2015 Backstage Festivais Reportagens Vodafone Paredes de Coura

Entrevista a peixe:avião, o Homem, a máquina e a música

Num dos dias mais importantes da história do Vodafone Paredes de Coura, os peixe:avião concretizam um sonho e sobem ao palco principal para prendar os festivaleiros com uma dose de boa música. O Música em DX quis saber um pouco da história da banda que tanto tem de intrigante como de fascinante e foi conversar com o André Covas (guitarra e sintetizador) e o Pedro Oliveira (bateria e percussão).

Música em DX (MDX) – Porquê peixe:avião?
Pedro Oliveira (PO) – peixe:avião era a primeira frase da primeira letra que fizemos e nós andámos na altura a tentar encontrar o nome. As músicas apareceram primeiro que o nome e depois a determinada altura achámos que o nome peixe:avião resumia um bocado uma série de coisas que queríamos dizer: um bocado maquinal, um bocado orgânico e ficámos por ai.
André Covas (AC) – Foi a primeira frase da primeira música que escrevemos e que dizia: “finge a fazer de conta feito peixe:avião”, peixe:avião foi o nome da banda e finge a fazer de conta feito peixe:avião foi o nome do EP que lançámos em 2007 para nos apresentarmos, por isso foi o início da banda, era a génese da banda, fez sentido.

MDX – O que vos define enquanto banda?
AC – A vontade de descobrir talvez e sermos 5 indivíduos diferentes, embora já tenhamos sido mais diferentes que agora.
PO – Cada um com as suas influências e maneira de ver as coisas e todos juntos acaba por dar isto ao que chamamos peixe:avião e enquanto nos conseguirmos aturar será isso.

MDX – A timidez e introspeção é algo que vos caracteriza nos concertos. Também é a nível pessoal ou só em cima do palco?
AC – Não é que nós queiramos ser antipáticos, mas nós gostamos de estar muito próximos e se calhar essa proximidade pode ser interpretada como essa falta de vontade de comunicar com o público. No entanto não é tanto por ai, é mesmo porque nos sentimos mais à vontade estando fisicamente próximos uns dos outros e comunicando uns com os outros para que todo o concerto corra melhor. Não sentimos muito a necessidade de comunicar com o público porque nós individualmente não somos grandes comunicadores como, deixamos que a música fale um bocadinho por si.
PO – Para seres um comunicador é necessário ter algum talento para isso e nós não somos naturalmente pessoas pré dispostas a isso, então optamos por ser mais recatados e deixamos que seja a música a falar.

MDX – Qual é a vossa inspiração?
PO – Somos influenciados por todo o tipo de música porque todos ouvimos música diferente uns dos outros, por isso tudo acaba por nos influenciar e depois fazemos a nossa própria triagem natural e o que resulta é o somatório disso tudo, das nossas influências individuais que muitas vezes são condizentes e outras são opostas.
AC – É difícil caracterizar e é engraçado que às vezes não são só influências musicais que trazemos para o disco e mesmo as influências musicais às vezes são completamente opostas daquilo que depois é o resultado prático implementado. Somos capazes de nos inspirar de alguma forma por coisas um bocadinho mais experimentais, música eletrónica mais exploratória que depois não se revelam claramente no resultado final mas que no processo fazem sentido para nós. Não temos propriamente uma influência clara, não pensamos “vamos fazer uma coisa tipo isto”, às vezes até podemos pensar numa coisa tipo isto mas o tipo isto é tão longínquo do nosso espectro musical que depois não chega até ao resultado final, esperamos nós. É difícil responder porque se calhar somos influenciados por bandas de hoje que foram influenciadas por bandas dos anos 60 e das quais nós também bebemos.

MDX – Como é que encaram a indústria da música em Portugal?
PO – Nós nem sequer nos preocupamos assim tanto com isso. Nós somos a nossa própria indústria, nós somos a nossa própria editora, a nossa própria agência, somos detentores dos nossos próprios direitos, por isso nesse sentido passamos um bocado ao lado daquilo que a indústria ou as majors são. Houve uma altura que até quisemos mas depois não achámos assim tão convidativo e optámos por seguir este caminho que é completamente independente.
AC – Mas a produção musical vai de vento em popa. Às vezes estou a ouvir rádio e não assumo que as bandas que estou a ouvir são portuguesas e dantes acontecia, via-se logo que era tuga, mas hoje em dia já não sentes isso. Estamos num nível de produção musical em vários espectros desde o jazz passando pelo pop até cenas mais eletrónicas e experimentais com uma qualidade inédita.

MDX – Para quando o próximo álbum?
PO – No início do próximo ano.
AC – Queremos levar as coisas com calma, fazer as coisas bem. Não temos propriamente pressa de lançar um disco. É a vantagem de não ligarmos propriamente à indústria, temos os nossos timmings, os nossos horários. Claro que não queremos esmorecer demasiado porque depois é difícil voltar à baila mas não temos uma agenda definida por isso preferimos fazer as coisas atempadamente e com qualidade do que atingir um determinado deadline e a coisa sai como sair, por isso provavelmente sairá no início do próximo ano.

MDX – O que esperam do futuro?
PO – Que seja mais longínquo que o presente. Continuar a tentar descobrir aquilo que é o som que nós queremos fazer, as músicas que nós queremos fazer, continuar a editar discos e a dar concertos. Tu não podes por as expectativas muito altas, vais seguindo consoante as coisas vão aparecendo, não vale a pena estar a fazer grandes planos. O ideal é à medida que vais ficando satisfeito com as coisas que fazes ir colocando cá fora e ir recolhendo os frutos que isso vai dar à medida que o tempo vai passando e manter-nos unidos, já lá vão 8 anos.

MDX – O que significa para vocês tocar num festival como o Vodafone Paredes de Coura?
AC – É bom porque nós somos todos espectadores assíduos do festival e é excelente pormo-nos na posição daqueles que admiramos. É inevitável, principalmente quando és músico, estares a ver um concerto e não pensares: “curtia mesmo estar daquele lado” e é bom estar daquele lado, efetivamente. Por isso dá uma pica especial. Os festivais são sempre completamente diferentes dos concertos de auditório porque as dinâmicas e as logísticas são bastante diferentes, estas são sempre super apressadas e há um nível de stress constante desde o momento em que estás a levantar o espaço até ao momento em que entras no palco, há ali muito pouco tempo de fruição e é sempre a dar-lhe muito, mas depois tudo corre bem e quando tudo corre bem é tipo “altamente”, tocar acaba por dar um gozo especial ou pelo menos diferente de quando tudo é ultra controlado como é nos auditórios, que também é excelente.

PO – Para nós este festival acaba por ter um significado especial porque se calhar é o festival que todos já frequentamos há mais anos. Somos todos do norte e crescemos com Paredes de Coura, no meu caso eu venho há 21 edições e ao fim de 21 edições toquei no palco principal. É daquelas coisas que mais vale não desistir. Na última vez, em 2011 tocámos no palco secundário que correu muito bem também.

MDX – O concerto de hoje foi de acordo com as expectativas?
AC e PO – Sim!!
AC – Mas isto é um concerto atípico porque tocas a uma hora atípica, com uma duração prevista do concerto atípica, ou seja, mais cedo e mais curto. Temos de fazer algumas adaptações à setlist, não fica um alinhamento tão completo como tu gostavas que ficasse porque nós gostamos de ter algumas dinâmicas diferentes e aqui temos de fazer uma espécie de versão compacta. Não tem as luzes como tu gostavas… Mas por outro lado tem a pica que tu gostavas porque foi tudo de rajada, começámos a fazer som às 16h e tocámos às 18h30 e foi aquela explosão de energia brutal. Acho que correu bem, eu gostei.

E nós também. Foi um belo aperitivo e um belo concerto. Esperamos voltar a ver-vos em breve.

Mais informação sobre a banda em www.peixeaviao.com

Entrevista – Eliana Berto
Fotografia – © Hugo Lima | Vodafone Paredes de Coura