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Pavo Pavo, nostalgia do futuro

A banda de Brooklin, Pavo Pavo apresentou-se dia 11 de Maio em Lisboa, no Musicbox, para apresentar o seu primeiro registo. Young Narrator in the Breakers, editado no outono de 2016 é um disco que traz nele contido uma pop optimista, mas protegido por um ambiente de atmosfera intimista na maior parte do tempo. Existia assim alguma curiosidade em ver a transposição do mesmo para uma actuação ao vivo.

À primeira vista, o quinteto parece ter saído de uma máquina do tempo, vindos de um espaço/tempo compreendido entre os anos 50 até aos anos 70 do século XX, já a sonoridade encontra-se completamente no espectro de uma pop desta década, mas que ao mesmo tempo remete para memórias felizes e que nos fazem sorrir.

O começo foi morno, como  uma primeira brisa primaveril, enfatizada pela voz cristalina de Eliza Bagg em clara harmonia com as vozes de Oliver e Ian, respectivamente guitarrista/teclista e baixista. Esse morno começo salpicado de primavera aqueceu à medida que o concerto se desenrolava e ao tocarem “John, a little time” já se sentia mais que a brisa inicial. A transposição do álbum para o registo ao vivo é bem conseguida e traz mais dinâmica do que o expectável dando ares de prelúdio festivo.

Oliver Hill num dos poucos momentos de conversa com o público pergunta quantos ali presentes já estiveram em Nova York e confessa-se apaixonado pela cidade. As canções mornas e suaves, de Young Narrator in the Breakers ganham em palco um corpo mais denso, onde se sente mais o ritmo da bateria e até as próprias guitarras ganham mais destaque.

No entanto, o que distancia a prestação ao vivo do álbum, é o maior ênfase no sintetizador e nas teclas de Eliza e Oliver, que lhes confere o tal tom atmosférico e matizado da viagem no tempo, acentuada pela estética e até pelo guarda roupa dos músicos, capaz de nos transportar a memórias distantes, até aqueles episódios e séries de ficção cientifica tão popularizados nos anos 50 na América e que por cá passaram na nossa televisão nos anos 80.

Ruby ( let’s buy the bike) e Wiserway, com uma pequena jam entre ambas as músicas, terão sido o momento chave a confirmar a empatia suave que mantém a prestação dos mesmos num registo agradável ao público.

Annie Hall, No Mind e o single Ran Ran Run finalizaram a viagem pela atmosfera sci-fi dos Pavo Pavo com palmas e agradecimentos à mistura.

Podemos falar de um saldo positivo nesta estreia morna, mas bem recebida pelo público que enchia cerca de meia casa.

Nunca será demais salientar que não é fácil arriscar e trazer bandas novas, pouco conhecidas, com apenas um álbum lançado há menos de um ano. É provável que na próxima visita as coisas sejam já diferentes, pois para lá de gostos ou géneros marcados para o sucesso, consegue vislumbrar-se o potencial para crescer quer no éter das ondas hertzianas, quer em palco deste optimismo quase pueril, mas ao mesmo tempo nostálgico que transpira das melodias dos Pavo Pavo.

Texto – Isabel Maria
Fotografia – Nuno Cruz