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Vodafone Mexefest Dia 27, O encanto regressou à Avenida da Liberdade

Passo a passo, correria a correria, eram 14 os espaços onde nos podíamos perder. Pela Avenida fora, espalhava-se magia e música para todos os gostos.

O percurso do Música em DX teve um arranque celestial e envolvente. Na Igreja São Luís dos Franceses, o intimismo cheirava-se ao longe. Anna B Savage, acompanhada da sua guitarra, fez estremecer a plateia quando juntou os lábios ao microfone e revelou o poder existente na sua voz. Cheia de expressividade facial, com uma melodia suave e melancólica, seguindo sempre a mesma linha contínua guiou-nos a um mundo secreto coberto de estranheza.

Avenida acima, La Priest esperava-nos no Teatro Tivoli BBVA. O membro dos Late Of The Pier foi uma grande surpresa. Apresentou-se com um charme único, transbordando boas energias. Era impossível ficar sentado. Os beats elegantes cobertos de loops energéticos foram acompanhados pelos riffs de uma guitarra sensual que ia acariciando com os dedos. Visualmente, assistimos a danças disléxicas onde a estranheza se mesclava com a originalidade e animação.

Em mais uma caminhada, o Coliseu dos Recreios, era o próximo destino. Com um estranho e pouco habitual atraso, os americanos Chairlift subiam ao palco para nos trazerem, inesperadamente, um dos piores concertos da noite. Um sistema de som ligeiramente fraco e músicas demasiado serenas, sem ritmo que chamasse a atenção foram motivos suficientes para se ouvirem centenas de vozes a sussurrar durante o concerto. A distração pairava e os americanos conhecidos pelos sintetizadores alegres que caracterizam a sua música não conseguiram atrair a plateia. Talvez o novo álbum que se aproxima e que estava a ser apresentado não seja algo que resulte em palco, ou eles não quiseram fazer por isso.

De volta à contagem de passos pela Avenida acima, esperava-nos uma onda apaziguadora. Os Ducktails subiam ao palco do Teatro Tivoli BBVA para contar histórias de encantar no seu tom de dream pop com contornos de indie e traços de pop psicadélico. Com uma simpatia cativante e uma delicadeza instrumental complexamente alegre, acalmaram os corações desiludidos. A voz distorcida que se ia conjugando com uns riffs psicadélicos empolgantes ensinava que a vida é bonita e questionava o que dizem as luzes da rua aos nossos olhos.

A próxima paragem era a Sala Super Bock na Garagem da Epal. Sala existente apenas desde o ano passado, é um espaço que se tem revelado excelente para a descoberta de surpresas e muito boas bandas. Este ano não foi excepção e Bully, não só foi uma agradável surpresa, como também foi um dos melhores concertos da primeira noite. A inércia era impossível, mesmo que não houvesse espaço. A banda americana de punk rock vinha coberta de energia, garra e vontade de desbravar caminhos. O ritmo galopante e descontrolado da bateria, acompanhado pelos riffs acelerados e pesados das cordas transformaram-se em puro prazer auditivo. A vocalista, cheia de carisma e uma voz deliciosamente poderosa seria a cereja no topo do bolo.

Eis que o Coliseu se enchia para o tão esperado Benjamin Clementine. O londrino, pela segunda vez em Portugal, tinha á sua espera corações expectantes e inquietos, cobertos de vontade de ser aconchegados e aquecidos pela voz tenor que o caracteriza. À média luz em frente a um piano imponente, Benjamin declamava poesia. A intensidade da sua música era forte e dotada de uma extrema sensibilidade melódica. Pelo ar do Coliseu espalhavam-se sorrisos, levitavam-se almas e ecoavam vozes. Um concerto calmo, composto por um enorme talento, sentimento e harmonia.

A noite não poderia terminar tão serena! Na sala ao lado, no Ateneu Comercial de Lisboa, estava a acontecer uma revolução. E que bem soube fazer parte dela! Os americanos Titus Andronicus são 6, e 6 é um número que faz a diferença em cima de um palco. O punk entrou nas veias da plateia e começou a circular a uma velocidade louca. Era impossível ficar parado ou indiferente. A qualidade e talento musicais realçavam-se. As 3 guitarras existentes, em risco de perderem as cordas, eram usadas sem piedade. A bateria, a maior causadora de dores de pescoço e possíveis nódoas negras, quase que voava. A postura punk, tal boom do início dos anos 80, foi surpreendentemente contagiante e empolgante.

Pode dizer-se que nesta noite o punk foi rei.

Foi neste registo que saímos de sorriso plasmado no rosto e cheios de vontade que o dia a seguir chegasse.

Outras reportagens Vodafone Mexefest 2015:

– O ambiente do primeiro dia de Vodafone Mexefest 2015
https://www.musicaemdx.pt/2015/11/29/ambiente-primeiro-dia-vodafone-mexefest/

– Vodafone Mexefest Dia 28, Encerrar com chave de ouro
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– Segundo dia de Vodafone Mexefest 2015, a cidade continua a mexer
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Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Música no Coração