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Baroness, a espera compensa sempre

Domingo é aquele dia da semana chato onde as dores sobressaem, tanto aquelas que são resquícios que a noite anterior deixou, como aquelas que advêm do pensamento que outra semana de trabalho se aproxima ou, ainda, aquelas que surgem simplesmente do vazio.

No passado Domingo, dia 6, o Paradise Garage ofereceu a todos os que deixaram a preguiça em casa analgésicos naturais que degenerariam em boas doses de explosões mentais capazes de recompor qualquer corpo e mente doridos.

Não estou apenas a falar da boa música, para além dela, houve ainda uma união de almas e uma onda de satisfação, amizade e comunhão inundou a sala, não só durante o concerto dos anfitriões, mas também enquanto se assistia a CORREIA.

Após um concerto que gerou sorrisos espásmicos em Dezembro, os CORREIA estavam de regresso a Lisboa e nem a ansia de ver Baroness levou o público a não se entregar de corpo e alma a estes 4 rapazes. Se o primeiro concerto foi bom, este tocou em topos divinos. Ainda mais maduros e com uma sede insaciável de partilhar boa música, os CORREIA deram um concerto grandioso que serviu para lembrar as pessoas do bom rock que se faz em Portugal.

As pessoas, por sua vez, não conseguiam esconder a perplexidade e contentamento com o que estava diante de si, esboçavam sorrisos e mantinham a boca entre aberta. Defronte dos seus olhos viam-se explosões de sabedoria: danças de cordas possantes geradoras de riffs magnéticos, teclas com ritmos apaixonantes e envolventes, uma bateria inquietante, letras poderosas e desconcertantes e vozes marcadamente fortes.

De Act One, apenas ficou a faltar a última faixa, o tempo estava contado. De relevar a força e poder do último single “Deceivers Of The Sun”, a euforia de “Ghost Love” e a magia irónica de “Stepfather”.

É bom ver bandas nacionais com esta força e é satisfatório ver como o público as abraça e leva para casa a alma cheia. Fica a ansia de ver o álbum sair e mais datas marcadas, sendo que a próxima é já no dia 21 de Abril no Stairway, em Cascais.

Alguns minutos para recompor o coração. Faltava a segunda parte, para a maioria, a mais ansiada da noite. Tratava-se dos tão aguardados Baroness que não pisavam o solo luso há 4 anos. A banda que, não tarda, completa um arco iris de álbuns vinha com saudades e vontade de mostrar ao público português que se mantêm donos de um rock inigualável e uma presença avassaladora em palco.

Depois de terem passado por infortúnios trágicos e separações, a nova constituição da banda trouxe-lhes um renascimento e um ar que tanto tem de melódico como de robusto.

A passadeira estendia-se com “Anvil Of Crom” de Basil Poledouris e um a um entravam em palco os mestres do rock. Não esperavam a recepção e gratidão que encontraram e, logo ai, houve uma comunhão que fez com que o concerto seguisse o melhor rumo possível.
Para início, a apresentação do Purple, lançado no final do ano passado: “Kerosene”, “Morningstar” e “Shock Me” encheram os corações como se do primeiro amor se tratasse.

De seguida, a revisitação pelas outras cores da banda mais centradas no Yellow & Green. Do Red Album tocaram apenas “Isak” no encore e, do Blue Record “A Horse Called Golgotha” e “The Gnashing”, sendo um alinhamento mais centrado no Purple e no Yellow & Green. De qualquer das formas, o público acompanhou todas as músicas do princípio ao fim do concerto, gritando em tom emocionado as letras. Algo que deu algum jeito ao vocalista John Baizley que ia perdendo a força da voz ao longo do espectáculo. O jogo de luzes foi sempre acompanhando as várias tonalidades dos álbuns construindo, assim, uma cerimónia ainda mais grandiosa.

A noite foi composta por acordes sublimes e batidas engrandecedoras. O baixo de Nick vinha carregado de melodia e paixão, balançando com as guitarras de John e Peter que produziam acordes sábios, complexos e robustos que roçavam, por vezes, o heavy. O headbanging, inevitável do princípio ao fim, criou arte e harmonia.

O agrado e entrega da banda pôde ainda notar-se quando, no fim do concerto, descem o palco e ficam a cumprimentar os fãs e dar autógrafos de forma incansável e grandiosa, tal como a música deles.

Pudéssemos nós ter painkillers como esta noite todas as semanas e todos os nossos males se curariam mais rápido. Obrigada à organização e às bandas por isso.

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Valentina Ernö (Silvana Delgado)
Promotor – Amazing Events