociais e aguçou o apetite para as restantes. Há cerca de 2 semanas, somos surpreendidos com mais um tema do álbum, e desta feita com canto, algo não muito comum em Indignu. Pela poesia e voz magnífica de Manuel Cruz “ Nem só das cinzas se renasce”, canção dedicada às vítimas dos incêndios de 2017.

Uma sexta-feira recheada de concertos, tanto no Musicbox como noutros locais da capital, ajudaram a que o público se dispersasse. Mas pouco passava das 22h30m e os cinco magníficos vestidos de negro, ajeitaram-se aos instrumentos e convidaram-nos a viajar na “parte mais negra da sombra”, “Umbra”.

O violino de Graça Carvalho colocou-se ao centro, tomando as rédeas da marcha. O som arrojado das cordas da guitarra de Afonso Dorido, desbravavam com altivez, numa provocação sinergética. A guitarra e o baixo saíram da penumbra e, numa força estonteante puxaram a bateria. Uma marcha imensa, que nos provocou suores gélidos na levitação do cosmos. “Santhiago do Schiele” (Ophelia, 2016) quase que colou com “Marcha sob Marte”. Um registo diferente mas não menos transcendente, onde a bateria e os acordes mais austeros da guitarra iniciam a música. Graça aproximou-me do micro e partilhou o quanto importante era para a banda esta noite.

“Umbra” era a razão da noite, e foram desvendando as novas sonoridades do novo CD. Um registo mais clássico surgiu em dois temas arrebatadores, “Foi em Outubro” e “A distância não nos leva a saudade”, onde a primazia do piano é organicamente introduzida.

“Nem só das cinzas se renasce”, onde a batida repetida da bateria nos remete para os sinos de uma igreja que toca a despedida daqueles que virão a vida colhida pelas chamas dos últimos incêndios. O poema e a voz de Manuel Cruz não estiveram nesta noite, e pela primeira vez ouvimos na versão instrumental. Um colosso.

Quase a aproximar-se do final, Afonso Dorido toca a guitarra com uma entrega e emoção incríveis. “Levitação do Sahara”, um rasgo muito rockeiro onde as guitarras entram num despique alucinante, e a bateria acompanha na energia. O violino entra no final, quando tudo parece mais calmo. A magnifica Ana Deus dá poesia e voz a este tema no CD.

A música de Indignú é a pureza do violino numa guitarra distorcida, que se rende à dureza de um baixo com uma batida esbatida. De quando em vez um piano que nos pede, “levem-nos mais alto!” Um concerto desta banda é uma viagem pelas subtilezas do universo, é o desvendar de buracos negros numa tristeza que nos faz feliz. “Umbra” é uma viragem da banda, sem dúvida. Dos ritmos mais distorcidos e sombrios das guitarras, surgiram estrofes mais melodiosas, que levitam no compasso encantado das teclas do piano. O violino, esse canto de sereia deliciosamente triste, domina sempre o rumo das viagens. Estará nas lojas muito em breve, mas já o podemos ouvir nas plataformas digitais de música.

Indignu tocou no Passos Manuel no Porto no dia seguinte.

Texto – Carla Sancho
Fotografia – João Rebelo