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Steven Wilson, a poesia melancólica de um mestre do rock progressivo

Num dia cinzento, há muito pouco a fazer se não deixar a chuva cair. Em noites de céu alaranjado podemos sempre recatar-nos numa sala qualquer e ouvir boa música. Na passada terça-feira, houve o casamento perfeito: uma noite de chuva com um concerto de Steven Wilson e não foi o amor que os uniu, mas sim a melancolia.

Pela primeira vez em Portugal, o tão esperado e desejado Steven Wilson, fundador dos Porcupine Tree fez-se acompanhar da sua grandiosa banda e apresentou-se na Sala Tejo do Meo Arena. Entre a bagagem trazia o aclamado último álbum – Hand. Cannot. Erase. – e um pedido de desculpas por tardar tanto em vir a Portugal.

Com uma união perfeita entre filmes e melodia, ao longo da apresentação do último álbum (o qual deu a conhecer na íntegra), via-se sempre a mesma cara na tela: o retrato da solidão. A personificação em forma de música de Joyce Vincent, a jovem que faleceu no seu apartamento e apenas foi descoberta 3 anos depois. É sobre ela que recai o disco e foi sobre a inspiração da história dela que Steven nos proporcionou uma viagem musical repleta de melancolia arrepiante. A melancolia não tem de ser triste, como ele próprio afirmou, e a verdade é que o público saboreou cada nota de sorriso nos lábios e coração quente.

Não fez o trabalho sozinho, a grande banda que tinha por detrás ajudou ao espetáculo transcendental e sublime que se presenciou naquela sala ao lado do rio. Os riffs de guitarra apresentavam-se grandiosamente como se o mundo fosse acabar e os solos de guitarra faziam qualquer um acreditar que sim. Assistia-se a uma comunhão instrumental corpulenta e majestosa que proporcionou mais de 2 horas de puro prazer auditivo. Auditivo e visual, dado que o espetáculo cénico apresentado teve um papel importantíssimo na procura da instigação de sensações de todos os tipos.

Uma tela cai e assiste-se ao primeiro encore. Sim! o primeiro de dois. Com imagens intrigantes e um astral negro ao redor ouvem-se os acordes penetrantes de “Temporal” que nos conduzem pelo mundo do imaginário instrumental coberto por uma cortina de ilusão. Os ânimos elevaram-se e as vozes ecoaram pela sala quando, no segundo encore, Steven introduz as notas da “The Sound Of Muzak” de Porcupine Tree. Afirmando logo de seguida que os portugueses gostam de metal e, como tal, ofereceu “Open Car” carregada de riffs pesados, talvez os mais pesados da noite. Dos Porcupine Tree, ouviu-se também a mágica “Sleep Together” e a ternurenta “Lazarus” ao longo do concerto.

A roupa secou no corpo porque a alma foi aquecida. O brilho ficou no olhar de todos os que ficaram completos, tendo a certeza de que a espera valeu a pena e que a ânsia de um regresso é gigante.

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Ana Pereira