Backstage

Entrevista aos Fugly, uma incursão a Millennial Shit

É já nos dias 9 e de 10 de Fevereiro, no Maus Hábitos (Porto) e no Damas (Lisboa), que os Fugly começam a tour de apresentação do seu disco de estreia “Millennial Shit”. Estivemos à conversa com eles para sabermos mais sobre do que realmente fala este disco, mas também de como tudo começou e quais as suas expectativas para a tour internacional que começa já dia 13 de Março.

Música em DX (MDX) – Antes de mais, muitos parabéns por este disco delicioso! Dado que já passaram alguns dias desde que saiu, qual o vosso sentimento em relação ao mesmo e que tal tem sido a reacção ao “Millennial Shit”?

Fugly – Antes de mais, muito obrigado! Em relação à receptividade do álbum, tem sido porreira, muita malta que nunca vimos na vida a dizer que gostaram muito! Estamos ansiosos por começar a tocar de novo, afinal já estamos há 8 meses de ressaca!

Capa de “Millennial Shit” – desenho de Telmo Soares

MDX – O título do disco é sugestivo e susceptível a várias interpretações. Quem são estes Millennials a que vocês se referem e de que merdas estamos aqui a falar? Emocionais ou é a geração que só de si é mais frágil do que parece?

Fugly – Um disco é todo uma crítica à nossa geração, do sofá, debaixo da asa dos pais, com a vida pré-definida pelo sistema sócio-económico, dependente das redes sociais. Por outro lado dá valor ao que já conseguimos alcançar no que toca a várias questões sociais e até ambientais. Mas infelizmente o sentimento é de que isto é só movido por apenas algumas pessoas e não por um colectivo que é a nossa geração, que por mais informação que tenha disponível, não procura tentar fazer algo por isso.

MDX – Pedro, sendo tu o líder declarado da banda, as músicas foram compostas só por ti ou pelos quatro?

Fugly – O líder Pedro (risos) diz que parte delas, sim. Mas houve um esforço mais colectivo em criar este álbum.

MDX – Toda a sonoridade do disco remete para uma espécie de libertação, mas também de abismo passional, entre potenciais enamoramentos e uns copos. Este disco é uma espécie de purga, declaração de paixão ou de arrependimento? Ou tudo junto?

Fugly – É um “cocktail” de emoções muito elaborado. Depende de cada pessoa como é óbvio. Mas há muita gente que vive esta coisa do “ah e tal eu estou bem” e depois chega a casa e chora a ver o Rei Leão. Os copos já se sabe que levam uma pessoa a agir de uma maneira mais desinibida, de repente a tua vida que há cinco minutos era uma merda, agora é fantástica. Ou às vezes o contrário.

MDX – É um disco autobiográfico?

Fugly – Claro que há uma parte autobiográfica nas letras, temos que ter base um pouco nas nossas próprias experiências, mas também sentimos que é aquilo que vemos em vários amigos nossos que se perdem em saídas à noite e às vezes isso faz-lhes bem, outras vezes acaba por piorar a coisa.

MDX – Consideram o punk um dos vossos grandes alicerces? Quais são as maiores influências instrumentais e vocais?

Fugly – A música punk sempre teve algo a ver connosco. A simplicidade, a sonoridade crua, sempre nos disseram muita coisa. Que não precisas de ser virtuoso a tocar, desde que tenhas o espírito dentro de ti, consegues criar algo fantástico. Juntando isto a uma voz de rebelião, contra todo um sistema que tira o poder às pessoas mantendo-as na ignorância.

Agora em relação a Fugly existem claramente influências desses ideais, se calhar não somos mesmo “true”, mas temos imenso respeito por todo o movimento. Já todos fomos a concertos na Casa Viva e andámos de skate. Em termos de influências musicais propriamente ditas, é difícil escolher porque ouvimos hoje em dia tantos géneros de música que não sabemos bem dizer o que é que nos influenciou. Podemos dizer que Clash, Ramones, Buzzcocks, Dead Kennedys são influências, bem como Beatles, Pink Floyd, Zeppelin, Nirvana, Queens of The Stone Age, Radiohead e até bandas recentes como Oh Sees, Ty Segall, Fidlar, etc etc. Mas lá está, o que tentamos mais é não ser uma dessas bandas específicas, sermos a nossa própria identidade tendo estas bandas como inspiração. O que podemos dizer que não é nada fácil !

MDX – O que é que é mais importante para vocês enquanto banda? Ou seja, o que é que vocês gostavam que quem vos ouvisse sentisse?

Fugly – Que a malta apareça para nos ver, que a música lhes diga alguma coisa e que lhes inspire a tentar fazer algo por si próprias e pelos outros e não dependa sempre doutros factores familiares, sociais, etc.

MDX – Take You Home Tonight é uma das canções que vocês tocam desde sempre, mas não entrou no vosso EP passado. Por norma estas canções perdem-se na memória de quem testemunhou o início da banda, mas vocês decidiram agora colocá-la no disco. Vão continuar a tocá-la para sempre? (que é grande malha, isso sem dúvida!)

Fugly – Sim, temos todo o gosto em tocá-la daí termos incluído neste álbum. Agora se vai ser uma daquelas para sempre, não fazemos a mínima ideia.

MDX – Pedro, deixa-me fazer aqui um interlúdio só para que as pessoas saibam um pouco mais sobre ti. Quem está por dentro do circuito musical conhece-te (também) por fazeres som a algumas bandas como Throes + The Shine ou First Breath After Coma. Neste salto para o palco, achas que agora te vão passar a ver de maneira diferente?

Fugly – Opa sei lá, não sou o único técnico de som do mundo que também tem uma banda. Acho que a história não é nova. Tem mais piada a malta achar que os técnicos de som não têm sensibilidade musical, ou não entendem nada de música, lá porque andam sempre com ferramentas no cinto e t-shirt preta. Já assisti a casos espectaculares de técnicos a ensinarem os músicos como tocar e a deixá-los ficar mal. Acho que não é um “upgrade” ou um salto na carreira, é só algo que adoro fazer: estar envolvido no meio musical, sendo como técnico, como músico, como roadie, acaba por ser a mesma coisa.

MDX – Como é que surge Fugly? Sempre quiseste ter uma banda que vingasse? O facto de acompanhares bandas com sucesso crescente, como é o caso daquelas duas, deu-te o empurrão que precisavas?

Fugly – Sim, sempre quis ter uma banda, algo que eu pudesse ter para expressar aquilo que sinto, podia ter sido qualquer outra arte, mas música era o mais acessível para mim. Claro que estando envolvido com bandas emergentes, me ajudou. Diria que Lazy Faithful foi a banda que me fez ganhar mais vontade de procurar um projecto. Já os conhecia desde a minha adolescência e quando o Rafa e o Gil entraram na banda, fiquei apaixonado por eles. E quando comecei a trabalhar como técnico deles cada vez mais esse “bichinho” de estar a tocar me incomodou mais. Os Throes + The Shine e os FBAC já estavam noutro campeonato e deram-me a entender mais como funciona a industria da música e perceber como exportar as bandas para o resto da Europa, que é algo que ambiciono também há muito tempo.

MDX – Os teus companheiros de banda têm, também eles, outra banda. Sei que ao início havia um pouco o receio de vos considerarem quase um projecto paralelo, mas a mim parece-me que Fugly tem já uma identidade e personalidade muito próprios. Também sentes isso?

Fugly – Os meus companheiros de banda têm imensos projectos paralelos. Mas se estás a falar de Lazy Faithful, percebo o que dizes. Houve essa preocupação, dado que no início três quartos da banda eram eles mas nunca foi algo que condicionasse o futuro do projecto. E eventualmente aconteceu o Tommy sair, o Gil estar a meio gás e o Nuno entrar. Musicalmente claro que há algumas coisas que vêm do passado com Lazy Faithful, principalmente ali na secção rítmica (risos), mas é algo compreensível. Como também convivemos num meio completamente diferente deles, começámos a procurar a nossa própria identidade.

MDX – Brevemente vão fazer uma tour lindíssima pela Europa, juntamente com a banda leiriense Whales, com dezenas de datas. Sei que tu já andaste em tours destas a fazer som, mas agora vais enquanto músico de palco. Quais as maiores diferenças que achas que vais sentir?

Fugly – Ser menos responsável (risos). Como técnico sou mais rígido, mais sério e competente. Como músico sou um palhaço muitas das vezes. Mas não estou completamente ilibado das minhas funções técnicas. Vou sempre ter aquela vontade de questionar se aquele microfone ficou bem posicionado ou se a DI está ligada.

Fotografia André Coelho

MDX – Na banda há quem nunca tenha andado em tour. Têm falado sobre isso? Sobre expectativas?

Fugly – Acima de tudo , que seja para nos divertirmos. Já sabemos que o dinheiro não vai ser muito, que vão haver concertos bons e maus, mas vamos dar o nosso melhor e no fim ter histórias para contar.

MDX – Não deve ser fácil andar na estrada tanto tempo, ainda para mais com outra banda. Existe o perigo de se fartarem uns dos outros ou já têm técnicas para evitar que isso aconteça? (ehehe)

Fugly – Opa nós já todos andámos a porrada na vida, não seria a primeira vez (risos). Mas agora a sério, acho que nos vamos dar todos bem, vai passar mesmo rápido, nem vamos ter tempo para nos chatearmos.

MDX – Dia 9 começam a apresentar o vosso disco no Maus Hábitos e dia 10 vêm a Lisboa ao Damas. Já deram concertos em ambas as cidades. Sendo o Porto a vossa cidade mãe, os concertos acabam por ser mais eufóricos ou a capital também vos tem recebido com igual paixão?

Fugly – Já tivemos o prazer de tocar com casa cheia no Porto e em Lisboa. Foram concertos memoráveis sem dúvida. Acho que tocando em casa , ficamos sempre mais contentes, porque não nos podemos deixar de dar valor às nossas origens. Vão lá estar amigos nossos e família quase de certeza e não podemos esquecer quem nos apoiou desde sempre. A malta de Lisboa também é muito porreira, já tivemos reações muito surpreendentes por pessoal de lx !

MDX – Já vos disse que acho que vocês são do caraças ao vivo? Onde é que vão buscar toda aquela energia e estilo?

Fugly – Opa isso deixa-nos muito contentes ! O estilo é questionável, acho que temos ideias muito dispares no que toca a isso. Mas energia é algo que gostamos de soltar. Dentro de cada um de nós está um puto hiperactivo com muito açúcar nos cereais, perto de explodir, e é esse o sentimento que queremos dar a toda a gente.

MDX – Bem, resta-me desejar-vos o melhor possível e que o punk nunca morra!

Fugly – Obrigado e ROCK SEMPRE.

Millennial Shit Tour 2018
9 de Fevereiro – Maus Hábitos, Porto
10 de Fevereiro – Damas, Lisboa
16 de Fevereiro – Quina das Beatas, Portalegre
17 de Fevereiro – SHE, Évora
22 de Fevereiro – Tabacaria Teatrão, Coimbra
23 de Fevereiro – Clap Your Hands and Say Fest, Leiria
24 de Fevereiro – Boreal Festival de Inverno, Vila Real
2 de Março – El Corzo, Santiago de Compostela
3 de Março – Porta Onze, Monção
9 de Março – Sé Lá Vie, Braga
10 de Março – Café Avenida, Fafe
13 de Março – Madrid (Espanha)
14 de Março – Bilbao (Espanha)
15 de Março – Capbreton (França)
16 de Março – Toulouse (França)
17 de Março – Limoges (França)
18 de Março – TBA
20 de Março – Eindhoven (Holanda)
21 de Março – Antuerpia (Bélgica)
22 de Março – Available (Alemanha/Holanda/Bélgica)
23 de Março – Leipzig (Alemanha)
24 de Março – Hannover (Alemanha)
25 de Março – Available (Alemanha)
27 de Março – Poznan (Polónia)
28 de Março – Cracovia (Polónia)
29 de Março – Bolonha (Itália)
30 de Março – Napoles (Itália)
31 de Março – Roma (Itália)
1 de Abril – Perpignan (França)
3 de Abril –  Available (Espanha)
4 de Abril – Oviedo (Espanha)
5 de Abril – Lugo (Espanha)

Entrevista – Sofia Teixeira | BranMorrighan
Fotografia (Capa) – André Coelho | Fugly