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Benjamim e Barnaby Keen, apresentação de 1986 no Musicbox Lisboa

Quinta-feira, 22h15, e um Musicbox já muito perto de rebentar pelas costuras. Benjamim e Barnaby Keen estavam prestes a apresentar o seu disco conjunto, 1986. O ambiente não podia estar melhor, as pessoas conversavam com grandes sorrisos nos rostos e sentia-se uma grande expectativa no ar, afinal era a primeira vez que a dupla apresentava o seu disco em Lisboa. Pouco depois da hora marcada, 22h30, subiram ao palco Benjamim, Barnaby Keen, António Vasconcelos Dias, João Correia e Nuno Lucas. A introdução de All I Want já provocava as primeiras aclamações de um público que estava claramente comprometido com o concerto.

Só um pouco de contexto antes de continuar. 1986 é o resultado de uma amizade entre Benjamim e Barnaby que surgiu quando este primeiro ainda residia em Londres. 1986 é também o ano em que ambos nasceram, mas o que também os aproximou foi a paixão comum por um disco de Chico Buarque. Barnaby viveu seis meses no Brasil e a língua portuguesa sai-lhe naturalmente, com aquele sotaque que tão bem conhecemos do nosso país irmão. Este mais recente trabalho, que une então o músico português e o músico britânico, 1986, é um disco bilingue onde ambos emprestam a voz e a língua às canções um do outro. Esta sinergia resultou num disco que está para lá dos nossos tempos. Quando o ouvimos, sentimo-nos numa espécie de espaço-tempo alternativo onde viajamos por várias paisagens, desde a mais introspectiva à mais apaixonada, sendo que parece estar sempre presente uma espécie de onda pulsante, qual sensação visceral, que faz o corpo dançar e que nos faz abandonar, por momentos, o espaço e tempo presentes.

E foi precisamente isso, elevado a um expoente significativo de entusiasmo e êxtase, que o concerto no Musicbox nos proporcionou. Uma viagem sensorial, divertida e, sem dúvida, muito especial. De All I Want seguimos para Dança Com os Tubarões e, com apenas estas duas canções, foi fácil perceber o porquê de este disco funcionar tão bem. As vozes de Bernaby e Benjamim complementam-se muito bem, quer quando um assume, quer quando é o outro a assumir, e ambos parecem estar tão confortáveis com a mudança de língua que a conclusão óbvia é que a música será sempre uma língua universal, seja qual for a sua forma.

O concerto continuou com Diary, num espectro sonoro sonhador (aqui o António Vasconcelos Dias ganha o prémio do mais expressivo!), e continua com Madrugada, aqui já com um Musicbox literalmente a arder, esgotado. Seguiu-se Nothing Else, uma das minhas preferidas, confesso, que ao vivo ganha toda uma nova força. Em palco, a entrega era total. Aliás, um dos grandes pontos fortes da noite foi a energia electrizante, a alegria e a emotividade dos cinco músicos em palco. Eis então que chega Terra Firme, um dos singles do disco, e não eram poucos os que cantavam com a banda. Chegado este momento, Barnaby Keen mostrou-nos uma das suas belas canções, Denial, seguida de Warm Blood que colocou toda a gente a dançar. Numa espécie de interlúdio, mas já aproximando-nos no final, houve espaço para a liberdade electrónica de Sintoniza, tema do disco anterior de Benjamim, Auto-Rádio. A libertação artística continuou com uma espécie de jam que desembocou no tema A minha menina. Este bem podia ter sido o fim do concerto, mas o encore não se fez esperar com os temas Disparar, o último do disco, Você me pegou, um tema traduzido em que tivemos direito a ver o António sair das teclas e precursão para a guitarra, terminando com a famosa canção Os Teus Passos.

É sempre um gosto ver Benjamim ao vivo, pois Luís Nunes é um daqueles músicos que transpira a olhos vistos o gosto que tem por aquilo que compõe e que canta. Nunca tinha visto ou ouvido Barnaby Keen, a não ser no disco, mas sem dúvida que este foi enriquecedor. Quem os acompanhou também tiveram uma presença tão genuína – foi impossível ficar indiferente aos sorrisos trocados, às danças espontâneas, a toda uma energia invejável – que todos juntos criam uma aura completamente contagiante. Muitos parabéns, foi mesmo uma bela noite!

Texto – Sofia Teixeira
Fotografia – Ana Pereira
Promotor – Musicbox Lisboa