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Entrevista a Kiasmos, “É difícil criar uma música alegre quando nos estamos a sentir depressivos, não é?”

Oriundos da Islândia, a dupla Kiasmos é um dos mais empolgantes nomes do actual panorama musical electrónico. Constituídos por Ólafur Arnalds e Janus Rasmussen, Kiasmos tanto intercala nuances de techno e de música ambiental na sua sonoridade experimental, levando a que o ouvinte embarque em longas e apaixonantes viagens na companhia do projeto islandês.

Em âmbito do festival MUSCARIUM, que se realizará em Agualva-Cacém (Sintra), os Kiasmos estarão de regresso a Portugal pela segunda vez este ano, em formato DJ set para a ocasião. Com o calendário a marcar o dito retorno para o dia 15 de Setembro, a Música em DX teve a oportunidade de falar com Janus Rasmussen para conhecer melhor a história de Kiasmos.

Música em DX – Como é que vocês se conheceram?

Janus Rasmussen – Conhecemo-nos em 2007, quando eu andava em tournée com a minha antiga banda, os Bloodgroup. O Ólafur (Arnalds) era técnico de som, e durante viagens, falávamos imenso sobre música técnico, até que um dia nos encontrámos para fazer música juntos. O resultado desses encontros foi então Kiasmos.

MDX – No início desses encontros, partilhavam os mesmos interesses e influências musicais?

J.R. – Acho que acima da partilha foi a nossa recetividade perante diferentes estilos de música e de arte. Foi isso que tornou com que fosse fácil trabalhar em conjunto.

MDX – No processo de composição das vossas canções, há a tendência de trabalharem sempre enquanto dupla?

J.R. – Sim, compomos sempre praticamente juntos. Tentamos sempre com que nenhum de nós assuma um papel predominante face ao outro, visto que há imensa exploração de sons quando fazemos a nossa música. Ao fim ao cabo, acaba por ser uma experiência que exige que seja feita em conjunto.

MDX – Por falar nas vossas canções, estas tanto conseguem ter uma abordagem relaxante como dançável. Quando começam a escrever uma nova canção, já sabem qual a sonoridade que pretendem que essa tenha?

J.R. – Por vezes, decidimos antecipadamente que tipo de sons é que estamos à procura antes de iniciarmos o processo de escrita, sim. Acaba um pouco por jogar a favor daquilo que estamos a sentir, como é que está o nosso humor; é difícil criar uma música alegre quando nos estamos a sentir depressivos, não é?

MDX – É incrível como conseguem colocar tantas emoções dentro das vossas músicas. Consideram que a falta de letras nas vossas canções faz com que seja mais fácil para essas sensações fluírem?

J.R. – Sem dúvida que se torna mais fácil para o ouvinte, sim, visto que a ausência de letras leva a que a interpretação do conteúdo nas nossas canções se torne livre de interpretação, sem diretrizes a indicarem sobre “como-te-deves-sentir”.

MDX – Como é que preparam os vossos live sets?

J.R. – Mal damos um tema como terminado, dissecamo-lo até à sua raiz, até ao seu núcleo. A partir daí, brincamos um pouco com ela até que ela se consiga inserir no registo que apresentamos ao vivo, o que leva a que a modifiquemos um pouco de forma a soar mais cativante quando transposta para palco.

MDX – Vocês têm tocado por diferentes cidades e países. Já vos aconteceu alguma vez que o contacto com um desses locais vos ajudasse a escrever, ou até mesmo terminar, um tema?

J.R. – Infelizmente, não temos a tendência de compor durante tournées, mas tocar para tipos diferentes de públicos, todos eles com maneirismos distintos, serve um pouco como uma fonte de inspiração para que tipos de canções é que iremos assinar no futuro, de forma a assinar concertos cada vez melhores.

MDX – Vivendo vocês num local tão bonito como a Islândia, haverá a possibilidade do ambiente que vos rodeia ter um papel determinante na vossa sonoridade?

J.R. – São múltiplos os factores que influenciam o processo de composição de canções, mas sem dúvida que viver na Islândia levou a que a nossa música soasse como soa. Vivemos num sítio onde as pessoas com quem nos damos, ou até com quem nos cruzamos no dia-a-dia, desempenham um papel fulcral na nossa maneira de pensar, e isso revê-se na nossa forma de escrever.

MDX – Recentemente, anunciaram que o vosso concerto no Lowlands tinha sido o último deste ano. Será isso um sinónimo que entrarão em estúdio para começar a trabalhar no vosso segundo disco?

J.R. – Não propriamente, não. Antes disso, temos que terminar tudo aquilo que está pendente nas nossas agendas, oriundos de outros projetos. Só a partir daí é que nos iremos sentar e começar a trabalhar no segundo disco, tendo até já algumas ideias daquilo que desejaríamos que o novo material soasse. Todavia, é um pouco difícil de afirmar que já temos certezas daquilo que queremos, visto que as nossas ideias podem mudar de um momento para o outro.

MDX – Desde o lançamento do vosso primeiro disco – Kiasmos, 2014 – que só lançaram EPs. Esta decisão parte do vosso desejo em saciar a vontade dos vossos fãs em ouvirem novo material, mas ao mesmo tempo quererem dizer-lhes que vocês não sentem a necessidade de apressar um disco?

J.R. – Sim para ambas, é uma boa forma de nos mantermos activos e não queremos apressar um novo disco. Tudo tem o seu tempo.

MDX – Para terminar: vocês têm passado imenso tempo em Portugal, tanto em concertos como em DJ sets. Haverá a possibilidade de um dia ter-se Kiasmos a produzir e gravar algumas canções num país que sempre vos acolheu de braços abertos?

J.R. – Nunca se sabe! Nós adoramos voltar a Portugal, e o Porto é das nossas cidades favoritas. Só o tempo o dirá.

Texto – Nuno Fernandes