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Blaak Heat – Psicadelismo Transcontinental

Estivemos à conversa com Thomas Bellier, vocalista e guitarrista dos Blaak Heat, anteriormente conhecidos por Blaak Heat Shujaa, que irão editar brevemente The Arabian Fuzz e que vão estar presentes no Sonicblast em Moledo do Minho onde actuarão no Palco Piscina durante a tarde do segundo dia do festival.

A discografia deste quarteto com elementos sediados em Los Angeles e Paris já conta com três álbuns; Blaak Heat Shujaa (2010), The Edge Of An Era (2013) e Shifting Mirrors (2016), assim como um EP, The Storm Generation (2012).

Os Blaak Heat utilizam da melhor forma as suas variadas vivências musicais, também fruto das suas proveniências diversas, para nos oferecerem uma experiência um pouco diferente do habitual nestas lides.

A sua sonoridade caracterizada por elementos do psicadelismo oriental conjugados com um certo heavy psy ocidental, e a introdução de instrumentos menos habituais como o Oud, faz com que deixem uma impressão duradoura com uma aura de misticismo bastante densa, mas ao mesmo tempo uma visão cosmopolita, um pouco de Paris, um pouco de Los Angeles, com se as sua mentes divagassem pelos desertos e planícies do médio oriente numa viagem de auto descoberta interior.

A curiosidade em relação à música que se faz em várias vertentes no Médio Oriente contribui para esta visão um pouco diferente. O caminho que trilham não é estanque mas sim uma viagem de descoberta. Em Setembro irão andar pela Europa e passarão novamente por Portugal, desta vez em Alcobaça e Almada, a 3 e 4 de Setembro.

Por agora podemos desfrutar da nova música, Marr El Kallam, e aguardar com expectativa o novo disco, enquanto contamos os dias para o SonicBlast.

Música em DX (MDX) – Thomas podes apresentar os Blaak Heat aos nossos leitores?

Thomas Bellier – Somos uma banda norte americana e francesa que mistura o psicadelismo do médio oriente com prog e surf rock. Do grupo de Los Angeles temos o Michael Amster que é o nosso baterista e eu que toco guitarra, Oud e canto. De Paris temos o Guillaume Theoden (baixista) e o Nicolas Heller (guitarrista). Também estamos muito entusiasmados por tocar com o percussionista Sacha-Viken Poulain em alguns concertos neste verão.

MDX – Como é que se conheceram e começaram a tocar?

Thomas Bellier – Eu comecei a banda em 2008 com dois músicos franceses quando estava a estudar em Paris. Depois em 2011 mudei-me para os Estados Unidos e juntei-me ao Michael Amster. Tivemos alguns baixistas até que no ano passado o Guillaume Thedoen, que tem formação de jazz e um gosto irrepreensível se juntou a nós. O Nicolas Heller que é um bom amigo dos tempos de Paris também se juntou a nós como segundo guitarrista mais ou menos na mesma altura por que sentimos necessidade de ter mais um guitarrista em palco para podermos recriar a profundidade e as várias camadas daquilo que fazemos em estúdio.

MDX – Como escolheram o nome Blaak Heat?

Thomas Bellier – O nosso primeiro baixista era fluente em Swahili e nós escolhemos o nome por causa de uma antiga lenda Swahili.

MDX – Como chegaram até à vossa editora?

Thomas Bellier – Em 2014 a Svart Records lançou Nomadic, um projecto de jazz psicadélico que eu tinha produzido em 2011 com o Sonny Simmons que é uma lenda do free jazz no Saxofone e no Corne Inglês. Gostei da curiosidade intelectual e da mente aberta da equipa e achei que fizeram muito bem o trabalho deles, por isso pareceu-me natural apresentar-lhes o Shifting Mirrors em 2016 e estamos muito felizes com eles.

MDX – Como desenvolvem as vossas canções? Vocês tocam indefinidamente até vos soar bem ou algum de vós traz uma melodia ou letra e trabalham sobre isso?

Thomas Bellier – Normalmente eu trabalho algumas ideias no meu estúdio em casa. Com o contributo de todos, tento levar as demos até ao ponto a que elas irão soar nos álbuns, com a orquestração completa (bateria, teclas, percussão ou outros instrumentos). É um processo bastante longo mas que nos permite maturar as canções ao longo do tempo. Quando gravamos a versão final de uma canção em estúdio já estivemos a trabalhá-la durante um ano ou ano e meio.

MDX – Quem são as maiores influências na vossa forma de fazer música?

Thomas Bellier – Nós temos backgrounds musicais muito diferentes, por isso sobre esse assunto só posso mesmo falar sobre mim. Eu oiço muito psicadélico underground dos anos 60 e 70 do Médio Oriente, como Selda, Ersen, Googoosh…Também oiço muita música mais recente de Oud como Anouar Brahem, Rahim Al-Haj, Rabih Abou-Khalil. Na generalidade sou um grande fã de surf rock, rock progressivo, afrobeat, ethnojazz, free jazz, e mesmo bandas sonoras antigas de Bollywood e reinterpreto estas sonoridades através da minha visão ocidental o que depois vai resultar na sonoridade dos Blaack Heat.

MDX – Para além do teu gosto pela música do médio oriente, como surgiram estes elementos arábicos na vossa música?

Thomas Bellier – Quando começámos a banda nós já incorporávamos algumas escalas de inspiração oriental. Queríamos um som psicadélico e tripante, então tentámos emular Cítara e Oud na guitarra e no baixo. Passado algum tempo decidi aprofundar isso um pouco mais. Comecei a pesquisar artistas, a aprender teoria musical e músicas tradicionais, e também a tocar Oud e Baglama. Foi uma loucura a quantidade de música boa que acabei por descobrir e que me inspirou imenso, tanto na composição das nossas músicas como na forma de tocar qualquer um destes instrumentos. Actualmente em palco toco Oud com os Blaack Heat.

MDX – Queremos aproveitar a oportunidade para vos felicitar pelo vosso nosso single. Conta-nos tudo. Este single é o aquecimento para o vosso novo álbum?

Thomas Bellier – Obrigado! Marr El Kallam é uma canção baseada numa ideia que tive há uns anos atrás quando ainda tocava nos Spindrift. Eu queria fazer uma música de toada punk surf mas inspirada na música psicadélica turca. Tivemos a honra de ter o etnomusicólogo jordano Fareed Al-Madain a gravar vozes nesta música. Fareed Al-Madain é um profundo conhecedor da música do médio oriente, e ele aceitou imediatamente a ideia de fazermos uma música numa fusão oriente – ocidente. The Arabian Fuzz sai a 18 de Agosto pela Svart Records e é um pouco fora da sonoridade habitual dos Blaack Heat, mas filosoficamente faz todo o sentido. O novo álbum vai soar um pouco diferente mas vai continuar a ser tripante e dançável ao mesmo tempo que continua a ser pesado. Já escrevemos a maioria das músicas e esperamos que esteja pronto na primeira metade de 2018.

MDX – Quem é que concebeu a capa do The Arabian Fuzz?

Thomas Bellier – A capa do The Arabian Fuzz é uma foto do nosso querido amigo Andrew Baxter que também já produziu três vídeos nossos. Na capa podemos ver o meu Oud egípcio, que foi construido por Maurice Shehata, bem como uma Supro Sahara e uma Fender Jaguar. É uma representação simples do som que almejamos produzir. Ainda que as capas dos nosso álbuns sejam bastante diferentes eu tive sempre a ter em mente a capa de The Devil’s Anvil- Hard Rock from the Middle East quando estávamos a fazer a sessão fotográfica.

MDX – Se tivesses uma máquina do tempo com quem gostarias de tocar e quando?

Thomas Bellier – Eu gostaria de de ter visto John Berberian a tocar Oud ao vivo nos anos 60, mais ou menos na altura dos seus álbuns de fusão e das colaborações com Joe Beck. Aconselho-vos procurar o disco Middle Eastern Rock. Também gostava de ter tocado com Miles Davis na época em que ele editou In a Silent Way e Bitches Brew.

MDX – Como são os vossos concertos e o que podemos esperar do concerto no SonicBlast?

Thomas Bellier – Nós tentamos tornar os nossos concertos uma experiência auditiva psicadélica completa e intensa. Criamos cuidadosamente o nosso set para incluir muitas camadas, sons e níveis diferentes de intensidade. É realmente uma viagem auditiva para te fazer pensar e sentir bem. Esperamos que o sintam assim também! Em Moledo vamos ser 4 elementos em palco, e eu vou tocar Oud em algumas músicas.

Bandcamp: blaakheat.bandcamp.com
Facebook: facebook.com/blaakheat
Website oficialblaakheat.com

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Entrevista – Isabel Maria
Fotografia – Guilhem Seguin | Blaak Heat