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The Parkinsons, O caos saudável de que todos precisamos

Os The Parkinsons são uma das melhores, se não a melhor, bandas de punk da actualidade no panorama português. Em palco, mantém, a energia electrizante de quando eram mais novos e a condição, inerte a eles próprios, de prender e viciar qualquer pessoa. Festa, loucura, caos e muita adrenalina! Dá vontade de saltar para cima do palco e com eles lá ficar. No âmbito do seu regresso ao Popular Alvalade pela 6ª edição do Infected Fest, o Música em DX esteve à conversa com o Pedro Chau (baixista) e o Victor Torpedo (guitarra e voz).

Música em DX (MDX) – Contem-me como foram estes 17 anos.

Pedro Chau (Chau) – Acho que todos temos feito coisas diferentes ao longo deste tempo, a banda apesar de ter 17 anos, parou e voltou a tocar em 2012 com o álbum Back to Life, mas tivemos muitos anos sem gravar nada e sem tocar. Eu e o Victor tivemos os Blood Safari, o Afonso os Johnny Throttle e depois viemos para Portugal e anos depois o Victor dedicou-se aos projectos dele e eu aos meus. Os Parkinsons acabaram em 2005 e só depois em 2010 voltamos a tocar juntos, acho que tivemos 2 concertos de reunião no intermédio. E foi isso.

MDX – Mas acham que estes anos todos foram um longo caminho para lado nenhum?

Chau – Nunca é para lado nenhum, mesmo que não saibamos onde vamos parar. O caminho é sempre seguir em frente, mas agora acho que caminhamos de uma forma mais descontraída.

Victor Torpedo (Victor) – Os Parkinsons são quase como um grupo de reabilitação, cada dia vamos vendo o que é que acontece e o que é que se passa. É por objectivos e é por bateristas!

MDX – Este regresso em 2012 trouxe-vos mais força e maturidade?

Chau – Maduros sim! E mais descontraídos.

Victor – Se calhar mais tolerantes. A maturidade tem mais a ver com a tolerância, acho que não estamos tão ansiosos perante as situações. Nos primeiros anos sofremos muito aquela ansiedade que as bandas têm, porque estás habituado a tocar muito e às vezes pensamos que a coisa mais importante do mundo são as próprias bandas e quando perdemos uma situação pensam que o mundo acaba, mas não.

Chau – Eu acho que tocamos menos vezes mas desde 2012 que os concertos têm sido excelentes em Portugal. Temos ido a Inglaterra todos os anos, até mais que uma vez, e acho que os concertos agora são tão bons ou melhores do que antigamente.

MDX – O que é que vos trouxe a experiência de viver em Londres enquanto músicos e enquanto pessoas?

Chau – Epah trouxe-nos o que aqui era impossível termos. Estávamos num circuito ligado ao rock’n’roll, Londres tem tantos clubes que da para fazer uma tour só em Londres, a dimensão é outra, a cultura também é outra. Não estou a relativizar o que aqui se passa, porque estamos satisfeitos, mas foi uma experiência excelente! De repente vimo-nos no meio de festivais a tocar com bandas que admirávamos, o que para nós era impensável.

Victor – Em termos pessoais foi o nosso crescimento, a nossa mudança de teenager para homenzinhos. Tivemos de nos safar, foi uma evolução em termos pessoais, não só em termos de banda. Por isso é que qualquer cidade como Londres alimenta grandes bandas… o Nick Cave não era ninguém se não tivesse ido para Londres, por exemplo. É engraçado fazermos parte desse núcleo. Vejo nos Cavemen da Nova Zelândia a mesma coisa que vivemos, aquela energia e aquela loucura.

Chau – Eu acho que era raro conhecermos alguém que fosse mesmo de Londres, a maioria dos nossos amigos eram de bandas e cruzavam-se ali muitos países.

MDX – Dizias há pouco que tiveram oportunidade de tocar com bandas que admiravam. Como por exemplo?

Chau – Acho que são bandas que já nem existem, mas por exemplo Suicide, Jon Spencer Blues Explosion, The Damned, The Fall.

MDX – Querem falar-me um pouco das noites dos vossos concertos por lá?

Chau – O Victor e o Afonso é que podem falar melhor… eu estava cá atrás sempre quietinho a tocar baixo, às vezes não via nada. Mas era uma loucura, éramos um pouco selvagens, o Victor ainda é! Quando fomos para Londres, uma das ideias do Victor era tocarmos sempre todos nus.

Victor – Não aconteceu porque eram todos uns betinhos, claro. No primeiro ensaio que fizemos estávamos todos nus e foi lá o gajo do estúdio e passou-se um bocadinho.

MDX – Não querem partilhar uma destas histórias que vos tenha marcado mais?

Victor – Houve tantas que é um pouco difícil. Mas, vou contar uma no 1,2,3,4, um clube mesmo no centro de Londres, a uma sexta-feira. Quando chegamos ainda estavam a montar tudo e eu como trabalhava na fábrica, ao fim de semana estava mais cansado e com menos vontade de aturar algumas pessoas. Eu e o Afonso chegamos lá à tarde para fazer o som e estava lá a primeira banda, que era tipo glam metal com camisas de folhos, a pensar que vinham de LA. Como naquela altura tínhamos pouco material eu pedi-lhes se podia tocar com o amplificador deles e os gajos começaram a rir-se no gozo e eu bati na banda toda, agarrei o guitarrista principal pelos colarinhos e disse-lhe “se à noite não tiver aqui o amplificador, quando tiveres a tocar levas uma malha e eu parto isto tudo” e quando chegou à noite tinha lá o amplificador. Entrei logo nu em palco e nem me preocupei em tocar… fazia um acorde e dava um pontapé no amplificador e o gajo à frente a olhar. Depois o Afonso agarrou-se a uma cena dos cabos e a electricidade foi a baixo, o concerto esteve parado um bocado e depois acabou o concerto, eu ainda estava todo nu. O homem do som não queria pagar porque nós destruíamos sempre os microfones todos. Nessa noite, eu disse que nós ficávamos sem o dinheiro mas com o microfone, que nem estava partido, era só a cabeça que estava amolgada e ele começou a gritar a dizer que não e ele era maior que eu mas eu decidi acabar com a conversa a mandar-lhe um murro e começou outra vez uma cena de porrada e fui expulso. Era inverno e eu estava lá fora todo nu, não me deixavam entrar e passei um bocadinho mal cá fora até que a minha namorada veio com a roupa e eles ficaram lá a curtir e eu fui-me embora.

Chau – Se puderem vejam o documentário da Caroline Richards, “A long Way To Nowhere – The Parkinsons Story”,  que ela é a pessoa mais adequada para se lembrar de mais histórias nossas.

Em Nothing Hill também foi giro. Nós tínhamos sempre um bando de seguidores portugueses que andavam sempre connosco, como o Pedro Calhau, por exemplo. O que aconteceu foi que foram todos expulsos do clube, acho que esse concerto foi selvagem demais. Lembro-me de que parti um pouco da parede. O Calhau ficou inconsciente, caiu no público, levaram-no ao colo todo nu. O Afonso tirou o cinto e começou a bater no baterista… O calhau parecia o Jesus Cristo a ser transportado para fora do clube e a ser entrevistado completamente bêbedo, quase inconsciente. Vocês têm de ver, está lá no documentário, vai sair em DVD em 2018.

MDX – E para quando um álbum novo?

Chau – Em princípio para o ano, se tudo correr bem.

MDX – E para o Infected Fest, o que estão a preparar?

Chau – Vamos voltar ao Popular, onde já tocamos a tarde e vai ser óptimo voltar lá. Vamos tentar portar-nos bem.

Os The Parkinsons fecham o terceiro e último dia de festival (dia 4) e vos garanto que vai ser inesquecível, como todos os concertos que dão. Se dúvidas havia em ir ao Infected, que não haja mais!

Entrevista – Eliana Berto