20170415 - Ghost @ MEO Arena (Sala Tejo)
Concertos Reportagens

Ghost, ou a Luxúria de sábado à noite

Os Ghost não deixaram nada ao acaso no passado sábado, e cerca de um ano e meio depois da dupla estreia em terras portuguesas, a banda sueca apresentou-se novamente em Lisboa, desta feita na Sala Tejo da MEO Arena, na véspera do domingo de Páscoa para o quinhão português da Popestar Tour.

Tal como na estreia, foi notório o entusiasmo por parte dos fãs nas redes sociais nos dias que antecederam o concerto, e estes corresponderam mesmo em bom número apesar do fim-de-semana prolongado a uma missa negra que se anunciava bastante pungente.

Num registo de pontualidade irrepreensível, a primeira parte a cargo dos norte americanos Zombi começou às 21h, e durante os cerca de 40 minutos de concerto foram bastante aplaudidos pelo público que, apesar de ansioso pela banda principal, não deixou de agradecer a qualidade deste duo de multinstrumentistas composto por Steve Moore e A.E. Paterra que se apresentam num registo próximo do rock progressivo com algum electrónico à mistura.

 

Já passavam alguns minutos das 22h quando, cerimoniosamente, três elementos se apresentam para destapar os instrumentos em palco que permaneceram tapados durante a primeira parte, dando logo origem a manifestações de júbilo por parte do público que aguardava ansioso.

20170415 - Ghost @ MEO Arena (Sala Tejo)

Uma prolongada entrada acentuadamente dramatizada pela música de fundo, parte de toda a encenação, “Misere Mei, Deus” de Gregorio Allegri e “Masked Ball” de Jocelyn Pook que faz parte da banda sonora do filme Eyes Wide Shut (recordam-se da cena de iniciação na mansão?) ambas potenciadoras da imagem dos Ghost, o culto.

E quando já a multidão se agitava com alguns esporádicos gritos, eis que Papa Emeritus III e os seus Nameless Ghouls surgem em palco nas suas vestes e roupagens de cerimónia debitando de imediato Square Hammer e From the Pinacle to the Pit, Con Clave  Con Dio, tendo quase toda a sala a cantar e acompanhar o ritmo vertiginoso das músicas debitadas. Só após Per Aspera Inferi Papa Emeritus III questiona os fãs ; “It is saturday in Lisbon, have you been drinking well? Have you been eating well?…i know you like those gastronomic stuff”, para introduzir o tema seguinte, “We are gonna do a song about eating flesh and drinking blood….Have you been eating flesh and drinking blood Portugal?”

Papa Emeritus III, um provocador nato, e se as coisas são como realmente se anunciam, faz todo o sentido que assim o seja, informa o público que duas “irmãs” irão presentear os presentes na primeira fila com algo, mas adverte-os para não lhe lamberem os dedos, pois, tudo isto é simbólico, um gesto de apreço…

Body and Blood, recebida pelos fãs em júbilo, assim como quase todo o set, que inclui temas de todos os registos dos Ghost. Devil’s Church, Cirice, Year Zero… Há tempo para tudo, até para uma mudança de indumentária. Há tempo para tornar todo o concerto uma celebração elaborada que não defrauda os que assistem. O diálogo com o público continua, num registo de entertainer das trevas provocador e bem-humorado, “Do you like heavy songs, really really heavy songs?”, e qual maestro comanda a turba em “Absolution”. Mummy Dust, Ghuleh/Zombie Queen e Ritual que completam um concerto que é um pouco mais que apenas isso.

20170415 - Ghost @ MEO Arena (Sala Tejo)

Olhando à volta, o público é coerente com a sonoridade e a imagem, não sendo de todo a imagem generalizadamente difundida da banda coerente com as mensagens transmitidas.

Já depois de aplaudidos os Nameless Ghouls que acompanham Papa Emeritus III, no encore houve ainda tempo para mais dois dedos de conversa descontraída com o público, reclinado sobre um dos monitores, e desta vez sobre o orgasmo feminino, o que, para não destoar, suscitou assobios e palmas. Tudo isto para introduzir o viria a ser o último tema da noite, Monstrance Clock.

Contas feitas, antes da meia-noite, dois concertos e uma sessão dedicada à luxúria. Caso para dizer: quem nunca pecou que atire a primeira pedra.

Texto – Isabel Maria
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Prime Artists