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“Janis: A little Girl Blue”, o documentário

Somos projectados para a viagem da curta vida de Janis Joplin, através da voz rouca da menina do blues: “É muito divertido cantar (…) o Rock’n Roll é ritmado – 1,2,3,4”! – uma explosão de Janis Joplin frenética em palco!

Seguimos a curta viagem, pelo sul dos Estados Unidos, mais concretamente na cidade racista e retrógrada de Port Arthur, onde nasceu Janis Joplin. Ao início, tentamos combater a compaixão que, de um modo natural, vamos alimentando por ela. Rapariga pouco dada às feminilidades da época, a mais nova de 3 irmãos. A pele rugosa e a acne permanente evidenciavam o nariz largo no meio dos olhos azuis pouco atractivos. Nunca chegamos a perceber se a irreverência da jovem Janis deriva da crueldade a que foi exposta pelos seus pares, ou se a crueldade constante de que foi vitima se deveu à sua irreverência e provocação. Eu fico pela primeira.

Depois, conforme deixamos a paisagem cinzenta e rude de Port-Arthur e caminhamos para Austin, conhecemos uma Janis decidida, talentosa e ambiciosa. O “rapaz mais feio do liceu” ficou em levitação por cima das cabeças dos KKK e a rapariga do olho azul emerge nuns contornos femininos bem definidos e atraentes. Foi com a brilhante actuação de Janis Joplin com a sua banda da época, The Big Brothers and The Holdin Company, no Monterey Pop Festival (1967) que as luzes da ribalta ofuscaram a talentosa blue girl.

Sucessos, contratos, casas, tournées, o êxtase! Plumas de cores garridas, óculos o suficientemente grandes para esconderem as pupilas diminuídas pela heroína. As adições acompanharam-na desde a adolescência. E apesar de não ter uma linha continua no gráfico dos consumos, os picos eram recorrentes. Consumia heroína numa espécie de antídoto para as maleitas do mundo. A dor dos outros, a dor de uma vida de desamores constantes, a dor da solidão visceral que nunca a largou. O sucesso crescia com a heroína, que a acalmava e a remetia a uma espécie de limbo cool. Pequenos e falsos amores, um grande amor revigorado na Amazónia. Os pedidos sucessivos de amor à sua família, nas cartas que nos vai lendo ao longo do filme, às quais nunca ouvimos resposta.

Deixa os The Big Brother and The Holding Company e apruma-se numa mini-orquestra os kozmic Blues. A crítica é severa. Os improvisos começam a surgir com frequência nos concertos e são esses rasgos descarnados de alma que levam o público a sentir a sua dor e a adorá-la!

A solidão eterna companheira da heroína, em dose excessiva nas veias de Janis Joplin – 4 de Outubro de 1971 Janis Lyn Joplin morre em Los Angeles. Tinha 27 anos de idade, eternizou-se Litlle Girl Blue.

O IndieLisboa 2016 by Allianz é organizado pela IndieLisboa – Associação Cultural, com o apoio financeiro do Ministério da Cultura/ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual, da CML – Câmara Municipal de Lisboa, do Programa Creative Europe da União Europeia e da Allianz; em co-produção com a Culturgest e o Cinema São Jorge e em parceria estratégica com a EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, EEM.

+info em http://indielisboa.com/

Texto – Carla Sancho