2016 Festivais Reportagens VOA Heavy Rock

VOA Fest dia 1, Maldita Redenção

O final demolidor de Deliverance trouxe duas conclusões a quem assistia aos Opeth na Quinta do Marialva – sim, a banda sueca ainda é capaz de assinar grandes concertos em território nacional e sim, este festival tem mesmo pernas para andar. Num primeiro dia marcado também pelo tímido retorno dos Katatonia e pela conexão profunda que os Anathema têm com o público luso, o agora VOA Fest deu os seus seguros primeiros passos para se fixar no panorama do Metal em Portugal.

A história tem todas as componentes de uma boa bronca. Organização anuncia a mudança de localização do festival, de Vagos para Corroios, forçando também a alteração do nome do mesmo. Segue-se um imenso bruáá adverso a esta medida, com infindáveis discussões, lavagens de roupa suja na pública arena virtual e outras tantas manifestações na Internet. Parte tem curiosidade em ver se o novo formato do festival vingará, outra quer vê-lo falhar redondamente. Como nas boas conversas de café, eclipsa-se aqui que é mais importante de discutir.

Convém dizê-lo, o autor deste artigo nunca chegou a ir às edições organizadas em Vagos, o que, se por um lado lhe retira algum discernimento e capacidade crítica para avaliar esta alteração, por outro livra-o de bagagem emocional e de potenciais laivos de ressentimento que muitos festivaleiros sentiram com a migração para Corroios. Sendo inegável que perdeu algum bucolismo que caracteriza os festivais afastados de meios urbanos, o VOA tem na Quinta do Marialva um bom pousio que, não obstante algumas deficiências como a falta de sombra, tem condições para perdurar nos anos vindouros.

Ultrapassadas as considerações mais acessórias, falemos do que interessa. Não tendo sido possível assistir a Dark Oath, Adimiron e Mantar, foram os Katatonia o nosso primeiro contacto com música em Corroios. De volta a Portugal depois de passarem por Guimarães em 2011, aos suecos calhou a fava de tocarem a uma hora quando sol ainda brilhava com intensidade sobre o palco, demasiada até. Não é que o seu Metal soturno não valha por si só, pois a sua qualidade é inegável, mas o calor entorpecedor, aliado a uma série de problemas técnicos e a um som enlameado, prejudicou uma atuação que resultaria muito melhor sob o manto da noite. Um concerto de Katatonia quer-se com o lamento de temas como Deliberation ou Hypnone, não o de Jonas Renske quanto à temperatura. Contudo, o concerto melhoraria na recta final, alicerçado na força de Soil’s Song, Dead Letters e Forsaken. Com data de retorno marcada para Outubro, esperamos que aí o grupo mostre o seu novo The Fall of Hearts em toda a sua glória.

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Seguiram-se os Anathema, já o sol se escondia atrás do monte, com uma entrada triunfal dos irmãos Cavanagh, digna de filhos pródigos volvendo a casa. Possível razão pela qual o VOA se considera um “Heavy Rock Festival”, os Anathema há muito que deixaram o Death/Doom e abraçaram o Rock nas suas vertentes mais atmosféricas e melancólica, sendo por isso, uma banda algo polarizante neste tipo de ambientes. À medida que o grupo tocava as belíssimas duas partes de Untouchable, parte do público fazia uma folga para jantar enquanto uma falange se mantinha irredutível a acompanhar as vozes de Vincent Cavanagh e Lee Douglas. Quem decidiu abrir o coração aos britânicos saiu, sem dúvida, recompensado com uma actuação irrepreensível que preservou todo o élan emocional contido em canções como A Simple Mistake, Universal e o clássico A Natural Disaster. Não há como negar que os ingleses passam cá a vida, mas isso não tem mal algum se for para continuarem a assinar concertos assim.

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As honras de cabeça de cartaz couberam aos Opeth, que aproveitaram para vir dar uma perninha a Portugal enquanto não embarcam em tours mundiais na senda do seu novo Sorceress, a sair em breve. Acusados de ter dado concertos abaixo das suas capacidades das duas últimas vezes que cá estiveram, os suecos dissiparam dúvidas quanto à sua valia ao vivo com uma actuação à sua altura e um alinhamento relativamente consensual. Usamos esse advérbio porque foram dois temas da sua fase retro-prog, Cusp of Eternity e The Devil’s Orchard, a encetar o concerto, e bem sabemos o tipo de reacções que esta recente deriva dos Opeth tem motivado. Aliás, o próprio Mikael Åkerfeldt admitiu a natureza controversa da sua nova sonoridade quando introduziu I Feel the Dark no seu jeito sui-generis. O vocalista esteve no centro de todo o aparato, pois claro, ou este não seria um concerto de Opeth. Igual a si mesmo, no seu jeito polido e de ironia roçando o condescendente, Åkerfeldt contou histórias de quando acendia flatos com Jonas Renske quando eram colegas de casa falidos, anunciou que o seu bigode nunca tinha estado tão grande e fez referências à escatologia de Pasolini, entre outras divagações entre músicas.

Para gaudio dos presentes, tivemos direito a algumas das melhores composições que os Opeth já lançaram ao mundo em toda a sua indulgente glória. Heir Apparent serviu para nos relembrarmos que o Mikael Åkerfeldt tem um growl espectacular, por ele tristemente abandonado nos últimos anos, The Drapery Falls levou-nos de volta aos retorcidos recantos do Blackwater Park e To Rid the Disease serenou os ânimos com a sua toada mais ligeira mas não menos sombria, privilegiando as teclas às guitarras e as melodias tristonhas às passagens técnicas. Contudo, quem esperava ver os Opeth no seu estado mais extremo foi recompensado já na fase derradeira do espectáculo. Demon of the Fall, do já longínquo My Arms, Your Hearse, expeliu um fétido cheiro a Death Metal que se manteria no ar num final particularmente portentoso que prosseguiu com malhão “satânico” de The Grand Conjuration e acabou na acima mencionado opus de Deliverance, selando uma noite promissora para o VOA Fest.

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Todas as fotografias estão disponíveis em:

DIA 5
+ VOA Fest 2016 Dia 5 Dark Oath
+ VOA Fest 2016 Dia 5 Adimiron
+ VOA Fest 2016 Dia 5 Mantar
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DIA 6
+ VOA Fest 2016 Dia 6 Soldier
+ VOA Fest 2016 Dia 6 Equaleft
+ VOA Fest 2016 Dia 6 Schammasch
+ VOA Fest 2016 Dia 6 Abbath
+ VOA Fest 2016 Dia 6 Paradise Lost
+ VOA Fest 2016 Dia 6 Kreator

Dias 5 e 6
+ VOA Fest 2016 Dia 5 e 6 Ambiente

Texto – António Moura dos Santos
Fotografia – Daniel Jesus
Evento – VOA Fest 2016
Promotor – Prime Artists