Backstage

SWITCHTENSE, Carne, ossos, sangue e boas malhas na ementa

Os SWITCHTENSE são aclamados no meio underground português pela sua consistência e qualidade musicais. Para além disso, são bons rapazes e organizam um grande festival de Metal de Portugal, o Moita Metal Fest.

Com cerca de 15 anos de existência, centenas de palcos e km percorridos, lançaram no dia 1 de Abril, na passada edição do Moita Metal Fest, o seu terceiro álbum – Flesh & Bones. O Música em DX concorda com os fãs, este é um dos melhores álbuns da banda! As linhas melódicas mais densas, trabalhadas e pesadas contemplam um vasto deleite auditivo. É um disco pesado, cru e violento, onde o thrash tem a supremacia esperada e desejada. São 10 faixas que nos podem guiar o corpo por caminhos perigosos, cuidados e sombrios, não deixando nunca de seguir pela estrada com um sorriso nos lábios.

O Música em DX aproveitou a ida dos SWITCHTENSE ao Woodrock Festival que acontece nos próximos dias 22 e 23 de Julho na Praia de Quiaios na Figueira da Foz, para trocar palavras e ideias sobre o novo álbum e experiências com o frontman da banda – Hugo Andrade.

Música em DX (MDX) – Qual é o segredo para quase 15 anos de existência?

Hugo – Basicamente é fazer o que se gosta sem grandes objectivos traçados e grandes planos. Aquela persistência vem dai, vem de fazer uma coisa que se sente e que se gosta sem olhar a quê. Vai passando o tempo e agora pensamos que 15 anos já foi há muito tempo. Mas o segredo, que não é segredo, é fazer aquilo que se gosta sem grandes stresses.

MDX – Descreve SWITCHTENSE em 3 palavras.

Hugo – Energia, entrega e descontracção.

MDX – Qual é o estado do underground em Portugal?

Hugo – Actualmente, a nível de bandas, acho que está muito bem. Temos de tudo um pouco, há um espírito muito fixe e pessoal muito criativo apesar de ser cada vez mais complicado fazer coisas novas ou inovar alguma coisa. Com todas as dificuldades e as faltas de oportunidade que existem nas várias vertentes, acaba por ser uma altura bastante importante e acho que estamos muito bem servidos de bandas e festivais. Há malta que vai aprendendo as fazer as coisas cada vez melhor! Acho que hoje em dia se respira muito boa música, boas iniciativas e bons eventos um pouco por todo o lado, é pena é ser um meio um bocado restrito. Acaba por ser muito complicado sair deste meio mas, também, acaba por haver muita vontade própria das bandas e das pessoas que organizam os eventos de se manterem neste nicho onde se acabamos por fazer aquilo que realmente gostamos e que interessa, sem estar a ceder a grandes interesses ou grandes artimanhas de outro género. Acho que hoje em dia, cada vez mais, e tendo em conta que não é fácil fazer isso, há pessoal com força de vontade para fazer música e levar um evento ou um festival para a frente.

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MDX – Como o vosso caso em relação ao Moita Metal Fest.

Hugo – Sim, a gente acaba por aprender também. A banda ajuda o festival a crescer, vamos conhecendo mais pessoas e vendo em outros sítios como os outros fazem. O espirito é um bocado por ai: fazer com aquilo que temos à mão de semear e, se juntares os esforços todos e um bocadinho de inteligência, com os pés bem assentes na terra, acabas por conseguir fazer uma coisa em condições.

MDX – Estão satisfeitos com o resultado?

Hugo – Claro! Quer dizer, satisfeitos nunca estamos, isso faz parte da nossa maneira de ser e de estar, mas vemos a coisa com bons olhos e fazemos aquilo que conseguimos com a nossa dedicação e acabamos por nos realizar, obviamente.

MDX – O feedback tem sido positivo, certo?

Hugo – Sim, todos os anos. O festival tem crescido de ano para ano quer a nível de público, quer a nível capacidade para conseguir trazer algumas bandas de fora que são uma mais valia para o festival. Todos os anos vamos caminhando devagar, um passo de cada vez. Acaba por ser muito importante para nós que isso seja assim, dessa maneira.

MDX – O que te apaixona no mundo do metal?

Hugo – No mundo do metal não há assim nada que me apaixone concretamente mas na música em geral sim. Apaixona-me a troca de experiências entre as pessoas; o facto de não ser um meio que se resigna a fazer sempre mais do mesmo; o teres ali um escape para as coisas que precisas de mandar fora; essa camaradagem, esse espírito de entre ajuda que existe e que é capaz de ser a coisa mais aliciante no meio disto. O espirito é o mais importante.

MDX – Com que banda de metal te identificas mais?

Hugo – Só uma não consigo!! Há muitas! Mas Pantera, Sepultura, Slayer são basicamente as minhas referências. Não consigo dizer-te só uma banda de metal que me apaixone, mas essas 3 são as mais importantes.

MDX – Este álbum é um pouco mais pesado que os outros, queres falar do processo de elaboração?

Hugo – Nós queríamos mesmo fazer um disco mais duro que os outros dois, não que os outros não sejam, mas este acaba por ser um bocadinho mais directo. Temos sempre atenção aos pormenores, até porque isso se vai aprendendo com o tempo, mas a ideia era mesmo fazer um disco mais directo com temas mais curtos. O processo foi simplificado desta vez. A nossa ideia é sempre essa, simplificar as coisas ao máximo e com o passar do tempo vamos conseguindo fazer isso mais naturalmente. O processo de composição acaba por ser mais simples quando já conheces as pessoas com quem trabalhas, já temos esta formação há quase 10 anos, tirando o baterista que entrou agora para este disco. Já fazemos as coisas quase de olhos fechados uns com os outros e a ideia desde disco surgiu logo mal acabámos de fazer o outro, queríamos fazer uma coisa muito mais rápida, um bocadinho mais pesado e mais simples na composição, isso era um dado adquirido para nós. Felizmente acho que conseguimos, nós não mudávamos nada e, quando isso acontece, é sinal que fizemos as coisas como queríamos, embora acabemos sempre por fazer, nunca temos de ceder a nenhuma pressão de nada nem de ninguém. Mas sim, foi fácil de chegar ali.

MDX – Vocês têm o vosso próprio estúdio, certo?

Hugo – Sim, temos o estúdio de gravação na Moita, onde gravamos os nossos discos e mais de mais bandas. Trabalhamos sempre com o Daniel Cardoso, ele é que trata da parte da mistura e masterização, a produção e gravação ficam a nosso cargo e depois ele trata do resto. É óbvio que ele acaba sempre por dar uma opinião e por o punho dele nalgumas coisas, mas a maior parte do trabalho é feito por nós. Também fomos aprendendo a fazer isso ao longo dos tempos, sempre sozinhos, entre nós, e acabámos por conseguir ter esse espaço que, para nós, é muito importante. Às vezes é difícil conseguir segurá-lo, porque é uma despesa extra que a banda tem, mas depois tiramos esses dividendos que é ter o estúdio só para nós durante o tempo que for preciso para fazer a gravação, não há pressas, não há aquela necessidade de fazer as coisas naquele timing só porque pagaste aquele tempo para estar a trabalhar. Temos a consciência que isso é uma mais-valia e nem toda a gente tem acesso a esse tipo de coisa.

MDX – E este disco é a vossa carne e os vossos ossos?

Hugo – É a carne, ossos, pele, sangue, suor, lágrimas. O título é mesmo por ai, é mesmo algo o mais real possível. Basicamente era essa a ideia, até porque nem tivemos mais nenhuma ideia para o nome do disco, se houvesse um conceito por trás do álbum, que não há, seria mais ou menos esse: uma coisa o mais real e o mais orgânica possível.

MDX – É um disco de revolta?

Hugo – Isso temos sempre nas nossas músicas. Aqui está um bocado mais. Todo o contexto social que temos vivido nos últimos anos acaba por ser uma fonte de inspiração e hoje em dia o que não falta são motivos desses para te revoltares e fazeres um trabalho à volta disso. Tivemos sempre essa preocupação, pessoalmente, como sou eu que escrevo as letras e não consigo nem sei fazer nada que não seja muito real ou mundano, acaba por ser uma coisa normal e fácil, não é nada muito elaborado, não gosto de falar de dragões, esqueletos, bruxas, vampiros e coisas do género, são sempre coisas mais reais e que acabam sempre por retratar um bocadinho aquilo que se passa à nossa volta. É essa a ideia sempre.

MDX – E em relação à reacção do público ao álbum?

Hugo – Tem sido boa, até porque fizemos uma coisa que nunca tínhamos feito que foi lançar o disco no festival, 1000 pessoas ficaram logo com o CD nesse fim-de-semana e a recção foi boa. Não tivemos muitos concertos depois disso, por circunstâncias pessoais, mas as reacções têm sido boas, há muita gente que acaba por se dirigir a nós e dizem que este álbum é o melhor e que conseguimos reunir um bocadinho dos outros dois discos neste e dar um passinho um pouco mais à frente. Sinceramente também não somos muito reféns disso porque é um processo um bocado egocêntrico nesse sentido, acabamos por ser nós os primeiros a gostar e, quando isso acontece, as pessoas que gostam de nós vão acabar sempre por se identificar e gostar.

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MDX – Qual é a tua ideia do Woodrock Festival?

Hugo – Nunca lá estive mas já conhecia o nome. É um sítio onde nunca fomos tocar e depois destes anos todos é muito bom irmos tocar a sítios onde nunca estivemos, é muito bom conseguir chegar a pessoas novas. Acho que vai ser bom, o sitio também me parece bem, estamos com vontade de lá ir tocar, mas isso estamos sempre! O cartaz parece-me bem, acho que é uma boa mistura com aqueles estilos todos e acaba por ser a melhor maneira de fazer um festival, mesmo para quem organiza e para quem vai ver, há uma diversidade maior. Vamos tocar temas do álbum novo, aos poucos vamos incluindo mais temas novos mas vamos fazer um concerto normal, sem muitas extravagâncias.

MDX – Lembras-te de algum concerto que vos tenha marcado mais?

Hugo – É um bocado complicado de escolher. Já tivemos tudo, já tocámos para 5 mil pessoas no campo pequeno, foi algo brutal! Como já tocámos numa casa ocupada para 10 pessoas na Holanda, numa terrinha. Cada vez que vamos tocar é sempre especial para nós. É uma oportunidade para estarmos juntos e fazer aquilo que gostamos. Não me lembro de nada em concreto mas os concertos na nossa terra são sempre especiais, apesar de dar muito trabalho estarmos a tocar e a organizar ao mesmo tempo. Passa sempre tudo a correr porque estás com a cabeça noutro sitio e mal consegues sentir a coisa. Mas os concertos na Moita são sempre muito especiais para nós, jogar em casa é sempre bom.

Os SWITCHTENSE vão estar no próximo dia 22 de Julho no Woodrock Festival, em Quiaios, do outro lado da serra da Figueira da Foz. O ambiente vai ser bom e o cartaz promete!

+ info em

https://www.facebook.com/SWITCHTENSE/
https://www.facebook.com/woodrockquiaios/

Entrevista – Eliana Berto
Fotografia – Daniel Jesus