2017 Bons Sons Festivais Reportagens

Bons Sons 2017, o nosso roteiro em Cem Soldos

O Festival Bons Sons, que invade pela oitava vez a bonita aldeia de Cem Soldos, apresenta novamente uma variedade de realidades musicais e culturais bem distintas. Com tanta oferta e tanto palco a funcionar em simultâneo, há que olhar bem para o cartaz e selecionar aquilo que mais nos diz. A oferta diversificada, toda ela portuguesa, é uma das caraterísticas que faz com que este Festival seja único no panorama musical português.

A aldeia de Cem Soldos irá abrir as suas portas a mais um Festival Bons Sons, nos próximos dias 11,12,13 e 14 de Agosto. Aquele que ficou conhecido como o “festival da aldeia” é para Luis Ferreira, director-artístico do Festival, a ponto do icebergue do trabalho de desenvolvimento cultural local que o Sport Clube Operário de Cem Soldos (SCOCS) tem realizado desde a sua fundação em 1981.

É já na próxima 6ª feira que arranca a 8ª edição do Bons Sons, com Singularlugar projecto de João Neves (voz) e de Katerina L’dokova (piano e voz), no palco MPAGDP às 15h45m. De Leiria os promissores Whales com o seu primeiro álbum de originais editado pela Omnichords, “How Long”, seguem no palco Giacometti uma hora mais tarde. Com o novo e arrojado “Viva Fúria!”, Manuel Fúria e os Náufragos sobem às 18h00 ao palco Tarde ao Sol. Enquanto aguardamos o lançamento da nova compilação de temas originais “Antwerpen”, anunciado para o próximo mês de Outubro, contemplaremos o entardecer no palco Giacometti com a voz adocicada de Débora Umbelino, com o projecto Surma.

Enquanto comemos qualquer coisa, tentaremos encontrar um spot no centro da aldeia em frente ao palco Lopes-Graça para gingar os ombros ao som dos Holy Nothing (20h45m). Já com a lua a subir por detrás da Eira, a banda surf-punk dos barcelenses The Glockenwise abrirão as hostes deste palco que concentra o maior número de festivaleiros e onde as guitarras se projectam na subida dos decibéis. É também neste mesmo palco, Eira, que já depois da meia-noite os lisboetas Capitão Fausto darão o ar da sua graça.

Entre as mudanças de palco, descemos ao Lopes-Graça pelas 23h15m para receber Jorge Benvinda e os Virgem Suta. Para os mais resistentes, às 03h00 ainda poderão dançar ao som de Groove Salvation (DJ) que estará no palco Aguardela.

Sábado dia 12 os concertos começarão mais cedo. Pelas 14h00 no palco MPGDP a dupla de “amigos de sempre” Lúcia Lives e João Raposo. Ainda no fresco da igreja (palco MPGDP), o saxofonista Filipe Valentim trará as suas composições onde o improviso será um ponto de honra, a partir das 15h45m. Um outro Filipe, o Sambado, subirá ao Giacometti com “Vida Salgada” o seu único álbum de originais referenciado pela crítica como uma “pop onírica arrancada à biografia pessoal” (in O Público, por Mário Lopes).

Numa linguagem das artes performativas, Lander & Jonas interpretarão “Casca d’Ovo” no Auditório pouco antes das 18h00, enquanto os portuenses Les Saint Armand apresentarão no palco Tarde ao Sol o primeiro EP oficial “Nó”, lançado em Novembro de 2016.

As enormes Señoritas Sandra Baptista e Mitó Mendes estrearam-se em 2015 com o CD “Acho que é meu dever não gostar de nada”. De regresso a Cem Soldos, prometem um concerto envolvente no palco Giacometti e uma brisa do novo disco em que estão a trabalhar (ver entrevista com Sandra Baptista). Seguir-se-á a dupla Medeiros/Lucas, Pedro Lucas e Carlos Medeiros no palco Lopes-Graça às 20h45m. “Terra do Corpo” é o último trabalho discográfico dos músicos açorianos que, não abandonando o registo da música ligeira portuguesa introduz outras sonoridades.

E uma vez mais, o puro rock no palco Eira a ser servido para sobremesa, às 22h00 um dos concertos mais esperados desta edição, a banda bracarense de Adolfo Luxuria Canibal, os Mão Morta. O quarto álbum de originais da banda, “Mutantes S.21” (1992), será tocado integralmente com o propósito das comemorações dos seus 25 anos, este que foi considerado pela Blitz o segundo melhor álbum dos anos 1990.

Depois de um par de anos de ausência, a cantora Né Ladeiras está de regresso com um novo disco, “Outras Vidas”. E é este trabalho que nos irá mostrar pouco depois das 23h00 no palco Lopes-Graça.

Outras “batidas” vindas do Porto e de Luanda, os Throes + The Shine prometem levar a sua energia electrizante no palco Eira já noite dentro, Mais perto das 02h00 a dança continuará com registos mais electrónicos mas certamente com a mesma energia, com a actuação dos DJ´s Zé Nuno, Sam U e Beatdizorder no palco Aguardela.

O terceiro dia do Festival Bons Sons será marcado pela interpretação na íntegra do clássico 10.000 anos entre Vénus e Marte, disco lançado em 1978 por José Cid e que é considerado, tanto em Portugal como no estrangeiro, uma obra de culto, principalmente pelos apreciadores do rock progressivo. O concerto acontecerá no Palco Lopes Graça. Mas haverá mais pontos de interesse na aldeia de Cem Soldos no dia 13 de agosto.

No Palco Eira teremos Orelha Negra e Samuel Úria. O ano passado marcou o regresso dos Orelha Negra aos concertos e para 2017 está previsto o lançamento do seu terceiro álbum, depois de dois álbuns homónimos publicados em 2010 e 2012. Samuel Úria lançou em 2016 Carga de Ombro, disco bem recebido pelo público e muito elogiado pela crítica, e com ele subiu mais alguns degraus no reconhecimento do que por cá se faz em termos musicais. “Dou-me corda”, “É preciso que eu diminua” e “Carga de ombro” farão com certeza parte da setlist que apresentará neste dia.

Voltando ao Palco Lopes Graça, e para além de José Cid, teremos Paulo Bragança, o senhor que, antes de todos os outros, revolucionou o fado, abordando-o de uma forma inovadora, até mesmo ao nível do guarda-roupa, caraterizado pela simplicidade das roupas e a ausência de calçado. A qualidade do seu trabalho é demonstrada pela aposta feita em si pela conceituada Luaka Bop, editora de David Byrne (vocalista dos grandes Talking Heads).

No Palco Giacometti, será Captain Boy – o alter-ego de Pedro Ribeiro –, dono de uma voz rouca e que é sempre acompanhada de uma guitarra, a marcar o dia. Nunca se sabe o que sairá de uma atuação sua, existindo um grande grau de imprevisibilidade. “Sailorman” foi o tema de avanço para o seu primeiro álbum, designado simplesmente por 1. Quem também subirá a este palco nesse dia será Joana Barra Vaz, que editou no ano passado “Mergulho em Loba”, o seu primeiro longa-duração, marcado por uma combinação bem interessante entre a folk e a eletrónica.

Mudando novamente de palco, o Tarde ao Sol apresentará os Sonoscopia. Trata-se de uma orquestra formada por estranhos, e pouco previsíveis, instrumentos. A libertação humana é a temática central do seu trabalho.

Os Sampladélicos e os Moços da Vila são os destaques desse dia para o Palco MPAGDP. Os primeiros são Sílvio Rosado (músico) e Tiago Pereira (documentarista), que em comum desenvolvem uma performance audiovisual a partir de ambientes sonoros oriundos de um local específico. Os Moços da Vila surgiram em 2014, aquando da preparação de uma atuação na festa de Natal da escola. Como correu muito bem, prosseguiram a caminhada de apresentar e de divulgar o cante alentejano, continuando numa fase inicial a fazê-lo ao nível escolar. Daí veio o nome, que vinca bem a juventude do projeto.

No quarto e último dia do Bons Sons, estarão quatro nomes que se destacam: Rodrigo Leão, Frankie Chavez, The Poppers e Valter Lobo.

Rodrigo Leão, baixista da mítica banda surgida nos anos 80, Sétima Legião, apresenta-se este ano com uma tendência mais pop e acompanhado pela voz de Ana Vieira. Em cima do palco, estarão oito músicos que interpretarão temas que têm vindo a marcar a carreira de um dos mais versáteis músicos portugueses. Frankie Chavez, por seu lado, desenvolve o típico one man show, partilhando o palco só com a sua guitarra e apresentando uma sonoridade que tanto vai buscar influências à folk como ao blues. Rodrigo Leão e Frankie Chavez apresentam-se no Palco Lopes Graça.

Passando para o Palco Eira, destacam-se os The Poppers, banda bem madura e com muitos quilómetros de estrada e que se mantém fiel ao rock’n’roll. Já este ano lançaram “Lucifer”, produzido por Paulo Furtado (The Legendary Tigerman e WrayGunn). Ainda no mesmo palco, também lá iremos encontrar os Octa Push, projeto formado pelos irmãos Leo e Bruno e que funde de forma eficaz música com ligações aos PALOP e a eletrónica. O mais recente álbum, “Língua”, constitui uma homenagem à música lusófona feita nos últimos quarenta anos, cruzando influências e ritmos contemporâneos oriundos de diferentes regiões do planeta.

Marco Luz marcará presença no Palco Giacometti, para apresentar o seu disco de estreia, “Cores”, testemunho de um músico que mistura o acústico com a eletricidade de uma forma subtil. No mesmo local da aldeia, teremos a presença de Valter Lobo, também ele a divulgar o seu primeiro trabalho, “Mediterrâneo”, e que certamente transformará o cenário que encontrar em algo bem intimista. É considerado por muitos como sendo uma das grandes promessas da nova música portuguesa.

No Palco Tarde ao Sol, teremos os LST, projeto formado por José Peixoto (guitarra clássica), Bernardo Couto (guitarra portuguesa) e Carlos Barretto (contrabaixo). Os LST editaram “Lisboa” no ano passado, álbum que sucedeu a “Matéria”, vencedor do Prémio Carlos Paredes 2015, atribuído pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira.

As Moçoilas e o projeto Sanct’Irene Ensemble farão as delícias a quem se deslocar ao palco MPAGDP. As Moçoilas têm na sua essência a afirmação e a divulgação do canto algarvio, recorrendo a harmonias doces, duras e simples. Os Sanct’Irene Ensemble formaram-se em 2015, quando Gustavo Pimentel e António Baptista, antigos colegas de estudos, se reencontraram e originaram um novo projeto interdisciplinar, com o objetivo de estudar, cantar e promover o património musical oral da região de Santarém.

No Palco Aguardela, destaque para Rodrigo Affreixo, jornalista na área da cultura, que começou a pôr música em 1999 em espaços emblemáticos como o Anikibobó, Maus Hábitos, Triplex ou Passos Manuel. Cultiva uma visão da música de dança em que privilegia uma intimidade primordial entre a música negra, o disco e o house.

O Música em DX repete pela terceira vez consecutiva a sua presença em Cem Soldos para acompanhar a edição de 2017 do Bons Sons. As reportagens dos anos anteriores podem ser recordadas em Reportagens > Festivais > Bons Sons.

Mais info em www.bonssons.com .

Texto – Carla Sancho e João Catarino