2015 Festivais Reportagens Vodafone Mexefest

Vodafone Mexefest dia 28, Encerrar com chave de ouro

Apesar dos quilómetros percorridos no dia anterior, a energia ainda existia e estava tudo preparado para o arranque da descoberta musical.

Desta vez o percurso começou na Sala Montepio do Cinema São Jorge, com a intrigante Jenny Hval. Por entre a escuridão, uma mesa de mistura e sintetizadores. Monólogos com e sem beats por detrás. Sons da natureza e sensibilidade. Foi assim que se apresentou a norueguesa diante de nós. Com uma voz cristalina e doce, que por vezes se elevava em tons de histeria, serviu para nos deixar com uns toques de inquietação.

Como que a voar, descemos a Avenida rumo à Igreja São Luís dos Franceses onde se sentia um certo calor aconchegante no ar. Os portugueses Beautify Junkyards contavam histórias ao som da sua música folk com algumas pinceladas subtis de psicadelismo. A um ritmo suave, confortante e poético e com uma tonalidade de embalar, os 6 elementos traziam esperança e alegria ao público com um cenário bucólico ao seu redor.

 

A próxima paragem era a Sala Super Bock na Garagem da Epal onde nos esperavam os Flamingos. Os Flamingos são um duo pop que canta em português. Em cima do palco, vão trocando guitarras e vozes, numa melodia doce e acetinada que roça ao de leve cânticos tradicionais portugueses. Propositadamente, ou não, a postura em palco é atraente e chamativa, criando até um ambiente envolvente e relaxante de onde as pessoas vão despertando com a aparição de riffs mais vigorosos.

 

A preparar-se para subir ao palco do Coliseu dos Recreios estava o multifacetado Ariel Pink. Cheirava-se expectativa no ar. A melodia sombria coberta de sintetizadores e um cocktail de instrumentos assomava-se diante de nós. Calafrios subiam o corpo e estampavam-se no rosto em forma de sorriso. Ariel foi ele próprio: uma figura pitoresca que transborda rock experimental, algum progressivo e uma mescla de pop com psicadélico. A verdade é que o conjunto resulta na perfeição e este senhor trouxe um grande momento ao coração da Avenida da Liberdade. Não faltaram os êxitos de pom pom, o seu último trabalho.

 

De volta à estrada, rumo ao Teatro Tivoli BBVA o francês Nicolas Godin preparava-se para espalhar charme. Com pedaços da obra de Bach, cada tema era apresentado com uma aliança de ritmos e géneros musicais acompanhados por uma voz completamente robotizada e distorcida, causando sintomas inquietantes por entre a plateia.

 

A caminho de um dos concertos mais aguardados da noite, no Tanque, esperava-nos uma multidão cheia de vontade de mergulhar de cabeça pelas ondas excêntricas de Peaches. Conhecida pela sua aparência sexual e provocatória, em cima da mesa onde faz misturas, teve o público a seus pés. Sem banda, apenas ela, um micro e botões, a canadiana conseguiu proporcionar um espectáculo cheio de atitude punk e ritmo. Ao longo do concerto, chamou Da Chick ao palco para cantar com ela, fez a espargata, dançou com bonecos insufláveis, regou o público com champanhe, fez crowdsurfinhg, teve posturas sexuais e, não dispensou “Fuck The Pain Away”, claro! A quarentona está para as curvas e mostrou que ainda tem muito para dar.

 

Na sala ao lado, já era aguardado ansiosamente Patrick Watson. Na aconchegante sala do Coliseu e com um cenário digno de levantar todos os pêlos existentes no corpo de cada um, o canadiano preparava-se para dar o concerto da noite. Com a sua voz sensualmente calma entoava frases sobre o amor e a vida, envolvendo a plateia num abraço que levaria todos a sonhar. Compositor de várias bandas sonoras, Watson sabe o que fazer e como fazer. Em pouco tempo tinha o público rendido e não foi preciso de esforçar para isso. Ainda assim, em jeito de correria, apareceu no camarote central com um megafone em punho para cantar “Man Under The Sea” e receber uma fã que lhe saltou camarote a dentro para o abraçar e retribuir todo o amor que ele distribuiu ao longo do concerto. Aquele que foi o concerto mais longo da edição e, talvez, o melhor, deixou um astral de paz e serenidade que transbordavam pela cara de todos os que saíram do Coliseu já pelas 2h da madrugada.

 

Em paralelo com a calma, a desordem! Mais uma vez, o Ateneu Comercial de Lisboa estava disposto a servir uma boa dose de punk àqueles que precisavam de acelerar o coração. Desta vez com punk cantado em espanhol, em cima do palco estavam os The Parrots. Eram apenas 3 e era suficiente. O Ateneu estava cheio e faltava apenas ver poeira no ar. O ambiente transformou-se em irmandade e as almas deram as mãos para saltar e abanar a cabeça em comunhão. O punk está bem vivo e os portugueses adoram-no.

 

Chega assim ao fim mais uma edição do Vodafone Mexefest. Na recordação ficam os quilómetros percorridos entre as salas, as carrinhas de boleias sempre conduzidas por gente simpática, os cenários idílicos de salas com anos de história, a paisagem, as selfies, as setlists, a descoberta de bandas, a magia das luzes da Avenida da Liberdade, o cheiro a castanhas no ar e, acima de tudo, a boa e variada música. Apesar do frio, nunca o centro da cidade esteve tão quente como nestes dias de festival.

A melhorar, apenas o estado das colunas de algumas salas que interferiam negativamente com o espectáculo a que se assistia.

Até para o ano Mexefest!

Outras reportagens Vodafone Mexefest 2015:

Vodafone Mexefest Dia 27, O encanto regressou à avenida da liberdade
https://www.musicaemdx.pt/2015/11/29/vodafone-mexefest-dia-27/

O ambiente do primeiro dia de Vodafone Mexefest 2015
https://www.musicaemdx.pt/2015/11/29/ambiente-primeiro-dia-vodafone-mexefest/

Segundo dia de Vodafone Mexefest 2015, a cidade continua a mexer
https://www.musicaemdx.pt/2015/12/01/segundo-dia-de-vodafone-mexefest-2015-a-cidade-continua-a-mexer/

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Música no Coração