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Lucky Chops, do metro de Nova Iorque para o palco do Lisboa ao Vivo

A história dos Lucky Chops é reveladora do quanto as coisas mudaram no reino da música e ajuda também na perceção da dimensão do poder da Internet. E nem é preciso grandes floreados para a contar, basta incluir uma banda que toca no metro e um turista sul-americano. Assim de repente, e com estes dois elementos, dificilmente alguém conseguiria prever que seria possível fazer com que um projeto que tocasse no metro de Nova Iorque poderia, em pouco tempo, estar a tocar, primeiro, em grandes clubes da Big Apple e, depois, em salas por toda a Europa, por via de digressões bem-sucedidas e marcadas por fortes aplausos vindos das diferentes plateias que foram encontrando. Bom, mas como é que uma banda que toca no metro de Nova Iorque e um turista sul-americano podem ser uma combinação para o sucesso? É simples de se explicar aos olhos da atualidade. O tal turista faz um vídeo, com o seu telemóvel, dos Lucky Chops a atuar no metro de Nova Iorque. Coloca-o nas redes sociais e… ele torna-se viral, criando em vários pontos do planeta o desejo de ver a banda ao vivo.

Formada por cinco elementos – um baterista (Charles Sams) e uma secção de metais composta pelos outros quatro (Josh Holcomb, Daro Behroozi, Joshua Gawel e Raphael Buyo) –, todos eles vestidos com cores vivas e alegres, os Lucky Chops misturam diversos géneros musicais e um reportório – com alguns originais, mas dominado pelas covers – bastante variado. O ponto comum em toda esta “salada russa” é o facto de as suas atuações resultarem num ambiente festivo, com uma energia enorme a ser transmitida a partir do palco. Contribui também para isso as enérgicas, mas pouco elaboradas, coreografias desenvolvidas pelos músicos e a muita simpatia vinda dos nova-iorquinos. As covers abrangem coisas tão diferentes como Beatles, Adele ou Ariana Grande, tudo enfiado na espécie de bimby que são os Lucky Chop, para que de lá saia uma refeição recheada de festa e boas sensações. A verdade é que tudo se mistura num cocktail de cor e diversão.

Na sexta-feira, dia 3 de março, a sala Lisboa ao Vivo encontrava-se muito bem preenchida para receber estes que foram os reis da folia na capital durante cerca de hora e meia. Todos contavam com uma noite animada e cheia de energia e todos saíram com a sensação de que dificilmente nos próximos tempos terão uma experiência tão festiva como a desta noite. Não foi assim de admirar o facto de Daro Behroozi, principal responsável pela comunicação com o público, usar, e abusar, da palavra “party”. Ele que também se fartou de elogiar Portugal, lembrando que esta era a primeira vez que atuavam no nosso país e logo no culminar de uma digressão pela Europa que dura há um ano – os concertos de Lisboa e, no dia seguinte, do Porto foram as últimas duas datas antes do regresso a casa e à sua Nova Iorque. Aliás, um dos pontos interessantes deste projeto é o facto dele arrastar consigo algum do brilho e colorido da cidade americana.

O concerto arranca com um “olá Lisboa, tudo bem everybody?”, dito por Daro Behroozi. Todo o espetáculo foi marcado por este tipo de frases – muitas vezes misturando português com inglês –, em que se pretendia agradecer ao público – “obrigado Portugal” foi o mais ouvido – e puxar por este para a festa que já ia acontecendo em cima do palco. Foi constante o solicitar de palmas, de la la las, e de outras iniciativas como a divisão da sala em duas partes para ora cantar uma ora cantar a outra, o pedido para que os presentes se baixassem todos e depois se levantassem ao mesmo tempo em grande clima de festa, ou ainda para que acendessem as luzes dos telemóveis. Assistiu-se assim ao desfilar de um ritmo contagiante, que se arrastou a quem marcava presença na sala lisboeta. Destaque para Charles Sams, um baterista muito evoluído tecnicamente e que se exibiu em excelente forma – e que recorria a orelhudos solos de bateria para que os restantes membros da banda pudessem descansar – e para o enorme instrumento de seu nome Sousafone, tocado por Raphael Buyo e que deixava no ar a seguinte questão: mas como é que ele aguenta aquele peso todo em cima dele?

Dos temas tocados, destaque para “Coco”, um tema original da banda, “Helter Skelter” dos Beatles, “Danza Kuduro” popularizada por Lucenzo, “Eye of the Tigerdos Survivor, “Problem” de Ariana Grande e a popularíssima “Stand By Me”. Por terem uma sonoridade muito própria, muitas vezes demorava algum tempo até que se percebesse de que tema é que estavam a fazer uma versão. Os originais de outros são sem dúvida arrastados para o universo deste projeto. No final, o público estava satisfeito, mas não deixou de pedir à banda que regressasse ao palco antes de partir em direção ao Porto, o que ela cumpriu com toda a boa-disposição. Antes de viajarem para os camarins, assumiram-se em definitivo como sendo um fenómeno das redes sociais, tirando uma série de selfies, tendo o público como fundo, e com o pedido para que partilhassem as fotos que foram tirando durante o concerto. Terminada a atuação, fica a sensação de que se assistiu a um espetáculo diferente do habitual e com muita festa, mas com o uso intensivo e forte dos metais a deixar uma certa sensação de repetição.

O caso dos Lucky Chops deixa-nos a pensar nos muitos músicos de qualidade que vamos encontrando nos metros de todo o mundo e no quanto eles também mereciam ser reconhecidos, de ter a possibilidade de realizar concertos com todas as condições e de serem aplaudidos por um público que não está ali por acaso, ou de passagem, e que faz questão de os ouvir e com eles vibrar. Já sabem, a partir de agora ouvidos atentos sempre que encontrarem alguém a tocar no metro ou na rua… não se esqueçam é de fazer um vídeo e de o colocar nas redes sociais. Partilhem com o mundo a vossa descoberta.

 

Texto – João Catarino
Fotografia – Ana Pereira
Promotor – UGURU