Concertos Reportagens

The Black Wizards & Vircator no Sabotage, O feitiço do tempo

Sexta-feira e o Sabotage Rock Club esteve quase cheio para ver Vircator e The Black Wizards. Na verdade nada de novo. Quase todos os concertos de Black Wizards encheram o clube de Rock do Cais do Sodré. A novidade reside em perceber o que aconteceu à novidade em si. É uma redundância.

Uma banda que parece ter saído directamente da máquina do tempo consegue agarrar numa sonoridade da qual já parecia quase tudo ter sido feito e imprimir-lhe um cunho tão próprio e fresco que se transforma em novidade. Já passaram pela maioria dos festivais do género em Portugal e regressadas da tour europeia por conta do novo disco editado este ano com o sugestivo título “What the Fuzz” poderíamos até perdoar-lhes alguma falta de fôlego, mas foi o inverso que sucedeu. Fôlego não lhes falta, nem fogo, nem garra.

Os Vircator, banda instrumental mais orientada para a envolvência do pós rock, construiu um concerto satisfatório dando uma tónica musculada e mesmo dura ao arranque da noite apresentando o disco Sar-I-Sang em toda a sua força.

Mas a verdade é que a sala aguardava expectante o fuzz inquieto das Black Wizards que nos brindam logo no arranque com Build Your Home, faixa do novo álbum com uns inquietantes 9 minutos que aqui se multiplicam e desdobram para brilhar ainda mais. Freaks and Geeks quente e denso a que se sucedeu Floating Blues em modo jam.

Gipsy Woman a aquecer ainda mais o ambiente. Houve tempo para um solo de bateria arrebatador e para ter em palco Rui Guerra dos Quartet Of Woah para Everything is Good Untill The Trouble Comes. Seria Fire supostamente a última música mas nem a casa cheia e arrebatada pelo groove sincero deste quarteto quis, nem a banda se deixou ficar nesse impasse oferecendo assim o que lhe foi pedido.

A banda desdobrou-se assim em Lake of Fire para fechar com chave de ouro. Com o fogo no olhar e no corpo de todos os presentes, resta-nos a questão: Até onde poderão chegar estes feiticeiros?

Texto – Isabel Maria
Fotografia – Daniel Jesus