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The Underground Youth / Has A Shadow – Noite underground de culto

Domingo, dia 5 de Novembro. Casa cheia no Sabotage para se assistir a um concerto de The Underground Youth

Muito haverá a dizer deste colectivo que desde os seus humildes inícios em 2008/2009, e como projecto a solo de Craig Dyer, tornaram-se numa banda a sério com vários discos editados e várias passagens por Portugal. Para efeitos desta crónica basta referir que é já uma espécie de banda de culto e uma visita habitual em terras portuguesas, tal qual como uns velhos amigos que nos vêm visitar de tempos a tempos.

Estranhamente para mim, e apesar de os ir ouvindo e estar a par, esta era a minha primeira vez num concerto de The Underground Youth e após tantas e recentes vindas a Portugal, o Sabotage estava cheio num Domingo à noite.

Mal entrámos, apercebemo-nos de que existe uma geração indie muito jovem também a assistir a este concerto, quiçá, e em jeito de trocadilho com o nome da banda… enfim, vamos aos factos: coube aos Has a Shadow, banda oriunda do México, integrante do catálogo Fuzz Records que andou pela Europa a abrir concertos dos The Underground Youth e dos Telescopes, a primeira parte. Abriram com “The Flesh”, do álbum Sorrow Tomorrow e estava dada a tónica geral para esta actuação. O público atento viu-os desfilarem sete ou oito temas e a acabarem com a energética “Attack of The Junkie”!

Ainda fui depois confirmar ao bandcamp da banda e, essencialmente, todas as canções soam um pouco ao mesmo com a excepção talvez de “Horror Will Grow” que soa a uma canção com potencial, e que se calhar é a minha preferida. De qualquer forma foi uma actuação simpática e talvez haja espaço de progressão e talvez voltem num futuro mais ou menos próximo. Neste dia, do que vi, não me convenceram de sobremaneira mas também não fiquei desagradado.

 

A seguir, muito rapidamente já estão ao meu lado perto do bar, os The Underground Youth a terminarem as bebidas que têm na mão e a prepararem-se para invadir o palco. Eu que tenho seguido a carreira da banda, estava um pouco iludido quanto à escolha de temas que iriam apresentar ao vivo. Confesso que esperava que tocassem faixas como “Shadow” do Beautiful & Damned EP ou a mais antiga “Veil”, de entre outros meus preferidos e, ao invés disso tivemos muitas outras. Mas quem quer saber dos meus gostos pessoais de qualquer forma nesta crónica? Afinal o catálogo da banda já não é tão pequeno quanto isso.

Do novo trabalho What Kind Of Dystopian Hellhole Is This, pudemos ouvir os excelentes “Alice” ou “The Outsider”, canções bastante boas que vão sempre à boleia do ritmo que a percussionista vai desenhando ao fundo do palco. Aliás, esta é uma solução característica dos The Underground Youth: uma tarola e um timbalão de chão – tudo o que é preciso para imprimir ritmo às canções – depois, temos um baixo e duas guitarras, estava ainda um teclado em palco, mas ao que os meus olhos e ouvidos se pudessem aperceber nunca foi utilizado. 

Em “Morning Sun”, ouvem-se as rimas “your heart it feels like a loaded gun, let´s run honey, run into that morning sun” e são assim feitos hinos de angústia rebelde. São canções ainda mais despidas do que os originais de estúdio, com a voz muito característica de Craig Dyer que não sendo um grande comunicador, para além dos habituais “obrigados”, é um frontman seguro na interpretação. Prova disso é a já habitual rotina do vocalista de interpretar a fantástica e hipnotizante “The Rules of Attraction”, no meio do público enquanto o resto da banda debita igualmente o tema em palco, e é um grande tema sim, e foi o primeiro que me entusiasmou verdadeiramente. Pena é que estávamos no fim do concerto. 

Oiço o baixista dizer a alguém do staff do Sabotage que ainda voltam para um encore de quatro temas e, tocam mais três. Por esta altura comento também com alguém que “somos todos órfãos de Ian Curtis”, nós todos que enchemos este clube a um domingo à noite. A música dos The Underground Youth tem aquele apelo urbano depressivo que estranhamente também ilude os mais jovens. É raro ver tantos rostos jovens neste tipo de concertos e é claro que estavam alguns dos habituais apreciadores das sonoridades mais negras digamos assim, do indie, mas a actuação destes urbano depressivos com sabor a Cramps e a Joy Division, realmente fazem as delícias de um público que vai dos dezoito aos “entas”. Posso dizer que gostei do concerto embora não me tenha enchido as medidas. O ambiente acolhedor que se vivia no Sabotage de clube cheio ajudou à festa. E digamos assim, é curioso pensar que esse é o grande mérito dos The Underground Youth: possivelmente podem um dia tornar-se um caso sério de sucesso tal como uma banda como os The Cure, que também não eram muito entusiamantes ao vivo no principio, mas tinham um… “je ne sais quoi” na sua música que os catapultou para outro patamar. Reconheço que os The Underground Youth têm essa característica e som personalizado que, quem sabe os levará para voos mais altos no futuro. Para já, são uma banda de culto e viveram em esplêndido esse estatuto numa noite em Lisboa neste clube no Cais do Sodré. 

 

Texto – Pedro Corte Real
Fotografia – João Rebelo