No dia 8 de Fevereiro aconteceu no RCA, em Lisboa, a segunda parte da dupla estreia dos suíços Monkey3 em Portugal, que foram excelentemente secundados pelos portugueses Miss Lava e It Was the Elf em Lisboa, e, pelos Astrodome no Porto.
Há que salientar que ter três concertos a uma quarta feira tem o seu quê de ambicioso. O que é bom. Ser ambicioso é bom quando se trata de almejar uma boa organização que torne confortável a concretização dos concertos e desenvolva a confiança do público que sabe que não será defraudado nestas questões de horários versus qualidade.
É importante para as pessoas que pagaram para ver as bandas, pelas mais diversas razões. Houve alguns que sairam dos seus trabalhos e nem jantaram para ali estar a horas, outros houve que aproveitaram o concerto para um jantar com amigos, outros chegaram mais tarde porque mais cedo nem sempre é possível. E essa acaba por ser a grande magia que torna estes momentos em algo memorável. É bom ver horários a serem cumpridos por muito rock n roll que haja aqui!
Sem grandes cerimónias ou efeitos os portugueses It Was The Elf, que editaram em 2016 o seu primeiro álbum, Fire Green, entraram em palco por volta das 21h40. Entraram com garra e conscientes de qual o seu papel na engrenagem daquela noite, dar-se a conhecer e causar a melhor impressão a quem não conhece. À terceira música o público apesar de não conhecer os temas rende-se à evidência destes rapazes que bem souberam mostrar que sabiam ao que vinham.
Os It Was The Elf, naturais de Gouveia, conseguem uma boa transposição do som do deserto para as montanhas de onde são naturais. Consegue sentir-se na sua sonoridade o calor mais característico que emana das sonoridades stoner, mas também travo mais fresco. Aconselhável a audição aqueles que apreciam o stoner, mais cru e com uma distorção pesada como uma tarde de sol na montanha em pleno verão. When Beasts Collide e The Mountain’s Elder encerram o concerto dos It Was the Elf que foram muito bem recebidos pelo público nos seus cerca de 40 minutos de concerto. Uma boa escolha para um equilíbrio sonoro entre as bandas ou um bom contra peso em relação ao stoner rock mais directo dos Miss Lava ou em relação aos som mais contemplativo dos Monkey3.
Os Miss Lava quase dispensam apresentações. São presença regular no circuito do stoner rock português desde o seu primeiro álbum de 2009, e quem já os viu, sabe bem o que são os seus concertos. Apesar de terem sofrido uma baixa de peso, Cuca por motivos de saúde não pôde sentar-se atrás da bateria, há que dizer que a performance destes não sofreu alguma coisa de especial com esta quebra da sua hegemonia, até porque os próprios fizeram questão de salientar, Emilio Salas com quem contaram na bateria, é também ele um amigo, e a presença de Cuca no concerto, embalado nas suas muletas, trouxeram momentos que demonstram toda a cumplicidade que os caracteriza até mesmo neste pequeno percalço. Essas coisas notam-se, nas letras e nas músicas e nas próprias performances, repletas de cumplicidade.
Um rock directo, cheio, cúmplice do seu público, fiel e expressivo nas emoções que pretende transmitir. É isso que os Miss Lava nos trazem. Elevam assim o ritmo e o batimento cardíaco dos presentes. Que gostam, correspondem, cantam, seguem as palmas e os pedidos da banda. E os Miss Lava não desarmam e durante cerca de 50 minutos revisitam os três álbuns. Another Beast Is Born, The Silent Ghost of Doom, Black Rainbows ou Fangs of Venom e In the Arms of the Freaks. Ao cabo de cerca de 50 minutos de concerto despedem-se com Planet Darkness e a habitual ovação do público que já os conhece há algum tempo e nunca dará o seu tempo como perdido a estes simpáticos e extrovertidos rapazes cheios de rock na guelra.
Os Monkey3 criaram uma expectativa razoável no publico que os esperava para ouvir o seu mais recente álbum Astra Symmetry, e os ecos do concerto da noite anterior no Porto auguravam tudo de bom para a prestação destes.
A entrada algo dramática com as projecções na bateria e no palco ao som de “The Water Bearer” e “Crossroads” do albúm “Astra Symetry” mostraram logo que tudo o que aqui se iria ver estava planeado de forma meticulosa. Desde as imagens selecionadas para as projecções ao alinhamento. E o facto é que à primeira música o público estava rendido. Os Monkey3 cumpriam de facto e à primeira música, aquilo que se esperou deles.
É com toda a certeza concebível um concerto deste quarteto suíço sem essas imagens mas na verdade não creio que seja tão completo. A sonoridade contemplativa apesar de ser bastante apelativa para quem aprecia o género, torna-se muito mais rica com uma componente visual à altura. Nessas mesmas imagens todo um imaginário ligado ao espaço e às máquinas que nos deram essas mesmas imagens do espaço, mas também flores a desabrochar e a crescer, florestas a perder de vista ou mesmo visões de seres bizarros.
Um mundo do fim do mundo com explosões e cogumelos atómicos, uma redenção pela tecnologia ou erradicação da mesma dando lugar a imagens do globo terrestre e do espaço.
“The Birth Of Venus” foi excelentemente secundada pelas imagens que se sucediam vertiginosas, quer fosse de flores a desabrochar a sucessivamente, quer de bombas atómicas a explodir, ou seres humanos a gravitar no espaço, a verdade é que naquele momento tudo faz sentido.
A inesperada versão de “Numb” dos Archive, saída de Undercover, primeiro álbum de 2009, foi um dos melhores momentos a nível de interpretação e demonstrativo do peso que estes rapazes podem ter.
Além de todos os momentos contemplativos, densos e consistentes, uma espantosa apresentação de “Moon”, onde o teclista JD, sai da penumbra da parte lateral do palco e assume o protagonismo no solo de guitarra.
“Icarus” já na parte final do concerto, fazia prever um encore, que veio a acontecer, tanto por pedido do público como por próprio gozo da banda que se nota gostar bastante daquilo que ali fez, e os Monkey 3 aproveitaram para relembrar uma música que se tem mantido no seu alinhamento desde que saiu em 2013, e que terminou o concerto da melhor forma possível, “Trough the Desert”.
Haveria muito mais por ouvir, e se os Monkey3 quisessem tocar a discografia completa, muito poucos arredariam pé e todos ficassem pediriam encore. A execução técnica bastante boa faz com que a transposição do som de estúdio sofra muito pouco para o palco.
A todos, soube a pouco os cerca de 90 minutos de concerto. Esperamos voltar a vê-los em breve por cá!
Texto – Isabel Maria
Fotografia – Nuno Cruz
Promotor – Garboyl Lives