20180811 - Festival Bons Sons'18 @ Cem Soldos
2018 Bons Sons Concertos Festivais Reportagens

Bons Sons’18, dia 11 – Ao ritmo das baquetas hipnóticas dos PAUS

O alinhamento do terceiro e penúltimo dia de festival prometia continuar diversificado e com muita qualidade. A acompanhar a subida dos termómetros, Afonso Dorido levou o Homem em Catarse ao altar e comungou com os crentes numa Viagem Interior que os deixou a sorver o sal das lágrimas.

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 Homem Em Catarse

Muitos foram os que se mantiveram na cadeira da igreja (palco MPGDP) para continuarem a viagem pelo país com o cancioneiro tradicional. Três artesãos de profissão, decidiram juntar duas das suas paixões e formar o grupo de música tradicional portuguesa os Artesãos da Música. Com uma reutilização criativa (upcycling) de instrumentos tradicionais, o trio de artesãos Inocêncio Casquinha, José Gavino e Carlos Rosa juntou-se em 2010 e editou o álbum Puleando em 2012. Ao som da concertina, o adufe, a cana-rachada e mais uns quantos instrumentos criados ou reinventados, os artesãos cantaram e encantaram os fieis que abarrotavam na igreja.

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 Artesãos da Música

Descemos até ao palco Giacometti, mas antes carregámos com dinheiro a pulseira que nos colocaram no pulso, enchemos a caneca de alumínio (apesar de levar menos quantidade é de melhor qualidade) e refrescamo-nos nos borrifadores. Seguimos com o fio de suor a escorrer pelas costas e tentámos posicionarmo-nos numa sombra, enquanto O Gajo sincronizava o sino de mão com o sino da igreja, nas badaladas das 16 horas e trinta minutos. Num acto de palco aparentemente solitário, João Morais e a viola campaniça conseguem criar uma atmosfera intimista em que Longe do Chão (álbum) se reproduz em registos imagéticos auto-biográficos.  João Morais vai nos revelando as estórias que o inspiraram, demonstrando a cada concerto a ambição da perfeição das 10 cordas afinadas da Campaniça. “ Quantas almas tenho”, as do João, que vindo do registo de punk-rock (guitarrista da banda Gazua) se espraia agora numa viola portuguesa originária do baixo Alentejo. Sob o sol de Cem Soldos, continuamos com a “barrigada de vitamina D” a ouvir o tema “O Cacilheiro” “que por ser velho é lento e por ser lento dá-nos tempo”.

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 O Gajo

No caminho para a sombra do Palco Amália (antigo “Palco Tarde ao Sol”) passámos no Palco Garagem de onde ressoavam guitarradas eléctricas manuseadas por um grupo de jovens (cem soldenses?), enquanto à porta se jogava os Jogos do Hélder e onde alguém estaria a ser congratulado com um banho de água fresca!

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 Ambiente

Depois de ter participado em vários projectos conjuntos como o Stockholm Lisboa Project, e ter dado a sua voz a trabalhos de fadistas consagrados como Ana Moura ou Hélder Moutinho, Ela Vaz lançou-se a solo no ano passado com a edição do álbum “Eu”. Com uma enorme versatilidade no timbre, Ela Vaz coloca a voz onde quer. Do Fado à música tradicional portuguesa, passa pelo jazz ou pelo blues se assim o entender. Num estado de graça, Ela envolveu-nos num momento intenso, permeabilizando o fado a ritmos mais soltos ao som da flauta de Ana Catarina Costa. Canções com poemas de Antero de Quental e composição de Miguel Calhaz, como também de João Afonso e Amélia Muge, foram alguns dos temas que nos deixaram com um nó na garganta.

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 Ela Vaz

Vencedores da edição deste ano do Festival Termómetro, os QuartoQuarto passaram pelo palco Giacometti despertando a curiosidade do público. João Vidigueira (voz), com a sua postura sui generis conseguiu surpreender, apesar do som não ter abonado a favor dos músicos. O quarteto lisboeta também teve a oportunidade de tocar no NOS Alive no mês passado e tem ainda como prémio do Termómetro a possibilidade de produzir um videoclipe e 10 horas em estúdio para gravar.

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 QuartoQuarto

Miguel Calhaz subiu ao palco Amália, depois de ter estado debaixo do sol abrasador do início da tarde num dos concertos inesperados deste festival. A cumplicidade com o contrabaixo transpira do início ao fim das suas actuações. Músico de formação jazzística que conseguiu reinventar a música tradicional nos acordes graves do contrabaixo. Acompanhado por mais três músicos, Miguel Calhaz deixou o público em festa e preparado para o jantar!

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 Miguel Calhaz

O açoriano Zeca Medeiros encheu o início de noite com a sua poesia de intervenção, fazendo justiça ao nome do palco onde actuou. Zeca Afonso teria certamente aplaudido a sua interpretação performativa na libertação das palavras e das verdades que solta sem rodeios. Como é habitual nos seus concertos, Filipa Pais juntou-se a Zeca Medeiros e chamou ao palco também o músico João Afonso. “A Elogia do Palhaço, “Eu Gosto Tanto de Ti que até me Prejudico”, “Vamos fumar o cachimbo da Paz”, foram algumas das músicas que acompanhámos baixinho, pois a ressonância da sua voz deliciosamente cavernosa não deixou espaço para mais nenhuma.

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 Zeca Medeiros

De regresso a Cem Soldos estiveram Sean Riley & The Slowriders. A banda de Afonso  Rodrigues abriu o palco Lopes Graça e deu a conhecer o seu novo baterista. Com o recinto a abarrotar pelas costuras, tivemos as primeiras grandes guitarradas do dia. Com poucas pausas entre os temas, rasgaram as cordas, subiram os decibéis e puseram toda a gente no ritmo certo do rock´n´roll.

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 Sean Riley & The Slowriders

E para não desestabilizar os tímpanos, descemos ao palco Zeca Afonso para um dos melhores concertos do dia, PAUS. Uma batida que é exorcizada por um experimentalismo quase tribal! Um jogo de luz incrível, em que as faixas verticais geometricamente distribuídas pelo palco se sincronizavam com as pancadas certeiras e hipnóticas das baquetas. Hélio Morais agradeceu à comunidade de Cem Soldos e partilhou que “este está a ser o melhor concerto do ano!” Aconselhou os mais cépticos a irem confirmar ao instagram da banda. Quase no final dedicaram uma música à equipa que produziu e realizou o seu último videoclipe, o Tomás Brito, o Manuel Madeira e a Diana. Que concerto!

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 PAUS

Regressámos ao palco Lopes Graça e já não sairíamos do centro da aldeia. Os divertidos Cais Sodré Funk Connection tiraram-nos da hipnose das baterias e esforçaram-se para nos por a dançar (o funk é mesmo bom). Com o vento frio que se fazia sentir não foi tarefa difícil, e convenceram o público a acompanhá-los nas suas coreografias.

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 Cais Sodré Funk Connection

Já (quase) fora d’horas, o fenómeno actual da música portuguesa subiu ao palco Aguardela, Conan Osiris (Tiago Miranda). Uma mistura de música oriental, com Kuduro, hip-pop e electrónica. Dentro de uma espécie de roupão, Conan apareceu acompanhado com um bailarino vestido de branco que dançava e tentava articular movimentos sedutores (Kuduro?). Assim que Conan Osiris soltou o”Eu sou borrego“, o público alegremente acompanhou o refrão e gingou, com um sorriso aparentemente genuíno. O recinto do palco estava cheio, e recordo, já era tarde.

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fotos na galeria Bons Sons 2018 dia 11 Conan Osiris

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DIA 10

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DIA 11

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DIA 12

Bons Sons’18, dia 12 – Viver a Aldeia e passar a noite no Odeon Hotel
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Texto – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa
Evento – Bons Sons’18