Concertos Reportagens

The Parrots, punk servido com colheres de boa disposição

No dia em que os olhares se prendiam a um monitor, o Musicbox preparava uma festa. Era sábado, dia 5, e as pessoas iam entrando aos poucos, ansiando festejos ou suspirando derrotas. Muitos já os conheciam de outras passagens por terras lusas, como a mais recente presença no Vodafone Mexefest e, outros, vinham apenas movidos pela curiosidade e sede de punk. A festa ia ser dada pelos The Parrots e pelos portugueses Nooj, que abriram a noite.

Saídos da ficção científica (como mais tarde explicaram: Nooj – personagem de Final Fantasy), não vinham com o objectivo de criar ficção. A realidade era a música que traziam e que usam como ramificação de Old Yellow Jack e Raptor Attacks.

Seguindo um punk rock tímido com contornos demarcados de post – punk, os Nooj, com apenas uma bateria, uma guitarra e pedais conseguem criar um ambiente descontraído e agradável. A maioria das músicas são curtas e em poucas delas se ouve voz. Quando se ouve, é apenas em repetição, com frases simples e curtas e com uma tonalidade fraca, o contrário do que pede este estilo musical.

O instrumental tem influências claras de Ramones, sendo notório o gosto por esta banda, tendo, inclusive, terminado com o tema “Cretin Hop”. Fizeram parte do alinhamento ainda “Vida Paula”, “Cena”, “Flores” e “Morte”, entre outras.

Que os espanhóis gostam de festa, já toda a gente sabe. Que os espanhóis têm muito bom punk, poucas pessoas sabem. Nomes como Reincidentes, Pablu’s Dog, La Polla Records e Parálisis Permanente passaram e passam pela minha vida deixando sempre um sentimento de grande orgulho nos nossos irmãos.

Juntemos agora à festa um dos nomes mais recentes do panorama punk espanhol – os The Parrots – e pensemos o resultado que isso pode dar. A expectativa era alta, tinham dado um dos melhores concertos a que assisti no Vodafone Mexefest’15 e, naquele sábado, o baile deu-se e a loucura instalou-se.

Diego, Larry e Alex lançaram o EP Weed For The Parrots no verão do ano passado e foi nele que basearam o concerto. Foi tocado na íntegra, juntamente com uma faixa nova – “Do It Again” e “Loving You is Hard” entre outras.

De calças rasgadas, blusão de ganga e cabelos despenteados estes rapazes vêm carregados de adrenalina e diversão. Pelas veias corre-lhes o gosto agridoce do punk sujo e genuíno e a conquista fez-se rápido. O público cantava tudo como se o amanhã não existisse e rapidamente se gerou moche, todo o tipo de saltos e crowd surfing. Mais perto do fim do concerto pedem por favor que lhes deem cerveja e marijuana e, fazendo jus ao nome do EP, o pedido foi realizado. Sem saber como, subitamente o palco enche-se e é assaltado por pessoas loucas e carregadas da adrenalina que os espanhóis lhes passaram. A insanidade instala-se e a felicidade espalha-se.

O “renascimento” do punk desta qualidade é algo que devemos aproveitar e agarrar. Embora apenas nos tenham brindado com 45 minutos de concerto, conseguiram celebrar a boa música e deixar o ambiente bastante aquecido.

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Ana Pereira