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Sonic Blast Moledo’18 – Som, paisagem e transe!

A oitava edição do Sonic Blast Moledo vai acontecer no próximo fim de semana. De norte a sul do país combinam-se boleias e reencontros de amigos. Estamos a meio do verão. Um verão atípico é certo, mas não deixa de ser verão, mas para muitos fãs de música, música, não festivais de verão, o Sonic Blast tem vindo a ser o rumo indispensável nos últimos anos.

Na passada edição o espaço dedicado ao encontro de músicos e fãs esgotou nos dias imediatamente antes, algo que não surpreendeu muita gente, pois o cartaz era de facto muito apetecível, e se a isso juntarmos a paisagem e todo o ambiente descontraído torna-se difícil pensar em outra cenário tão adequado a esta celebração da música.

Quando em meados de Julho a organização do Sonic Blast Moledo anunciou os últimos nomes confirmados adiantou também que os passes gerais estavam prestes a esgotar. A corrida aos últimos bilhetes não se fez esperar e no espaço de uma semana o festival esgotou. O alarido e o desgosto expresso por muitos nas redes sociais não se fez esperar, de tal forma, que a organização acabou por disponibilizar mais cem passes gerais, que mal foram anunciados provocaram nova onda rumo ao Sonic Blast deste ano.

A receita não é nova, a organização tem vindo a limar arestas ao longo dos anos e o que acontece é um festival estruturado, sustentavél e equilibrado, dividido principalmente entre dois espaços mas englobando também outros espaços da vila de Moledo nos dias imediatamente anteriores; Sol, Praia, Campismo, Piscina, Surf e Skate como complementos a um cartaz de luxo que este ano tardou um pouco mais que o habitual a ser conhecido mas que não desapontou ninguém.

O festival propriamente dito começa na sexta-feira às 13:30 com a prestação dos portugueses, vindos de Barcelos, Solar Corona na piscina, onde certamente irão destilar todo o seu poder às primeiras horas da tarde.

Seguidamente teremos os Desert Smoke, quarteto português oriundo de Lisboa que irá trazer o seu o seu primeiro EP Hidden Mirage, pleno de um desert rock impregnado de sonoridades que nos farão divagar na tarde e no calor.

A primeira banda internacional em palco é a banda oriunda de Algeciras, Atavismo, que lançou recente o álbum ValdeInfierno e que irá alterar o ritmo da tarde. Os Atavismo apesar de não serem uma banda com muita longevidade têm nas suas fileiras alguns elementos provenientes de bandas como os Viaje a 800 ou os Mind!, aguardando-se um concerto mais centrado no álbum mais recente mas revisitando também a história menos recente da banda.

Os portugueses Astrodome serão os senhores que se seguem. O quarteto portuense que editou no inicio deste ano o seu segundo álbum, intitulado II, tem protagonizado concertos fantasticamente  densos um pouco por todo o país e aqui a expectativa de um concerto hipnótico e explosivo vai manter o palco da piscina no rumo certo.

Serão os britânicos Electric Octopus a encerrar os concertos na piscina com a sua excitante mescla de sons com uma pitada de blues e os seus improvisos passam por alguns terrenos insuspeitos como o jazz. O trio que têm uma carreira curta mas muito produtiva promete encerrar a primeira tarde da melhor forma possível, levando ao extase a plateia  que a essa hora já deverá preencher  toda a zona da piscina.

Os ingleses oriundos de Liverpool, CONAN, representantes da melhor tradição do doom, e que várias vezes já tem sido mencionados como um dos segredos mais bem guardados do underground, e que têm um disco novo na calha a sair no próximo mês de setembro vão abrir as hostilidades no palco principal. Pesada e profunda a sua sonoridade irá esmagar a plateia num final da tarde que se prevê épico e pujante, e possivelmente recheado de algumas novas músicas.

Os italianos Ufomammut  desde 1999 tem vindo progressivamente a construir uma sonoridade cada vez mais densa e pesada. Os concertos dos Ufomammut são habitualmente apoiados visualmente por um video de Malleus, um colectivo de artistas de rock do qual Poia e Urlo fazem parte. Ou seja nada é deixado ao acaso na criação das atmosferas mais densas.

Os Nebula, banda precursora do stoner rock ao mais alto nível, com uma sonoridade em tudo evocativa de um deserto comum e familiar a quase todos os que vão ao Sonic Blast e que os reconhecem como uma paragem obrigatória na primeira noite do festival são os senhores que se seguem. Depois de uma paragem voluntária de quase dez anos, em 2017 a banda deu indicação que iria voltar ao activo, assim estaé  mais uma daquelas oportunidades a não perder para todos aqueles que querem provar ao vivo a mistura cósmica de riffs pesados, blues elétricos e rock espacial.

A noite avança com os Causa Sui, banda que tem vindo a construir uma carreira sólida desde 2005 e que nos irá trazer algum do melhor psy rock que se tem vindo a fazer nas últimas duas décadas. São sem sombra dúvida uma das bandas mais aguardadas da noite, e qualquer que seja o caminho que decidam seguir nessa noite, é certo que na viagem que se decidam a empreender pelo horizonte de Moledo terão decerto bastantes seguidores.

Os repetentes Samsara Blues Experiment que se estrearam em Portugal neste mesmo palco há seis anos atrás, vão trazer até nós o album mais recente One With the Universe e esperamos que uma incursão pelas mais icónicas músicas da sua discografia.

A primeira noite termina com a explosão de energia dos alemães Mantar que lançaram este ano Ode to The Flame. A agressividade latente nas suas guitarras e o poder da secção ritmica farão dos Mantar o tónico imprescindivél que nos fará continuar noite fora, em direcção à praia de Moledo.

O segundo dia, e de regresso à piscina teremos leva-nos até aos The Wizards, vindos de Bilbao, a sua não muito longa carreira já lhes logrou elogios e reconhecimento, sobretudo devido à forma natural como parecem ter saído de uma qualquer máquina do tempo, vindos directamente dos anos 70.

Os Greengo irão certamente acordar todos aqueles que ainda se encontrem meio perdidos no limbo da preguiça, agarrados à noite anterior. A forma visceral como se entregam fará com que decerto este seja um daqueles concertos cuja sensação não se irá desvanecer rapidamente.

A tarde prossegue com aquele que será um dos momentos mais exploratórios dos sentidos. Em palco Pedro Pestana e João Pais Filipe, Talea Jacta,  irão levar-nos num loop quente e tribal. Depois de terem partilhado uma noite com os Electric Moon e de se reinventarem a cada concerto com cada vez maior mestria, aguardamos um transe total.

Ruff Majik irão certamente voltar a acelarar o ritmo da tarde. A banda de Pretória que conta apenas com cerca de três de anos de actividade já tem mais de uma mão cheia de albuns editados, o mais recente, Seasons em Abril deste ano. A sua energia crua dos primeiros discos não desapareceu, continuam iguais a si próprios e a trilhar um caminho impar.

Com o final da tarde na piscina entram em cena os noruegueses Purple Hill Witch para nos levarem numa viagem de doom e  distorção até à noite mais escura que a essa hora ainda tarda.  Apeteciveis a qualquer hora do dia, os seus concertos prometem sempre uma avalanche de riffs diabólicos.

Caberá aos gregos Naxatras a abertura da noite de sábado no palco principal. Desde o álbum de estreia em 2015 que a banda não cessou de surpreender, quer seja pelas opções estéticas quer seja pela imensa capacidade de se reinventar novamente. Será decerto um final de tarde muito marcado pelo groove extravagante do trio de Tessalónica.

O rock musculado e estonteante dos Atomic Bitchwax  passou por Portugal no final do ano passado irá animar toda a multidão com os seus riffs e sonoridades orelhudas. Simples e directos, nada complicados, mas extremamente competentes na certeza de um concerto feliz.

Os 1000 Mods, vindos também da Grécia, irão fazer as delicias de todos os que trazem dentro de si a ligação com os sentimentos mais densos provenientes das paisagens deserticas. O seu som quando profundo e arrastado em músicas como Road To Burn, tem todo o potencial esperado para algumas melhores sessões de melenas ao vento da noite.

O primeiro avanço sobre o alinhamento de 2018 surgiu nos primeiros dias do ano e trouxe-nos a noticia do regresso dos Kadavar, que haviam cancelado a presença na edição de 2017 por motivos pessoais, para nos presentearem com algum do melhor retro rock que se faz actualmente. Desde meados de Junho numa tour algo intensa por todo o continente europeu, dos Kadavar não se espera nada mais que aquilo a que nos vem habituando quer com os seus discos quer com as suas prestações ao vivo, enérgicas  e plenas de riffs voluptuosos.

A sonoridade eclética dos californianos Earthless tomará conta do Sonic Blast, Deles diz-se que são uma das bandas com uma capacidade massiva de som à altura do melhor heavy rock e do mais intenso psy rock. Capazes das jam’s mais intensas e coordenadas, serão seguramente uma das apostas ganhas neste ano de 2018.

A cereja no topo do bolo será sem dúvida a subida ao palco dos Black Wizards para encerrar o Sonic Blast. A sua fúria e garra farão as delicias de todos, os sorrisos de todos e a sensualidade perigosa dos riffs não deixará ninguém indiferente a esta banda portuguesa que ainda tem muito, mas muito para nos oferecer.

No fim de tudo isto, o que apenas podemos dizer é mesmo Obrigada Sonic Blast por todos os segundos, momentos e memórias inolvidaveis que nos vão ser entregues para sempre na bandeja de prata que é a paisagem de Moledo! Até já!

Texto – Isabel Maria
Fotografia (capa) – Daniel Jesus | Sonic Blast Moledo’17