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Zu, um estrondo refinado

Zu não deveriam precisar de apresentação. Mas nem sempre a qualidade é reconhecida de forma uniforme, por isso aqui vai: Italianos, 3 elementos, 14 álbuns, mais de 2000 concertos, Punk-Jazz, Noise-Rock, Avant-Gard.

Comecemos pelo início. A Galeria Zé dos Bois, ponto de encontro de melómanos ávidos de sonoridades exteriores aos circuitos mais percorridos, encontrava-se já bastante preenchida quando soaram os primeiros acordes dos Portugueses Älforjs. Abdicando do palco, o trio instalou-se no centro da sala, conduzindo-nos pelos trilhos do seu auto-denominado Vodoo Noise.

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O Contrabaixo, o Sintetizador e a Bateria foram da responsabilidade de Bernardo Álvares, Mestre André e Raphael Soares, que exibiram Jengi, o seu primeiro álbum, de uma forma hábil e possante. De facto, a conjugação de elementos Jazzísticos com ritmos tribais e uma pitada de psicadelismo, leva a que nem as longas faixas tenham conseguido concentrar uma audiência positivamente impressionada.

A três miúdos que ousam entrar no árduo território experimental, que frequentemente arriscam o improviso, e que exibem imensa confiança na música que produzem, só temos uma coisa a dizer: Respeito.

Perto da meia noite, hora em que os Italianos Zu se preparavam para entrar em palco, uma longa comunidade de expatriados invade a sala. A banda inicia a sua contenda sob a batuta do saxofone, uma bateria ritmada e um baixo com o volume mais elevado que o normal. A intensidade é incrível. Não há espaço para conversas, para fotos, nem para ir buscar rodadas a tarefa foi facilitada, já que poucos foram os interregnos entre músicas. A banda teve o mérito de agarrar os presentes pelos colarinhos, e isso é de louvar.

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O trio de Roma foi disparando a sua sonoridade progressiva em todas as direcções: o Punk-Jazz não passava indiferente a ninguém, mas, na verdade, o que realmente pernoitou em nós foi a imagem das toalhas dos vários elementos completamente ensopadas. O público soube reconhecer o esforço e retribuiu com um amor em forma de urros, braços no ar, headbanding e imensos aplausos.

Se os Zu iam percorrendo a sua longa discografia de duas casas decimais, a verdade é que foi Carboniferous  o álbum que mais ecoou naquela sala da ZDB. Sem nunca precisar de alimentar os seus egos, ou de ser protagonistas, e num concerto com escassas interrupções a banda deixa o palco. Parece-nos que não lhes ocorreu a palavra encore até verem e ouvirem aquela multidão a pedir entusiasticamente o seu regresso. Regressam e brindam um público radiante com mais dez minutos de uma sonoridade agressiva mas refinada, num concerto que ficou a milímetros do irrepreensível.

Texto – Tiago Pinho
Fotografia – Jorge Buco