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Sofar Sounds Lisbon, edição de Natal

Verdade seja dita, e é uma premissa aceite pela maioria da população, os fins de semana nunca são longos o suficiente. Mas não faltaram ânsias pelo final de dia de Domingo, para uns o tão aguardado Sporting – Benfica, para outros a última edição do ano do Sofar Sounds Lisbon.

Para quem esteve presente no local secreto, que se revelou ser a Underdogs Gallery no Braço de Prata, sabe que esta edição teve um toque da solidariedade natalícia. Foi pedido a cada pessoa, que havia reservado a sua presença no evento, para que trouxesse consigo uma caneca, que contivesse tantos chocolates quanto possível. Constituiu isto uma série de prendas para cerca de oitenta crianças carenciadas, que contam com a ajuda da associação Candeia, prendas estas dispostas debaixo da árvore de Natal.

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No espaço que ao mesmo tempo exibia a exposição “Marginal”, um imenso círculo humano formou-se, à medida que as pessoas entravam, dispondo-se à volta do palco. Entre copos de vinho e alegres conversas, esperava-se pelo começo do espectáculo. E foi então que o  Senhor Doutor  ocupou o seu lugar, no centro da sala, debaixo dos holofotes. Este é mais um artista que prospera na tradição dos bardos, que nos conta histórias  na nossa língua maternal, que nos recita poemas, e nunca descarta o acompanhamento instrumental. Dedilhando a sua guitarra, com um crescente à vontade, o artista brilhou tanto aos nossos olhos como as luzes de Natal que delimitavam a área do palco. Com histórias que contiveram sempre uma linha ou outra de humor, a sua actuação emanou mais e mais felicidade, despida de vergonha. Para dar um exemplo do que nos foi cantado, do reportório que nos trouxe houve um tema chamado “Simão”, a história de um jovem que não importa o que faça, volta sempre a casa apesar de procurar um vida melhor por outros lados. Foi ainda mencionado, e de facto é audível, a amizade que existe com Samuel Úria tolda bastante a forma como as músicas são escritas.

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Após uma curta banda, pois o palco precisava de ser apropriadamente composto, quem reivindicou o palco foram os Norton. A banda que ao entrar em 2017, vai completar 15 anos e ainda lançar um novo disco, tem um vasto leque de temas que consegue adaptar para as mais diversas situações. Para este dia, trouxeram-nos maioritariamente temas com já sete anos de vida, como Your Balcony. Foi levantada uma questão durante uma pausa entre temas, quem entre os presents já conhecia os Norton? Poucas mãos se levantaram, e a banda ficou por um lado grata por ter através do Sofar Sounds acesso a público novo, mas após se tocar Two Points, inúmeras pessoas reconheceram o som do quotidiano, inclusivé se entoou o refrão até ao fim da música. A actuação bem que pode ser caracterizada como uma colectânea de hits da banda, tal como Bravo, Magnets, ou ainda a cover de Paris do Friendly Fires. A actuação estendeu-se talvez por mais tempo do que era suposto, mas quem haveria de se importar com isso? Foi tão agradável.

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Para a terceira e última actuação, para demonstrar como o Sofar Sounds mistura diferentes bandas, Niles Mavis ocuparam os seus lugares. Numa altura em que o frio já trespassava as velhas paredes de pedra com eficiência, esta foi a banda certa, o calor pretendido. Nelson Duarte, por muito talentoso que seja, não se apresentou sozinho, trouxe consigo guitarra, teclas e, com um maior destaque, trompete. Um total de quarto artistas que tornaram o ambiente completamente groovy. Trouxeram-nos o trabalho que partilharam no ultimo Junho, “NILES”, e melhor que qualquer outro tema, one thing clear demonstra a essência desse trabalho. São cortes e recortes musicais, segmentos separados e com severas interrupções, é uma busca por parte de Nelson Duarte para fazer sentido de instrumentos que tocam alheios uns dos outros. A música movia-se em diversas direcções, e o público aplaudia a cada tema, perante tal maestria não se poderia contemplar qualquer outra reacção.

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Não se poderia ter esperado mais do Sofar Sounds, uma vez mais deu aos seus fiéis seguidores uma selecção musical prazerosa, podendo desta vez ser atribuída como uma prenda de Natal antecipada. Após as devidas despedidas e votos de felicidade, o Sofar Sounds tem retorno marcado para Janeiro.

Texto – Samuel Pereira
Fotografia – Philowgraphy | Sofar Sounds Lisbon