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The Parkinsons, na liberdade de The Shape of Nothing to Come

Poderia estar na agenda oficial das comemorações do 44º aniversário do 25 de Abril. Aliás, não existiu certamente, um evento comemorativo que representasse tão bem o conceito da revolução dos cravos – a Liberdade!

A juntar a toda a parafernália de músicas de intervenção, das cerimonias solenes na Praça do Comércio e no Palácio de S. Bento, o Titanic Sur Mer abriu as portas àquela que é a banda mais enérgica e festiva de sempre – The Parkinsons! O propósito foi o lançamento do novo álbum, The Shape of Nothing to Come, gravado nos Estúdios Blues House (Coimbra) e editado pela Rastilho Records. O álbum está à venda desde 27 de Abril, e promete ser mais um êxito da banda coimbrense. Passados 16 anos de A Long Way to Nowhere, que foi editado em vinil o ano passado e que deu o nome do filme-documentário estreado na penúltima edição do Festival de Cinema Independente Indie Lisboa, os The Parkinsons regressam com mais um par de temas fieis à sua irreverência metafórica e batidas punk-rock assertivas.

Com a sala ainda a meio gás, a banda da margem sul (Seixal) Moon Preachers abriu as hostes “a dar gazada” num reportório composto por A Free Spirit Death, álbum lançado em Fevereiro último. Já passava das 23 horas quando a banda de Afonso Pinto, Vitor Torpedo e Pedro Chau subiram ao palco do Titanic para o “afundar” de energia. Um “boa noite Porto” foi o mote para um concerto memorável, que deixou os 44 anos do dia da Liberdade para a posteridade. City of Nothing logo a abrir, fazendo a delícia dos fãs que se aproximavam do palco numa massa conjunta de saltos e gritos em uníssono. Entre as músicas Afonso sacudia o alinhamento e avisava que, como não são uma banda “profissional”, tinha que ver o que se seguia.  A “temática das músicas novas” foi recorrente ao longo do tempestuoso concerto, como o tema de lançamento See no Evil, Bad Wolf (quem será o lobo maú?) ou Numb (“it doesn’t matter at all”). Mas pouco importou aos fãs as músicas novas ou as antigas, essa diferença pouco ou nada se fez sentir na entrega entusiástica do público aos gestos provocadores de Afonso.

 

Uma festa gigante, onde a liberdade foi manifestada na sua verdadeira plenitude! Cervejas pelo ar, crowd surfing quanto baste, fita-cola enrolada na cabeça e pendurada pelo pescoço (Afonso), fitas da guitarra rebentadas (Torpedo), micro-fones desencaixados, pratos da bateria soltos. Nem o lustre pendurado no tecto resistiu ao turbilhão da noite.

Uma actuação dos The Parkinsons não é um concerto, é uma experiência sensorial! O sorriso permanente do Vitor Torpedo é o reflexo dos nossos próprios sorrisos, é impossível alguém deixar de o fazer. A boa disposição é extraordinariamente contagiante! Liberdade do público que subia ao palco, dançava, cantava e tocava os instrumentos dos músicos quando e como quis. Entre as 4 vozes que acompanhavam a de Afonso, destacava-se uma outra por vezes fora do ritmo e mais arrastada, era Kazuza. Uma figura emblemática da cidade de Coimbra (quem não se lembra?!) que os acompanha já da época dos Tédio Boys. Um pouco afastado a maioria parte do concerto, colocou-se perto de Torpedo e compôs o ramalhete, gritando “O Xutos e Pontapés no Seixal!”

Mas o sucesso dos The Parkinsons não se deve somente às suas actuações memoráveis. O trabalho de composição de cada tema remete-os à melhor banda punk-rock da actualidade. “The Shape of Nothing to Come” é um álbum mais melodioso, com ritmos sincronizados num diálogo mais fluido entre os instrumentos. Uma maior expressividade das teclas que torna o rendilhado da partitura mais solto e com um maior equilíbrio sonoro.

O 25 de Abril não poderia ter tido uma comemoração mais assertiva, os The Parkinsons são os verdadeiros filhos da liberdade!

 

Texto – Carla Sancho
Fotografia – Nuno Cruz