Opinião Reviews

Her Name Was Fire, O verdadeiro significado de incêndio

É verdade que uma banda composta de muitos elementos, instrumentos e sonoridades é capaz de criar raios sonoros mais complexos e delineados. Mas também é verdade que, quando há talento e rock nas veias, apenas duas pessoas conseguem criar o mesmo nevoeiro espesso e um manto de boas vibrações vindo daquele rock puro de que tanto gostamos.

Conheci o duo Her Name Was Fire há cerca de um ano no Stairway Club e de imediato se criou uma faísca de ligação e o motor arrancou automaticamente. Agora, um ano depois, chegou a hora de apresentarem o seu primeiro longa duração ao público de nome Road Antics.

O resultado deste trabalho traz com ele a aptidão mascarada de ousadia e uma enorme garra. O caminho por entre estas 10 faixas faz-se entre guiadores e o asfalto iluminado pela luz da noite. O rock’n’roll que os riffs constroem, é embalado pela voz limpa e consistente dona do timbre certo para nos abrir apetites. Entre a estrada, peculiar e excêntrica, como o próprio nome indica, passamos por pontos de abastecimento de stoner e fazemos desvios por um blues subtil, conseguindo apanhar um travo de Queens Of The Stone Age.

“Take My Soul”, a segunda faixa do álbum compõe-se da energia certa para fazer com que, efectivamente, sintamos uma pressão da alma contra o corpo numa tentativa de ser sugada para fora. Os riffs pairam sobre o deserto do rock e conseguem impulsionar o corpo a expelir algo, no sentido positivo de todo o encanto que nos traz este rock’n’roll do diabo, onde a degustação do ardente é algo de que não podemos escapar. De seguida, a “Gone In Haze”, single de apresentação, leva-nos a parar num bar de estrada, daqueles tão escuros que encobrem a humidade da parede e onde nos servem um bourbon agridoce, mas quente que, de imediato, nos transfigura. Acordamos inconscientes, dentro do carro, com as dores de quem viveu uns dias intensos fora de si e somos abanados com a injecção de adrenalina doce da “Way To Control”. Quase no final da jornada, paramos numa duna e saboreamos o toque alaranjado do pôr-do-sol com a “To The Sunset” no ouvido e a nostalgia de quem muito viveu.

No fim da viagem, já não conseguimos distinguir convenientemente o tracejado que divide a estrada e pouco nos importa.

Um disco que saiu no passado dia 7 de Abril pela Raging Planet e que todo o amante de rock deve ter à mão, principalmente aquele que gosta de estradas.

Os Her Name Was Fire vão estar no próximo dia 12 de Maio no Hell in Sintra e no dia 20 de Julho do Woodrock Festival.

Texto – Eliana Berto