Concertos Reportagens

More Than A Thousand, O encerrar de um ciclo intenso

Para além de perdas inesperadas e marcantes de músicos, o ano de 2016 ficou marcado, igualmente, por perdas de bandas em território nacional. Não falo apenas do fim de uma banda mas sim, e também, do fim de bandas demasiado volumosas e voluptuosas do underground nacional. No caso, falo de More Than A Thousand e da sua despedida. Despedida anunciada e temida desde a digressão europeia em Fevereiro e a nacional em Maio.

A festa deu-se no sábado passado, dia 10, no Estúdio da Time Out no Mercado da Ribeira e foi convidada a família Ash Is a Robot e Hills Have Eyes.

Cabe-me, antes de mais, falar na pontualidade certeira e na boa organização do evento, a contrastar com as condições do espaço que, não funciona com uma sala esgotada, o calor e a condensação tornavam o ar quase irrespirável, ao ponto de se esgotarem as águas do bar.

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Os primeiros a subir ao palco foram os Ash Is a Robot e não só! O público deu por iniciada a sua subida ao palco para o crowdsurfing que duraria até a música parar e as luzes se erguerem. Após um início potente e enérgico, chamam ao palco Dado de Ella Palmer para os acompanhar na “Philophobia” e logo de seguida, na terceira música, Cláudio vai para o meio do público cantar. Entre a oferta de t-shirts ao público, uma adrenalina palpitante, vozes a acompanhar as letras, um rock pesado e alternativo.

Os Hills Have Eyes seguiam-se na cerimónia com uma intro peculiar e ligeiramente desadequada. Com uma legião de fãs bastante coesa, era rara a música não cantada pelo público. A intensidade subia de degrau à medida que a noite ia caminhando e o instrumental forte e grave enchia-nos o peito de ar. A bateria destacava-se e empurrava-nos mentalmente para o meio do circle pitt criado já no final do concerto. Quase no final, também, Vasco, canta com eles e as pessoas invadem o palco com a mesma intensidade de quem vive no limite. No fundo, esta noite foi toda vivida no limite, não fosse o mosh estar na moda e o crowdsurfing obrigatório.

O aquecimento estava feito e o calor espalhava-se pelos corpos, na sua maioria cobertos por t-shirts de More Than A Thousand. Todos aguardavam este momento, alguns ansiavam-no pela intensidade, outros temiam-no. Conheci a música destes rapazes num CD da Rock Sound, um par de anos depois do início da banda. De imediato se fez um click e o corpo tremeu um bocadinho. Confesso que a existência deles era cativante e trazia novas cores ao underground em Portugal. 16 anos depois, e porque as coisas mais cedo ou mais tarde têm um fim, decidem fechar o ciclo. Um ciclo de histórias e estórias, um ciclo de música e de estrada, um ciclo de reconhecimento e de falta dele mas, acima de tudo, um ciclo genuíno, intenso e entranhável.

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O suspense apoderava-se do palco e com ele assumiam posições os 5 rapazes tão aguardados. Em cima do palco dava-se tudo! Como se, simultaneamente, este concerto fosse o primeiro e último da banda. A bateria de Wilson dá logo sinais e o ambiente explode. Vasco apenas avisa para ninguém se magoar e levantarem quem cair. A música é acelerada, pesada, densa e trabalhada. A voz tem um poder vigoroso e o chão estremece! Tudo ajuda a criar um misto de sentimentos que tanto eram de euforia como nostalgia como de uma ligeira agonia por tudo o que estava diante de nós não voltar a acontecer mais! As explosões fizeram-se sentir na maior parte do concerto, tendo mais impacto com “Make Friends And Enemies”, “Nothing But Mistakes”, “Cross My Heart” e “Fight Your Deamons”. A visita foi feita por todos os álbuns da banda, tendo ficado mais concentrada nos dois últimos: Vol.4 Make Friends And Enemies e Vol.5 Lost At Home. A acompanhar a “We Wrote A Song About You” Fábio dos Hills Have Eyes. Nostalgia à flor da pele com “Trip to Gotham City” e um certo sorriso adolescente nos lábios.

Esta noite não foi apenas a última dos More Than A Thousand, foi também aquela onde os sentimentos estiveram ao rubro e algo de bom e intenso vai ficar na memória dos presentes. Os agradecimentos eram infindáveis. Os deles e os nossos. Resta-nos agradecer o que fizeram pela música e os momentos que nos ofereceram.

Como se pode ler na página de facebook do Mike: “Everything comes to an end, yup it does, in one way or the other, but…music is forever right?”. Foi apenas um ciclo que se fechou mas a musica de MTAT vai continuar a existir e nós a ouvi-la!

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Nuno Cruz
Vídeo – António Aleixo | Tom And Jelly