Concertos Reportagens

Sortido #1, Captain Boy & The Pirates + Pista + Chateau Brutal

Dar a conhecer bandas emergentes, é esse o objectivo das noites Sortido, promovidas pelo Musicbox Lisboa com o apoio do projecto Liveurope – plataforma que apoia a programação de vários locais de concertos pela Europa com o objectivo de promover novos artistas europeus, ajudando-os a alcançar novos e mais vastos públicos.

Esta primeira edição contou com dois projectos portugueses e um francês – Captain Boy & The Pirates, Pista e o duo Chateau Brutal. Início marcado para as 22h30, ainda eram poucos aqueles que se faziam chegar à frente do palco, mas o cenário, em tom de proa de um navio, estava montado.

Pedro Ribeiro, a cara de Captain Boy, entra sozinho em palco, começa a marcar compasso, quais passos de capitão a assumir o controlo, e faz ecoar a sua voz vibrante pela sala. Foi literalmente uma introdução ao concerto, que é também a introdução do seu EP de estreia, fazendo de prenúncio para uma actuação que se viria a mostrar bonita até mais não e com uma energia vibrante. Pouco depois fez-se acompanhar dos seus jovens piratas cheios de groove e boa disposição. Houve espaço para baixos dançantes, guitarras amantes e ainda partilhas de experiências pessoais. Com alegria e gratidão nos rostos da banda, houve espaço para covers, dedicatórias a Tarantino e ao seu Pulp Fiction e ainda à série Narcos. Se já os tinha visto no Super Bock Super Rock há uns meses atrás, certo é que gostei muito mais de os ver agora no Musicbox. A evolução é notável, sentem-se mais confortáveis em palco e a segurança parece ir tomando conta deles à medida que as músicas avançam. Foi sem dúvida uma bela viagem num registo intimista, suave e ao mesmo tempo ressonante, divertida, mas também sentida.

Seguiram-se os Pista, banda que prefiro sempre ver ao vivo do que ouvir em casa. Com disco editado em 2015, Bamboleio foi mote para uma série de actuações que têm conquistado por onde passam. O Musicbox não foi excepção, tanto agora como quando apresentaram o disco com um concerto recheado de convidados. Desta vez tivemos a apresentação do Nick Suave como sendo a última aquisição e a partir desse momento foi sempre a dançar. O ritmo que impera impõe ao corpo que se mexa, que se deixe levar pelas narrativas das guitarras do Cláudio enquanto a restante banda dá mote ao festim que as complementa. Mesmo tendo começado com alguns problemas técnicos e sem ter havido grande interacção com o público, o concerto deu-se a bom ritmo e a familiaridade que se fez sentir em palco transbordou para o público. Musicalmente a máquina está muito bem oleada, a performance com laivos de tropicalismo exalta-se naturalmente e as vozes que por vezes se fazem sentir funcionam mais como instrumento musical do que lírico. Temos banda com futuro promissor e, esperemos nós, internacional também.

A noite terminou com os Chateau Brutal, dupla francesa munida de guitarra, e respectivos pedais, e bateria. É aqui que o nome Sortido se faz sentir mais, no sentido de as bandas serem de estilos diferentes umas das outras, e onde também se notou uma maior diferença na interacção com o público. Se por um lado eu estava realmente curiosa com o poderio roqueiro da banda francesa, por outro a plateia mostrou-se morna e sem corresponder às expectativas que os músicos pudessem ter. Enquanto eles davam tudo e tentavam puxar por quem os ouvia, valeu haver algum público francês para aligeirar alguma tensão que se foi criando. Pujança, erotismo e até alguma agressividade passiva são ingredientes inerentes à música de Chateau Brutal. Não é que o concerto me tenha desiludido, mas tive pena que tivesse caído num registo algo linear, tendo apenas voltado a ganhar fôlego na última música. Talvez por causa do público não tão na onda deste tipo de rock, ou por outros factores, mas o que é certo é que assim que desafiaram alguém da plateia a assumir a bateria, o ambiente tornou-se algo frenético. Após uma primeira tentativa não muito bem conseguida, eis que temos o Nick a ir do baixo em PISTA para a bateria nos Chateau Brutal e a ajudar a que a festa se voltasse a fazer. À laia do improviso, o concerto terminou em boa disposição.

Espero sinceramente que haja muitas mais noites Sortido. Sou daquelas pessoas que aprecia a diversidade numa mesma noite e acho que este tipo de eventos ajuda a que se criem laços entre músicos de diferentes géneros e que os seus respectivos públicos se cruzem e, quem sabe, até se surpreendam e descubram que afinal gostam de mais estilos de música do que ao início pensavam.

Texto – Sofia Teixeira
Fotografia – Luis Sousa