Backstage

Barry White Gone Wrong – Entrevista com Peter De Cuyper

Falámos com Peter De Cuyper, voz e frontman do colectivo Barry White Gone Wrong, uma semana antes do lançamento do terceiro videoclip “Chill Pill” de promoção do primeiro álbum da banda: Tornado

Numa tarde de sol numa esplanada em Lisboa contou-nos como tem sido a vida desta banda que nestes últimos meses por cá e lá por fora, anda a promover o disco, a gravar videoclipes em série e a organizar novas tours.

 “Deixa-me só aqui pôr isto a gravar…”

– Vamos gravar em estéreo? … posso cantar uma, à capela… no caminho para cá, na mota, estive a cantar Fui Colher Uma Romã do início até ao fim. Adoro cantar alentejano, adoro adoro, adoro.”

Música em DX (MDX) – Peter, obrigado por esta entrevista nesta aventura Barry White Gone Wrong. Alguns meses depois da edição do Tornado, sei que tens andado na estrada, inclusivamente já foram tocar à Bélgica, deram bastantes concertos em Portugal, têm datas em Espanha, Cabo Verde… como é que foi rodar todo esse material do álbum juntamente com as outras músicas que já tinham e como é que está a correr a aceitação do disco?

Peter De Cuyper – Está a correr bem, acho, tenho a certeza de que este foi o ano mais produtivo dos BWGW. Para a semana vamos lançar o nosso terceiro videoclip e o terceiro single do álbum, até agora tocámos mais uns 15 concertos e depois vêm aí mais 16, foram todos positivos, e na Bélgica também. Em Portugal, abdiquei do meu verão para conseguir marcar a tournée que aí vem em Novembro. Sobre o Tornado, saíram criticas óptimas em todo o lado, espero ver ainda mais em mais lados, temos aqui um excelente disco que eu gostaria de ver chegar a mais ouvintes e a mais leitores. Foi tudo super positivo, está a ser um melhor ano e sim, trabalhoso.

MDX – Vamos aqui fazer um flashback. Gravaram Tornado nos Black Sheep Studios, foram produzidos pelo Tatanka, que é também um dos músicos convidados, sei que também há outros músicos convidados nas vozes e noutros instrumentos. Resume esse período agora mais amadurecido na tua cabeça e conta-me como foi esse processo de gravação e essa experiência com outros músicos em estúdio. Houve muitas noites sem dormir, conta-me como foi tudo isso?

Peter De Cuyper – Isto, as noites sem dormir, é normal (risos) a noite não é para dormir…! (risos). A experiência, foi óptima. Primeiro, o Black Sheep é muito acolhedor, o Bibi, o Carlos, o dono, pah, ajuda imenso, é um querido, é músico também, sabe, conhece, e senti-me logo do início muito bem lá. O Tatanka a produzir, isto foi uma ideia de há já quatro ou cinco anos atrás, e por acaso adoro quando isso acontece, quando planejo uma coisa e consegues fazer nem que seja cinco anos depois. Tenho outras situações iguais, o primeiro videoclip Dynamite, por acaso foi o primeiro single do álbum porque foi gravado antes. Também aqui,  a ideia do videoclip, eu tinha 17 anos, e não parava de falar, regularmente falava disso, especialmente quando estava com os copos… (risos) a cena do anão… e 17 anos depois, fiz…

MDX – … Já te ouvi dizer uma vez nas redes sociais que querias fazer quase, não era uma trilogia, mas uma sequela de vídeos com anões e cada vez com mais anões, transformavas-te em Branca de Neve e… (risos)

Peter De Cuyper – … Sim, sim, sim, exacto até chegar aos sete, e depois fazia uma operação e transformava-me em Branca de Neve e acabava aqui a história… (risos)

MDX – Mas voltando ao estúdio, fala-me desse processo. 

Peter De Cuyper – Eu sabia que o Tatanka ia ser o produtor ideal. Acho que toda a gente na vida tem estas coisas e que sabes que vai correr bem, é tipo quase um amor à primeira vista, mesmo tendo mulher ou não, consegues encontrar alguém que podia ser um parceiro ideal, e sabes disso. E foi isso que aconteceu e fora ele ser um músico incrível, o Tatanka tem um carácter fantástico, uma pessoa muito amável e fez um trabalho que nós estávamos a precisar, era mesmo aquele. Por acaso o Miguel Décio, não estava bem a ver como ia ser a gravação, e pensava que ia ser mais como dantes… mas depois percebeu logo após a primeira noite que o Tatanka estava aqui envolvido e o Carlos do estúdio, também, e que era mesmo um projecto em grupo. O Tatanka começou logo a falar em outros músicos que poderia disponibilizar por pouco dinheiro, ou sem dinheiro, tipo a Orlanda e a Mila que cantam com o Rui Veloso e com os The Black Mamba, e então foi incrível ter essa ajuda e a qualidade, não é? E a qualidade: foi  por isso é que esperámos anos para gravar o álbum porque sabíamos que não íamos conseguir chegar lá, em termos financeiros e também em termos de pessoas…

MDX – … E esperaram pela conjugação ideal de factores, é isso?

Peter De Cuyper – Sim, sim, exacto. E eu acho que vale sempre a pena esperar, vale mesmo. E as coisas acontecem no momento ideal, também mudei de trabalho para ganhar melhor, que já dá uma melhor base para eu poder trabalhar na banda, mas também mais tempo para eu me dedicar à banda, não só pelo lado artístico mas também pelo lado da produção, o management e tudo porque até agora, fui eu sozinho mas em breve vamos assinar… mas ainda não posso falar nada sobre isso.

MDX – Vai haver portanto notícias do lado mais empresarial a nível do agenciamento da banda?

Peter De Cuyper – Exacto, exacto.

MDX – Voltando aqui aos videoclipes, lançaram um primeiro para “Tornado” o segundo foi  “Always On The Road” e, já vamos falar de um terceiro que aí está para vir. No caso do “Tornado”, penso que as pessoas já perceberam facilmente aquela ideia arriscada e sensual que vocês fizeram e quiseram transmitir no vídeo. A nível do “Always On The Road” que é uma música ainda mais rock’n roll, qual foi a inspiração?

Peter De Cuyper – A inspiração, foram as imagens porque pedimos ao Gaspar Hötel e ao Nuno Gervásio para irem filmar e tirar fotos e o Gaspar ficou mesmo muito nosso amigo e completamente envolvido entretanto no projecto, aliás, ele às vezes até toca connosco também, ele agora é realizador, editor, cameraman e havia tanta, tanta imagem de estarmos “On The Road” e a tocar, que oh sim, olha, vamos aproveitar também: é um clássico, gosto de fazer as coisas clássicas e até tenho um backup list de coisas clássicas que têm de acontecer. Fiquei muito feliz também, não foi com esta banda, mas com a outra, quando fiz o meu primeiro playback na televisão, achei fantástico.

MDX – Tu já tocaste no Festival Paredes de Coura…

Peter De Cuyper – … Sim, com os Peephole, foi com os Peephole, (Jesus!) em 1998…  quase há vinte anos…

MDX – … Vinte anos, o que é que é isso no rock’n’roll? não é nada, são dois minutos…

Peter De Cuyper – Não é nada, também foi o meu primeiro projecto e eu já tinha 26 quando comecei com isto tudo…

MDX – Neste caso, no caso desta banda o que eu sinto é que vocês tem um núcleo duro e depois há várias  pessoas que por afinidade e como referiste inclusivamente, pessoas que acabam por colaborar em videoclipes, acabam também por querer envolver-se musicalmente  com a banda e isso tudo, isso acontece porque vocês são uma banda que ao mesmo tempo tem facilidade de fazer amigos e também de ver o que é que há de melhor nas pessoas para contribuírem para a vossa música. Há sempre outros caminhos também por explorar e acabam por aparecer as pessoas certas?

Peter De Cuyper – Isto, o melhor das pessoas então é a coisa mais importante e também na banda, especialmente quando passas mais tempo com as pessoas. Temos um núcleo duro. Da primeira formação dos BWGW ainda sobram três pessoas que sou eu, o Miguel e o Mário, entretanto também o Pedro Frazão, o baterista também já começa a fazer parte disto, já está há três ou quatro anos connosco. E há outros amigos que às vezes ficam envolvidos ou dão dicas, ou ajudam, vão ver os concertos e fica sempre ali um grupo de amigos. Também no início havia aqueles que eu convidava por estar tão entusiasmado com o projecto e saía à noite, encontrava alguém que tocava trompete e um dia depois, já estava a tocar connosco, era aquela coisa do glamour romântico só que depois já não era possível por causa da logística (risos) chegámos a estar com nove e dez elementos em palco… e tínhamos coros e sopros. Resumindo, as participações e os convites de outras músicas, dão sempre um ar fresco. Convidámos o Tiago Albuquerque que já tinha tocado connosco na apresentação do álbum e só a presença dele lá, com o teclado (supostamente era saxofone, mas ele teve um problema com o saxofone e então, veio com o teclado) ele fez ali com duas ou três notinhas, fez dois ou três milagres o que para nós, é claro, era isso que precisávamos. É tipo quase como se fosse o produtor quando vais gravar. O trabalho que o Tatanka fez na gravação, fazem estas pessoas, quase em ensaios ou em preparações para os concertos, porque vêm com outra visão, já não fazem parte daquele núcleo… nós já nos conhecemos e às vezes podemos cair naquele lado mais fácil, mais óbvio, é natural.

MDX – Isso leva-me à próxima pergunta que aqui tenho… vocês têm uma forte componente blues, soul, rock, swing e são ao mesmo tempo uma banda com um sentimento “happy” no sentido em que transmitem essa energia, esse clima de festa em palco também, mas que ao mesmo tempo consegue ser levada a sério, não apenas como uma banda para as pessoas se sentirem bem, mas como uma banda com um estilo rock e diferenciado, isto independentemente seja pela proficiência dos músicos com os instrumentos ou pela tua voz. O que é que achas que falta para as editoras apostarem a sério numa exportação de um género como o vosso para o resto do mundo? ou seja, tirando aquelas coisas que aconteciam há uns anos em que as bandas eram inseridas em certames (e que ainda acontece um pouco disso hoje em dia) o que é que falta para as editoras apostarem a sério numa exportação de um género? isto porque vocês têm tido facilidade em tocar lá fora…

(entretanto alguém se junta à conversa)

“… boa tarde, tem dinheiro para comprar alguma coisa para comer? estou a viver na rua, é para comprar alguma coisa para comer, pode ser um cigarro?”

“vais comer um cigarro?”

“não quero comer um cigarro, vou fumar um cigarro… queres-me dar aqueles 20 cêntimos? obrigada não quero estar a chatear… desculpa estar a chatear… obrigado”

MDX – … Faço esta pergunta porque vocês pelos vossos meios, têm alguma aceitação já com um primeiro disco lá fora e vão tocar, não é, não precisam propriamente de uma editora…

Peter De Cuyper – Até agora, fomos completamente independentes, numa primeira parte e respondendo à tua pergunta: há uma grande variedade nas nossas músicas, realmente há muitos estilos ali, e eu vejo o concerto tipo  como um bom filme, ou como uma boa série, não é, também acontece tudo e qualquer coisa, não é só acção, também há emoções, também há close-ups, há planos de longe, há de tudo, não é? por outro lado, seja que estilo for, mesmo o lado mais puro, tens que ser muito bom mesmo, muito bom para conseguir sobressair daquela quantidade de pessoas que faz ou que já fizeram isso. Temos tantos exemplos ao longo dos anos, aqueles estilos puros, especialmente no blues então… o blues puro, yah, tem que se ser melhor do que eu para fazer isso (risos).

MDX – Vocês naturalmente são uma banda que mistura estilos, mas têm um estilo próprio, e isso é uma mais valia. Tendo esse estilo próprio, é um pouco como tu referes, se fôssemos exportar apenas um género e sendo apenas um género, terias possivelmente um mercado mais limitado e terias que ser muito bom, porque lá fora poderia haver igual (há sempre essa mania de comparar…) mas no vosso caso, vocês conseguem exportar-se ou pelo menos exportar a vossa banda, meterem-se num avião e irem tocar num palco lá fora.

Peter De Cuyper – Também graças à minha família na Bélgica por exemplo, naquela primeira tournée, eu poderia dizer que foi tudo muito bonito e fantástico e não sei quê, e obviamente que foi, mas foi com ajuda

MDX – … Mas é isso que os músicos precisam, geralmente são as editoras ou os managements que ajudam e vocês são “do it yourself”. 

Já foram, vão voltar, conseguem aceitação, o que é que falta para haver alguém que pense assim: nós não precisamos de estar sempre a exportar só o fado” temos que começar a pensar noutras coisas mais.

Peter De Cuyper – O que se passa é que em Portugal não há um circuito como deve ser. Não há um circuito em que consegues pôr a tua banda do Algarve até ao Norte e fazer uma tournée de três semanas aqui, que noutros países é bem possível fazer, em Espanha, por exemplo e obviamente que também é muito maior, mas existe mais aquele culto de rock nos bares, aqui também existe mas é muito à base de covers, o que é normal porque as pessoas têm de ganhar dinheiro e os bares têm que fazer render… e esta falta das editoras apoiarem estas bandas, faz com que menos gente vá ver concertos de bandas originais, que não querem gastar dinheiro e nem vão lá, não é? e torna-se um ciclo vicioso, pois os bares não podem expor, ou em certas condições não tão boas do que quando é uma banda de covers, o que eu não tenho nada contra, mesmo, nada, nada, nada. Conheço muito boa gente e músicos incríveis que tocam em bandas de covers e tributos, mas é uma pena que são quase forçados a isso. As editoras e as agências podiam ajudar bastante nisso e começarem outra vez a ir ver, porque há tanta música boa… e depois acho que  eles ficam assim um bocado presos a um certo estilo. Voltando uns anos atrás, quando eram os Ornatos Violeta, e depois de repente, estamos a ouvir muitos clones… dos Ornatos e também muitos clones dos Linda Martini e depois as editoras apoiam os clones desse tipo de música porque pensam “epah aquele vende…”, é tipo as lojas dos trezentos na altura, aparecia uma e de repente, estavam cinco na rua.

MDX – (risos) Eu compreendo, compreendo. As editoras ou os supostos agentes, têm que ser convencidos de algo do género: primeiro vende, para depois apoiarem clones, é isso? assim de repente, mata um pouco a originalidade, não? (gargalhadas)

Peter De Cuyper – mata um pouco… sim… isso… pois… (risos) parece que tu até nem sabes que isso acontece. Obviamente, não é…?

MDX – Qual é o segredo de um bom tema BWGW ou seja, neste álbum como é que funcionou o processo de composição, e para ti, qual é o segredo da química de um bom tema BWGW em interação com os teus músicos? como é que por exemplo tu fazes nascer ou escolhes uma música que vai sair num álbum? tendo em conta que este ainda foi o primeiro.

Peter De Cuyper – Varia um pouco de música a música. A música tem de poder passar na rádio e não chatear ninguém. Adoro a reacção do tipo: ”epah isto faz-me lembrar aquele e aquele” e depois aparece um tipo com trinta coisas diferentes… gosto disso. Não é ir atrás dos clichés, mas pôr uma coisa reconhecível na música e não complicar. Também com as letras, não complicar as letras. Mesmo alguém que não fala muito bem inglês consegue perceber o mínimo do que é transmitido.

MDX – Hoje em dia o inglês já não é tanto como uma barreira.  Antigamente, as bandas chegavam às editoras e: “não cantas em português, não dá” isso agora já mudou, isto no seguimento da conversa anterior.

Peter De Cuyper – Os mais clássicos cantados em português, os fados e mais recentemente o António Zambujo, a world music, chegam lá fora. Nisso, as editoras e as agências fazem um trabalho fantástico todos eles chegam lá fora. Porque há um mercado enorme e a world music tem um público muito fiel que por acaso é o público ideal, acho eu. O Público vai aos festivais e talvez só conheçam um ou dois nomes e confiam mesmo no estilo, na programação e no bom gosto das agências e dos promotores. Acho que em Portugal falta um pouco disto no rock e na soul.

MDX – Não te parece que pode acontecer-te o mesmo, por exemplo neste caso, se fores tocar à Bélgica e não seja para alguma comunidade portuguesa, não achas que se lá fosses cantar só em português, terias mais alguma dificuldade? Aí seria o reverso da medalha.

Peter De Cuyper – No estilo de música não, tinha que ser uma coisa mais world music, não estou a ver bandas mesmo de música alternativa também irem tocar lá fora só em português.

MDX – Imagina que vais tocar em português para um clube na Bélgica, terás uma aceitação tão grande quanto cantares em inglês? o inglês ainda continua a ser, “digamos assim” a língua universal. 

Peter De Cuyper – Olha… Nunca tentei isso… (risos) nunca tentei isso…

MDX – Já agora, isso remete-me para uma pergunta interessante: no próximo álbum de BWGW, uma música em português ou em francês, poderá acontecer ou não? 

Peter De Cuyper – Poderá acontecer… ai ai, ainda antes em português… já andei aí numas tentativas.

MDX – Já tens uma colaboração precisamente com o Zambujo

Peter De Cuyper – Sim, exacto, mas ele cantou em inglês comigo.

MDX – Sim, precisamente, mas até que ponto é que tu, por exemplo achas que é seguro ir sem perderes a identidade da banda, do projecto. Chega uma altura em que as vendas são importantes

Peter De Cuyper – (suspiro) Ai… as vendas…

MDX – Esta é sempre a pergunta mais desconfortável. (risos)

Peter De Cuyper – Não, não acho nada desconfortável… as vendas, obviamente que é importante, nós também temos família e filhos e rendas para pagar, é obvio que é importante também para provar que também vale a pena o trabalho que temos feito ter resultados financeiros. Agora, se é o dinheiro que me motiva, não, mas pode ajudar na minha motivação.

MDX – Nem que seja para fazer mais três discos muito mais confortavelmente.

Peter De Cuyper – Discos e videoclipes!

MDX – A propósito de videoclipes, fala-me do próximo que vai sair daqui a uma semana, não é?

Peter De Cuyper – Vai sair no próximo dia 29 de Outubro. Há pouco falaste no “Always On The Road”…  estou mesmo muito contente com o vídeo, mas como te como disse é um clássico, no fim tem um “twistezinho” ali, mas não é aquele vídeo mesmo BWGW. O próximo, é: o video BWGW, é.  Também não há anões, há pessoas mais pequenas.

MDX – Gostei muito do vídeo do Tornado. Para primeiro vídeo acho que resultou muito bem. Aquela ousadia, aquela sensualidade… 

Peter De Cuyper – Acho que é como se fosse um excerto de uma série… ou de um filme… é assim que eu vejo…

MDX – Mas vai haver mais sensualidade no próximo vídeo? porque a sensualidade também faz parte da música soul, do rock. Há sempre uma componente sensual também nas vossas apresentações cénicas.

Peter De Cuyper – Eu acho que, quem achar o nosso próximo vídeo sensual, precisa de procurar ajuda… mesmo… é logo internar… logo… (risos)

MDX – (gargalhadas) Eu achei o primeiro vídeo com o anão, um pouco sensual, de certa forma. Precisarei de ajuda?

Peter De Cuyper – Não só o anão… houve a parte com a Rita… incrivelmente, a minha mulher gostou muito mais de me ver com a Rita do que com o anão… (risos)

MDX – (risos) Ok. temos que confiar mais nas mulheres, sobretudo no que diz respeito às coisas artísticas… Fala-me então do teu próximo video. 

Peter De Cuyper –  Vou contar-te em primeira mão. Foi gravado na Bélgica no último dia da tournée, depois do último concerto e da cerveja belga à fartura… e eu não tinha visto o sitio onde íamos gravar, apenas o tinham descrito… não vou contar como foi, porque vão ter que ver. Mas foi surreal. A maior descoberta foi a descoberta de uma actriz incrível: a minha mãe. O meu filho também entrou com uns grandes óculos de sol, mas ele não gosta que eu fale muito sobre disso, não gosta de atrair as atenções… O video foi gravado pelo Gaspar, e baseámo-nos um bocadito no The Shining.

MDX – Tendo em conta que a tua mãe entra, o teu filho entra, e o video é baseado no The Shining, reconheço que poderá não ser sensual.

Peter De Cuyper – Naquele dia, demos um concerto privado no local onde íamos gravar e foi aí que encontrámos uma figura incrível, o Aytekin Aytee Kane Cesmeli (aka Dj Aytee Kane), que também entra no vídeo. Ele é cabeleireiro, DJ, é um turco belga, fizemos uma grande amizade, se calhar umas das coisas mais importantes deste videoclip, um grande amigo. Ah, e nem uma bebé foi magoado nas gravações.

MDX – E quanto a concertos? 

Peter De Cuyper – Demos 14 concertos até agora e temos mais 16 marcados.

MDX – Têm as músicas do Tornado e outras músicas que já foram lançando e tocam uma versão muito boa, lembro-me que a ouvi no Sabotage…

Peter De Cuyper – … Do Iggy Pop, por causa do aniversário do Iggy Pop. O set-list depende um pouco do sítio onde tocamos e do público também. Por exemplo agora para Espanha estou a ensaiar uma coisa meio-espanhola, mais para o mexicano, é uma versão do meu ídolo, o Mark Sandman.

MDX – De que maneira é que têm alterado o set-list nos concertos? Ir tocar lá fora dá a oportunidade de cantar coisas novas e de variar precisamente no set.

Peter De Cuyper – Sim, para variar, percebemos perfeitamente que nem sempre conhecem as músicas, e se houver uma ou outra versão ali, é bom para variar. Na Bélgica por acaso tocámos duas músicas em flamengo e foi super divertido ouvir todos a cantar comigo no refrão.

MDX – Vocês tentam sempre ser originais em tudo, seja no lado glam visual dos vossos videoclipes, e depois há ainda a caixa de madeira artesanal e bonita do CD, como é que surgiu essa ideia? 

Peter De Cuyper – A caixinha, é mesmo artesanal. Foi o Francisco Pinho da Media Sound, ele disse-me que ia fazer uma coisa especial e eu confiei no bom gosto dele e são feitos à mão e por isso são todos diferentes. Vai ter agora uma segunda edição com umas pequenas diferenças, não na caixa, mas no papelinho e na bolacha e no CD em si também, vão estar à venda nas Fnac, no El-Corte Inglês e para venda on-line.

MDX – Hoje em dia achas que é muito mais fácil vender on-line ou nas lojas?

Peter De Cuyper – … Nunca tive um disco nas lojas… apenas em compilações, por exemplo, da Antena 3, a compilação dos novos talentos e vendeu bem, preço muito acessível. E nos concertos, temos para além do CD, umas t-shirts também e uns saquinhos de pano em todos os concertos.

MDX – E planos para os próximos tempos?

Peter De Cuyper – (sorrisos) Vamos gravar outro vídeo, já, no dia 7 de Dezembro. Vamos gravar no Piolho, na Tocha porque a música é sobre um concerto e uma festa que tivemos lá, Black Out Alert.

MDX – Tu levas o teu conceito a quem está a desenvolver a ideia do vídeo e tentas sempre puxar a tua ideia para a frente e depois eles travam…? como é que funciona essa dialéctica da cena?

Peter De Cuyper – Os “out-takes” são qualquer coisa… tenho out-takes do Dynamite… um dia faz-se isso.

MDX – Planos para o futuro: gravaram na Bélgica, vão a Espanha, Cabo-verde, isto vai manter-te ocupado “on the road” no final deste e do próximo ano. Vão também gravar um segundo disco?

Peter De Cuyper – Vamos estar no mês de Novembro inteiro e uma parte de Dezembro e depois vamos começar de novo no próximo ano, para além de Cabo-verde, vamos ainda dar um concerto na Bélgica num grande evento. Em Janeiro estamos a pensar se calhar começar a trabalhar em músicas novas para o segundo disco. Tenho ideia de que vai ser mais calmo, mais orgânico. Manter as coisas simples e estar mais concentrados nas vozes e na letra.

MDX – Fantástico, Peter. Desejo-te muitas felicidades com o Tornado que ainda está a fazer ondas e que espero que ainda faça muito mais ondas com estes concertos todos que tens pela frente. Por último, gostava que referisses para os nossos leitores alguns concertos que tens em agenda, e onde seja possível encontrar-vos pelo menos antes do final do ano.

Peter De Cuyper – Aqui em Lisboa, por exemplo dia 4 de Novembro no Ferroviário, depois dia 11 na Praia das Maçãs, em Sintra. Depois vamos começar a tournée europeia e vamos subir para norte, vamos tocar no Will’s Rock Club, dia 17 em Lousada, dia 18 no CRU em Famalicão e depois vamos para Espanha e subir por ali… Vigo, perto de Lourenço também, Évora no Armazém 8… Temos ainda antes a Tocha, com a gravação do video, também. Subimos para iniciar a tournée europeia e depois voltamos a descer para mais concertos em Portugal.

MDX – Mais alguma palavra para os nossos leitores da Música em DX?

Peter De Cuyper – Quero agradecer a vocês, à Música em DX (e aos eléctricos que facilitaram o nosso trabalho) e obrigada aos leitores por estarem a ler esta entrevista. Tenham em atenção a nossa actividade on-line, trabalhamos imenso e estamos sempre a divulgar ao máximo e apareçam nos concertos!

Entrevista – Pedro Corte Real
Fotografia – Nuno Cruz