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Men Eater, O fim da jornada

Tudo o que tem um princípio tem um fim. Algo que nos custa sempre a aceitar, principalmente quando gostamos. O fim do que gostamos pode arrastar sentimentos tristes. Mas nem todos os finais são tristes, quando são sinceros e necessários, mesmo que o vazio fique e custe a preencher.

Os Men Eater decidiram que não fazia mais sentido continuar e nós, como fãs, não nos restou nada mais se não aceitar. Aceitar e guardar todos os fragmentos e momentos bons que nos conseguiram proporcionar. A despedida aconteceu na passada sexta-feira, dia 03 de Junho, no Stairway Club e foi o melhor final de semana que poderíamos ter.

“Se não forem vocês a abrir o concerto, não queremos mais ninguém!”, relatava Gonçalo, no início do concerto, a conversa entre Men Eater e The Quartet of Woah!. Embora pudesse soar a obrigação, não o foi e o facto de terem sido eles os “escolhidos” fez toda a diferença! Para aquela noite e para nós.

Assistir a um concerto de The Quartet of Woah! é sempre sinónimo de que uma explosão se aproxima. No caso, uma explosão de saber, de sentir, de ouvir, de degustar e, sobretudo, de rock! Se a perfeição existe, pode ser apontada ali: naquela banda, nos palcos que pisam e na música que tocam. A comunhão entre as duas vozes resulta numa simbiose perfeita e inexplicável e, apesar do problema de saúde de Gonçalo, não houve qualquer falha de voz ou redução na qualidade do concerto. As teclas, tal Manzarek, conseguem, sempre, delinear um percurso consistente e indispensável àquela conjuntura. O trabalho de cordas arrepia e obriga-nos a fechar os olhos e dançar mentalmente por entre elas. Já a bateria, forte e corpulenta cria galopes de poder e constrói uma estrutura ainda mais densa. Começaram pela “backwordsfirstliners”, passaram pela “Taste Of Hate”, “Empty Stream” e ”Ode To Liberty”, entre outras, e terminaram com “U Turn”.

“As despedidas são sempre estranhas”, afirmava Mike já perto do fim do concerto. A verdade é que são, estranhas e duras. Há sempre medo, revolta e nostalgia. Naquela noite de sexta-feira, tudo isso foi eliminado. Os Men Eater, para além de terem deixado uma mensagem bonita, deixaram-nos a melhor despedida de sempre: a despedida que trocou a tristeza pela comunhão e pela beleza de dar tudo, tranquilamente, como se fosse o último concerto! Não foi só a melhor despedida que nos deixaram, deixaram também o conhecimento e o deleite auditivo de 10 anos de uma banda que nos trouxe uma lufada de ar fresco quando apareceu.

Em palco, retrocedeu-se no tempo e celebrou-se a cerimónia do lançamento de Hellstone, no sítio onde o apresentaram pela primeira vez, desta vez lotado e esgotado.

A cada concerto percebe-se porque sempre foram acarinhados pelo underground nacional e por toda a sua envolvência. Em cima do palco há rastilhos que queimam lentamente e explodem bem à nossa frente. É impossível não mergulhar por entre as músicas e nelas ficar à deriva e descoberta enquanto decorre o concerto. Trata-se de uma amálgama de experiências sonoras que vão desde o hardcore, ao sludge, ao stoner, ao rock experimental e ao punk. Como o fazem? Vamos ficar sem saber! A verdade é que o fazem bem e o hedbanging é automático. A coesão e densidades do quadro instrumental são sinónimo de sabedoria. A teia é sempre opaca, até quando o ritmo abranda. Um poder imenso e imerso invade o palco e os nossos ouvidos.

Há despedidas bonitas. Há despedidas que, apesar de nos entristecerem, nos completam e trazem um sentimento de felicidade indescritível. A carga emocional era forte, a ansia sentia-se no ar, tanto da parte do público, como em cima do palco. O objectivo foi cumprido da melhor maneira: para além do Hellstone, que tocaram na íntegra, tocaram ainda as faixas “First Season”, “For A Life Massacre” e “Heartbeating Locomotiva”. O concerto terminou com a “Lisboa” e, trocou-se o encore, por um abraço de agradecimento deles a nós e de nós a eles.

Obrigada Men Eater, por esta noite e por todas as outras. Pela história, pelas músicas e pelos sentimentos causados. Obrigada por estes 10 anos!

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Valentina Ernö (Silvana Delgado)
Promotor – Amazing Events