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Xinobi, Um Mundo nas mãos

Foi no seu estúdio muito perto da Morais Soares em Lisboa, que Bruno Cardoso (Xinobi) nos recebeu. Sorriso sincero num Cap tímido, Bruno protegeu-nos da chuva intensa que nesse final de tarde lavou as ruas da cidade.

Quis o destino que a guitarra lhe fosse parar às mãos depois de um acidente de skate, que o obrigou a ficar um verão fechado em casa. Pouco dado a demasiada socialização, cedo descobre que o computador é o melhor amigo dos jovens solitários. O punk dos finais dos anos 70 (Sex Pistols e Ramones) foi a sua inspiração, mas a electrónica seria a combinação perfeita do que realmente queria criar. As Belas Artes são estruturais na expressão artística no vídeo e claro, na música. Entrou em 2015 8hs adiantado (Hong Kong), no bar mais alto do mundo… pode ser coincidência, mas eu tenho dúvidas. Modesto, disponível e manifestamente humilde, e se calhar por isso o Mundo o procura com tanta frequência. Até amanhã Bruno!

MDX – Como é que culturas como o Punk e o Skate se cruzam com a música electrónica?

Xinobi – No início dos anos 90, com aparecimento dos Prodigy e dos Daft Punk, que surgem com um registo totalmente diferente, um punk associado a sintetizadores e samples electrónicos. Sempre achei o Hip-Pop muito ligado ao Punk. Nessa época havia uma revista de Skate que trouxe numa das suas edições um CD de música punk, e eu fiquei totalmente fascinado com aquilo. Entretanto parti um braço a andar de skate (risos) e fiquei um verão inteiro fechado em casa, como tinha que exercitar os dedos da mão, comecei a tocar guitarra do meu pai.

Aos 16 anos tinha uma banda, pois até essa altura era solitário, tocava em casa só para mim. A dada altura comecei a perceber que podia fazer música no computador, e isso fascinou-me. Nunca tive aulas de música, aprendi tudo o que sei sozinho. E voltando à tua pergunta, nessa época percebes que há bandas “de rua” que ganham uma projecção enorme, como os Sex Pistols e os Ramones, que para mim foram muito inspiradores.

Coloquei algumas músicas no “Myspace”, e fui convidado para tocar como DJ. Nunca tinha tocado sozinho, pois a experiência que tinha era em grupo, com os The Vicious Five. Tem corrido bastante bem, dada altura deixei de procurar emprego noutras áreas (risos) dá para viver da música.

MDX – Qual a tua formação académica?

Xinobi – Acabei as Belas Artes na área do vídeo e música. O meu trabalho final de curso foi um vídeo sobre as “multidões dançantes”, ou seja as Raves.

MDX – Como surgiu a ideia de fundares a editora independente “Discotexas”? Foi uma necessidade?

Xinobi – Conheci o Moulinex e começámos a fazer festas. Ninguém nos queria editar, e resolvemos abrir a editora (risos). Começámos a editar amigos nossos e outras pessoas. Editei vários EP´s, mas pela “Discotexas” só 2, e um deles o “1975”.

MDX – Por falar no “1975” é um disco brutal. Apesar de ser um registo que não é o meu (risos) comprei precisamente pela diversidade. “Mom and Dad” é um tema incrível, cheio de sedução diria mesmo. O videoclip dá-lhe uma volta…Concordas?

Xinobi – O vídeo é uma espécie de sequela de um outro vídeo. O primeiro é uma espécie de estrela de rock em decadência. Ambos são vídeos de performance, o “Mom and Dad” acaba muito mal com a própria morte… É uma actriz que improvisa muito bem. Um dia vêm ter comigo e dizem-me que querem fazer um videoclipe de uma das minhas músicas, “Real Fake”. Achei fantástico.

MDX – És tu que escreves o guião do videoclip?

Xinobi – Sim, apesar de me custar muito escrever sobre os vídeos (risos).

MDX – A letra do “Mom and Dad” é tua?

Xinobi – Acho que nunca disse isto (risos), mas a letra é uma apropriação de 3 ou 4 temas que gosto muito, de Velvet Underground, Pink Floyd e Bird. Tem a ver com os samplers da música electrónica (risos), se o fazemos com música porque não fazer coma letra?!

MDX – Qual é o balanço que podes fazer do teu percurso na música?

Xinobi – Desde 2007 que tem sido mais à séria. A melhor coisa de tudo é conseguir viver da música, ter o mínimo de reconhecimento e viver daquilo que faço. Tenho medo que isto acabe (riso)!

MDX – O que mais gostas de fazer na música, compor, tocar?

Xinobi – Gosto muito fazer DJ Set… gosto de tudo desde que saia tudo bem (risos)!

MDX – Lembro-me que na passagem de ano estiveste…

Xinobi – Em Hong Kong! Sim fui convidado para tocar num sítio incrível, no bar mais alto do mundo! Lembro-me de ver o fogo-de-artifício muito pequenino lá em baixo e achar incrível. Depois à meia-noite e um minuto quando comecei a tocar o encanto desapareceu. Pediam para tocar outro género de música… foi estranho. Tocar para muitas pessoas, não é o que mais me agrada. Por exemplo, posso tocar só para duas pessoas que mereçam e ser muito bom!

MDX – Quais as actuações que mais te marcaram?

Xinobi – Epá isso é uma pergunta difícil (risos)… Em Bordéus num porão de um barco. Em Cannes na altura do Festival, também num barco. No Maus Hábitos, no Porto. Na festa de lançamento do meu álbum com Moulinex, no Lux em Lisboa!

MDX – Qual a tua opinião sobre o panorama da música electrónica em Portugal?

Xinobi – A música electrónica está muito bem e temos artistas óptimos! Os Buraka (que acabaram), o Branko, Da Chick (uma diva da pop), Mirror People (Rui Maia) que toca nos Ex-Wife. Vou ser injusto, porque não vou conseguir citar todos! A música portuguesa está na idade de ouro, tudo é super inspirador! Há uma concorrência saudável, todos querem ser ainda melhores, há uma grande sensibilidade pop. Os últimos 3 anos são mesmo a idade de ouro.

MDX – O que podemos esperar na próxima 6ª feira, no Jameson Urban Routes no Musicbox?

Xinobi – Um concerto de rock! Duas guitarras, um baixo e uma voz! Ana Miró (Sequin), Óscar (Jiboia). O computador às vezes aborrece-me (risos). É isso, vamos dar um concerto de rock!

Recordamos que o concerto de Xinobi no Jameson Urban Routes é na Sexta-Feira, dia 30 de Outubro.

Mais informações sobre o Jameson Urban Routes’15 disponíveis em Reportagens > Festivais > Jameson Urban Routes > 2015.

Entrevista – Carla Sancho
Fotografia (Capa) – Lydie Barbara