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Dream Theater, Titãs na comemoração dos 25 Anos de Images and Words

Dream Theater é um nome que dificilmente causa qualquer tipo de estranheza a amantes de metal. Surgiram em 1988, três anos depois de John Petrucci, John Myung e Mike Portnoy se terem juntado para compor música. Hoje em dia a formação conta com Petrucci na guitarra, Myung no baixo, Mike Mangini na bateria, Jordan Rudess nos teclados e James LeBrie na voz. São quase trinta anos de estrada que voltam a ver o Porto como destino, desta vez para comemorarem o vigésimo quinto aniversário do disco que os lançou para os grandes circuitos do metal progressivo: Images and Words, lançado em 1992. Foi com o tema Pull Me Under que os Dream Theater se viram finalmente a ser reconhecidos por rádios e crítica especializada e hoje em dia são uma banda de culto.

Antes de falar sobre o concerto há algo que tenho que deixar registado, perdoem-me o aparte pessoal. Faltava mais de uma hora para aquele que seria um espectáculo de três horas, e já a Rua Passos Manuel transbordava. Agora imaginem, Dream Theater já leva quase três décadas de existência. Seria, talvez, de esperar que boa parte dos fãs tivessem pelo menos uma idade acima desse marco. Eu própria ainda não tenho trinta anos, mas o que me fascinou foi ver rapazes e raparigas adolescentes completamente aficionados que mais tarde cantariam a bons pulmões todas as músicas. Terminada a primeira música, não foi de estranhar o comentário de LeBrie, após ter cumprimentado o público, dizendo logo que muitos de nós (público) provavelmente ainda não tínhamos nascido quando Images and Words foi lançado, em 1992. Eu tinha quatro anos, só os viria a conhecer dez anos mais tarde quando iniciei a minha incursão primeiro pelo rock e depois pelo metal, mas a energia unificadora que se sentiu entre as várias gerações causou arrepios. Consegui um lugar numa segunda fila e ao meu lado tinha dois irmãos (um rapaz e uma rapariga completamente adoráveis) certamente mais novos do que eu, tinha malta da minha idade, mas também tinha pessoas já nos seus valentes “entas”.

Foi com este espírito comprometido e compenetrado por parte do público que a banda acabou por entrar em palco abrindo com The Dark Eternal Night, música do disco Systematic Chaos. A componente visual, normalmente bastante trabalhada, apresentou-se simples e eficaz com a consequência de prestarmos muito mais atenção à performance de cada músico. E aqui tenho que tirar o chapéu a estes cinco artistas, pois poucas são as bandas que hoje em dia me causam um fascínio tão grande no que toca à sua qualidade e à sua entrega à música. Os Dream Theater são uma das bandas mais importantes no que toca ao metal progressivo e a solidez e a garra com que se entregaram ao concerto faz-nos crer que ainda estão para ficar durante o tempo que lhes for permitido. Não querendo que este texto se transforme numa descrição da setlist, que podem consultar aqui, prefiro antes destacar os momentos mais marcantes. O concerto aconteceu em duas partes mais encore. Na primeira, a banda percorreu parte do reportório dos discos já lançados, a segunda consistiu então no Images and Words de uma ponta à outra, e para encore a banda escolheu A Change Of Seasons na sua versão completa. Foi uma última meia hora a partir tudo, mas já lá vamos!

Da primeira hora de concerto quero destacar o solo de John Myung, num tributo ao baixista Jaco Pastorious, que foi magnânimo. Há que destacar que estamos perante um baixista que tocou durante quase três horas num baixo de seis cordas sem nunca usar uma palheta. A sua energia e interacção com o baixo é tão una que é impossível não ficarmos impressionados. Existe uma beleza muito sublime na música e este foi um momento de contemplação genuína. O solo acabou por servir como introdução a um dos meus temas preferidos de sempre dos Dream Theater, As I Am, do disco Train of Thought, que teve também direito a uma parte de Enter Sandman dos Metallica. Conseguem imaginar a força que o concerto estava a ter, não conseguem? A primeira parte terminou com Breaking All Illusions, em que assistimos a mais momentos instrumentais de uma qualidade estonteante, ficando ansiosamente à espera da segunda parte.

A segunda parte do concerto, com Images and Words em acção, não começou sem antes ouvirmos samples de vários clássicos rock de 1992, com LeBrie a perguntar-nos se tínhamos noção da concorrência que tinham na altura. Foi precisamente com Pull Me Under, a primeira música desta segunda metade, que eles se catapultaram para se tornarem numa referência mundial. Pulmões bem cheios, o público já delirava. Ao percorrer este disco já com um quarto de século, fomos afortunados no que toca aos momentos instrumentais com destaque individual. Ainda não falei muito sobre Petrucci, mas será que é mesmo necessário? O homem é um guerreiro em palco e os portentos sonoros que arranca de cada guitarra provocam sempre um enorme fascínio. A velocidade, a intensidade e os contrastes melódicos têm já uma identidade tão própria que foi fácil reconhecer Glasgow Kiss quando este introduziu parte da mesma, chegado o seu solo, no tema Take The Time.

Individualmente, como já referi anteriormente, todos estes músicos têm grande qualidade e LeBrie sabe como adicionar, com a sua voz, a emoção perfeita para as letras que acompanham os instrumentos. Tem também o sentido de humor ideal para, numa pequena pausa, com a ajuda de Petrucci, nos contar que quando lançaram Images and Words, e se enfiaram todos numa carrinha com um manager, só comiam hambúrgueres e queijo. Que eles bem queriam o per diem deles, mas que até quando se viram numa situação com um agente da polícia e o quiseram subornar só tinham… queijo! E estes pequenos momentos de comunhão fizeram com que o coliseu vibrasse de sorrisos e risos. Durante aquelas horas fomos todos uma grande família.

De volta ao concerto, em Metropolis Pt.1 foi a vez do baterista Mike Mangini mostrar do que é feito e amenizar quem diz que a banda nunca será a mesma que era com Portnoy. A verdade é que adorei a energia e a simpatia de Mangini e este deu mais do que provas de que é bem capaz e de que está bem integrado. Outro momento bem merecido foi a introdução estendida para Wait for Sleep por Jordan Rudess. Estivemos perante mais um mestre na sua arte e o facto de ter os teclados rotativos em palco, permitindo-lhe uma dinâmica rara nos teclistas, acabou por aproximá-lo bastante do público.

Terminada Learning to Live, ninguém queria que o concerto acabasse, apesar de já terem passado duas horas e meia, e a banda não se fez de rogada, mostrando que o palco é a sua casa e tocando de rajada A Change of Seasons, as setes partes, ininterruptamente. É sem dúvida um tema muito forte, com uma letra cheia de significado e foi uma bela maneira de dar a noite por terminada. Saíram do palco exactamente três horas depois de entrarem e mostraram com eficácia, elegância, paixão e arrebatamento o porquê de serem titãs no seu género e uma banda de culto com um público tão dedicado. Para mim, um concerto memorável.

Texto – Sofia Teixeira
Fotografia – Hugo Adelino
Promotor – PEV Entertainment | Prime Artists