Backstage

Fuzz Club – Um sonho tornado realidade

A Fuzz Club é actualmente uma das muitas editoras que nasceram na era digital. Tem no seu catálogo bandas como os Radar Men From the Moon ou os portugueses 10000 Russos. Mas o que é que os distingue de tantas outras?

Tem vindo a crescer e a dar dinamismo a toda a cena do novo psicadélico através de colaborações e parcerias mas dá nas vistas sobretudo o seu árduo trabalho que aposta na qualidade e na estreita relação com as bandas com quem trabalha.

Aproveitámos a colaboração que este tem com o Reverence Santarém e que traz ao festival bandas como os Underground Youth, Noon, Is Bliss e os portugueses 10 000 Russos, para saber um pouco mais sobre uma editora que cada vez passa menos despercebida.

Falámos com Casper Dee, mentor e executor da ideia que nasceu há mais de dez anos e que começou como um site de partilha de boa música mas cresceu para se tornar uma editora que neste momento comemora o seu quinto aniversário.

MDX – Quem são as pessoas por de trás da FUZZ?

Casper Dee – Existem várias pessoas envolvidas na FUZZ CLUB, mas somos a maior parte do tempo 2 pessoas a gerir as operações. Eu ( Casper Dee) o fundador e pau para toda a obra e o Jack Palfrey que gere as Relações Públicas e o Marketing da editora. Ocasionalmente a nossa equipa integra estagiários, e por vezes amigos e mesmo a esposa.

Temos também uma rede de fãs apaixonados por música espalhados pelo mundo que nos ajuda de enumeras formas mostrando-nos novas bandas ou promovendo aquilo que editamos.

Não esquecendo as bandas e todos os que trabalham com as mesmas. É uma comunidade musical e através da FUZZ CLUB tentamos puxar por algumas das coisas boas que estão a acontecer dentro dela.

MDX – Como nasceu a FUZZ CLUB?

Casper Dee – A Fuzz CLUB apareceu como um perfil de MySpace em 2006 com o intuito de criar um espaço onde podias encontrar boa música. Depois comecei uma marca de t-shirts de bandas com o mesmo nome porque na altura o vinil estava a morrer. Mas por volta de 2008/2009 as coisas começaram a mudar. Estava uma coisa nova a começar e toda a gente parecia excitada com isso. As vendas de vinil aumentaram contra todas as probabilidades. Havia coisas a acontecer em Austin, Brooklin e Londres e boas bandas a aparecer on-line. Uma dessas bandas foram os Undergound Youth. Tive sorte. Tinha algum dinheiro no bolso e pensei: “Que se lixe! Vamos ver até onde isto nos leva!” Então falei com o Craig da banda e a editora nasceu daí.

MDX – Quando começaram qual era a vossa expectativa, o que procuravam fazer?

Casper Dee – Acho que não tínhamos qualquer expectativa. Na verdade só sabíamos que queríamos fazer qualquer coisa fixe e a Fuzz Club era a melhor ideia que tinha naquele momento. Honestamente não fazia ideia naquilo em que me estava a meter. Provavelmente ainda bem que não o sabia. Naquela altura a indústria musical estava bem pior que agora e por isso as expectativas em tornar aquela ideia num trabalho a tempo inteiro. Mas afinal chegámos até aqui.

MDX – Qual foi o maior desfio da FUZZ CLUB?

Casper Dee – Obviamente com tão poucas pessoas no controlo das operações é um desafio por si só. Quer dizer que tens de aprender a fazer tudo sozinho. Desde fazer os posters à contabilidade. É bastante compensador mas isso acabou. Agora só quero delegar trabalho e fumar uns cigarros.

O maior desafio na indústria musical actualmente é que existem tantas bandas e há tanta música disponível, que a musica ficou sem valor. Por esse motivo, para nós e para a maioria das editoras, o futuro está preso por um fio e depende de colecionadores à séria que ainda gastem dinheiro em música. Mas eu acho que a maior parte doa fãs de música sabem que é como um sistema de dar e receber. Se querem continuar a ver boas banda e a ouvir boa musica nós precisamos do apoio deles e eles estão a apoiar-nos e por isso está tudo bem por agora.

MDX – O vosso catálogo tem bandas como os 10000 Russos, Singapore Slings, Radar Men From The Moon. Também colaboram com The Reverberation Appreciation Society / Austin Psych Fest. Têm um plano traçado ou vão ao sabor da corrente?

Casper Dee – Sim. Primeiro a música tem de estar a transbordar de reverb e têm de ter Dead ou Black no nome. Também testamos todos os bateristas precisamos de saber se conseguem manter o mesmo ritmo durante 10 minutos.

Agora a sério, apenas agarro na música que gosto. Hoje estamos numa posição em que trabalhamos com bandas muito boas e isso parece atrair outras bandas de qualidade.

Obviamente que para uma editora trabalhar com uma banda tem de fazer sentido em termos de negócio, então tentamos trabalhar com bandas que trabalham no duro e que fazem muitas tours. Posso dizer que 99% das bandas têm outros trabalhos o que gera sempre dificuldades quando agendamos uma tour.

Colaboramos com TRAS / Austin Psych Fest em projectos como a série de compilações “The Reverb Conspiracy” e apoiamo-los como podemos pois o trabalho que eles fazem com o Levitation Festival é importantíssimo para manter a cena viva.

MDX – Esta entrevista acontece pois a FUZZ CLUB vai celebrar o seu 5º aniversário no FESTIVAL REVERENCE SANTARÉM. Como surgiu esta parceria?

Casper Dee – Sempre gostei de vir ao Reverence Festival. O primeiro ano então foi uma das melhores experiências que tive em festivais.

Creio que foi o Nick Allport que nos contactou e perguntou se queríamos fazer uma residência este ano no Reverence. Coincidia com o aniversário da editora e estamos muito contentes e agradecidos ao Reverence que possa ter acontecido. Portugal é um sitio muito bonito com pessoas super amigáveis. Estou desejoso que comece.

MDX – Este ano surgiram as FUZZ SESSIONS. Qual a ideia por trás das FUZZ SESSIONS?

Casper Dee – No mundo digital de hoje, é fácil perdermo-nos a editar e eu quis voltar ao básico. Gravar directo na fita sem overdubs. Põe um pouco de pressão na banda mas pode fazer a diferença e faz de certeza nas FUZZ SESSIONS. A qualidade de som é espantosa. Pensava que a diferença entre o digital e o analógico não se notaria, mas notasse bastante. Adoro estar no estúdio com as bandas a gravar. Com toda aquela aparelhagem analógica, o cheiro da fita! Então pelas sessões é bom partilhar esta experiência com os nossos amigos cromos por aí espalhados.

MDX – Quem são os vossos modelos na industria da música?

Casper Dee – Não tenho modelos a industria musical. Parece que todos os que têm potencial para o serem ou estão falidos ou estão mortos. Até a industria está meio morta.

MDX – Tem planos para o futuro?

Casper Dee – Teremos um novo sitio na net e estou muito excitado com isso. Com o novo sitio poderemos focar-nos mais no nosso blog e o site será um sitio onde as pessoas poderão encontrar tudo o que está a acontecer.

Não páro de me surpreender a quantidade de boas bandas que existem e continuam a surgir. Parece que as bandas estão a melhorar cada vez mais então há que continuar a documentá-las e promovê-las o mais possível, na esperança de que as pessoas continuem a comprar aquilo que editamos. Aí serei feliz!

+info em facebook.com/FuzzClubRecords/ | fuzzclub.bandcamp.com

Entrevista – Isabel Maria