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Uma viagem cinematográfica à sala de espera dos Tindersticks

Teatro Tivoli BBVA, 26 de Outubro, 21h39 – Lisboa estava prestes a assistir à apresentação de The Waiting Room, dos Tindersticks. Com mais de 20 anos de banda e duas mãos cheias de discos, era notória a emoção por parte do público que lotou o Teatro. O início, com Follow Me, dava ares de atmosfera cinematográfica ou até mesmo teatral. Sem dúvida que o local escolhido para este concerto foi o ideal e não foram raras as vezes em que acabei por imaginar outras figuras a invadirem o palco, numa performance dramática que de alguma maneira extravasasse fisicamente o que nos era transmitido sonoramente. Terminada esta introdução, apenas entraram os membros da banda, mas não poucas vezes a minha mente voltou a trazer outras personagens para cima do palco. Acho que quando a música tem este poder de invocar algo mais é sinal de algo está a ser bem feito.

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Devo confessar, apesar de esporadicamente me ter cruzado com músicas dos Tindersticks, nunca foi uma banda que seguisse muito atentamente. Nunca os tinha visto ao vivo. Dito isto, posso afirmar que foi uma boa surpresa. Quando ouvi The Waiting Room pela primeira vez com atenção, senti que era um disco que nos falava à mente e ao coração e que tinha uma energia muito própria. O tipo de harmonias que exploram nem é do que costumo ouvir mais, mas soube-me bem, principalmente porque a parte lírica está muito forte, criando uma simbiose consistente e muito bonita. Ao vivo, pude constatar isto e ainda testemunhar algo que me surpreendeu: Stuart Staples mostra um lado tão cândido quanto ousado, dependendo do que está a cantar. Não é de grandes interações, ou pelo menos não foi naquela noite. Perto do final do concerto agradeceu os aplausos do público, que foram constantes e fervorosos no final de cada tema, comentando também que estava praticamente sem voz e que ia ver como é que corria a última música. A verdade é que ele aguentou não só esse final como ainda um encore.

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Num balanço geral, o alinhamento foi muito inteligente. Começando com a Second Chance Man e a Were We Once Lovers, acelerando o ritmo de início e prendendo-nos bem às nossas cadeiras, depois caminhou para temas mais calmos, havendo, inclusive, uma espécie de interlúdio, só com teclas, bateria e voz. A partir desse momento, o concerto voltou a iniciar um passo que a seu tempo se foi novamente tornando mais mexido. Do local onde estava sentada, foi enternecedor ver como alguns casais suspiravam ou se abraçavam em certos momentos. Não tinha noção que os Tindersticks tinham este tipo de poder sobre os seus fãs. Talvez não seja, por isso, de admirar que a faixa etária que mais esteve presente foi acima dos 30 anos. Quem sabe se não têm servido de banda sonora ao longo destes anos todos? Certamente a música tem esse poder e The Waiting Room tem umas quantas passagens bastante fortes. Concluindo, foi um concerto calmo, bonito, e este último disco dos Tindersticks tem a capacidade projectar diversas emoções ao longo do mesmo.

Texto – Sofia Teixeira
Fotografia – Alexandre Marques
Promotor – Produtores Associados