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Tuxedomoon, Half Mute, o oxigénio da mente

Os Tuxedomoon estiveram em Lisboa na passada 2ª feira, dia 6 de Junho no Tivoli BBVA, para um concerto único e exclusivo. Passado 36 anos do lançamento do seu primeiro álbum (1980), Half Mute, o quarteto norte-americano (Califórnia) apresentou um espetáculo audiovisual  memorável. Não fossem os Tuxedomoon banda de culto dos anos 80, precursores em sonoridades arrojadas em que os sintetizadores se fundem com a guitarra eléctrica, os instrumentos de sopro, violino e teclas.

Pelo entusiasmo imediato do público, facilmente se percebeu que naquela sala só estavam os puros fãs. Uns que viveram e acompanharam desde a primeira hora (1977), outros que conhecendo bem mais tarde, se renderam à originalidade sonora da new wave dos Tuxedomoon.

Blaine L. Reininger, Steven Brown e Peter Principe (fundadores), quiseram prestar homenagem ao colega e amigo Bruce Gedulgig que falecera em Março deste ano e que viveu em 2014 em Portugal, na cidade do Porto – “In loving memory of our friend and collegue – Bruce Geduldig 1953 – 2016” – lia-se no ecrã por detrás dos instrumentos meticulosamente distribuídos pelo palco.

O brilho do branco dos cabelos predominava a determinação do profissionalismo dos músicos. E, sem mais demoras, fomos resgatados para outra dimensão. Imagens projectadas na tela gigante, que obedeciam criteriosamente aos arranjos dos instrumentos de cordas, sopro e teclas. Foi no domínio estrutural dos sintetizadores e do baixo monocórdico, que experienciámos todas as viagens (quase) cósmicas ao longo de quase duas horas.

A seriedade nos rostos, como sinónimo de concentração de genialidade matemática dos acordes que provocavam o inesperado.

Normal Brain (o do Frankstein), que numa tristeza profunda destrói o criador por falhas no processo de construção. Os clarinetes rompiam a harmonia da guitarra, os violinos sincronizavam-se com os sintetizadores e lutavam pela distorção. “59 to 1”, “Fifth Column”, “Loliness”, o público levantava-se cada vez que acendiam as luzes do teatro.

“Seeding the cloudes”, “East” e “Muchos Colores”, alguns dos temas que nos deixaram colados à cadeira e a conter a respiração. Sinos prolongados, nas caveiras sorridentes que dançavam em auréolas de luz. Campainhas, ritmadas nos acordes rockeiros da guitarra elétrica, numa viagem entre arvoredos cinzentos que terminavam com o som estridente de um cotovelo nas teclas do piano!

Tentativa de “discos pedidos” por parte do público, com resposta ao nível de uma banda de culto: “Não somos uma banda de bares”. Um encore com mais dois temas “Baron Brown” e “Some guys” e os sorrisos ficaram suspensos nos nossos rostos.

A facilidade com que encaixam diversidade de ritmos, latinos, orientais, jazz, rock, pop é notável. Mas a sensação com que ficamos depois de um concerto de Tuxedomoon, para além de confirmarmos que foram percursores nesta engenharia sonora, é que todos os arranjos são meticulosamente trabalhados. Tudo é pensado ao mais ínfimo pormenor, o rasgo do violino que dispara naquele momento que o clarinete sobe mais uma nota. As imagens, quase que radiográficas dos nossos cérebros, numa sincronização perfeita com os ritmos. Esta foi, definitivamente, uma noite de dose dupla de oxigénio para aguentar o Verão!

 

Texto – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – UGURU