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Restless Tour, companheirismo e o propósito da partilha da música

O RCA Club, casa mítica por oferecer concertos de música mais alternativa e pesada, abriu as portas na passada sexta-feira, dia 9, a um evento grandioso com o único objetivo de juntar amigos e fazer música.

Este evento, de nome Restless Tour, que já vai na segunda edição e teve Sam Alone como anfitrião, tem por objetivo recriar tournées que se faziam nos Estados Unidos nas décadas de 40 e 50 onde vários grupos locais de country, blues, rock’n’roll e folk se juntavam e iam para a estrada por uns tempos. Partilhavam o palco e músicas, tocando músicas dos grupos individualmente e em conjunto.

A verdade é que o que se assistiu naquela noite foi demasiado emocionante. Em cima do palco, 9 pessoas aqueceram o RCA e todos os corações que lá estavam, muitos por sinal! E nem se podia esperar outra coisa. Essas pessoas eram a Sara e o Pedro dos Storm & The Sun, o Nelson ou We Bless This Mess, o Bruno ou The Fellow Man, o Nelson ou Fast Eddie Nelson, o Roy Duke, o Frankie Chavez o Poli ou Sam Alone e o Miguel Correia dos More Than a Thousand. Juntos, tinham o propósito de nos proporcionar uma noite que iria ficar para a história.

O objetivo seria tocarem todos juntos uma música de um deles em específico e depois cada banda tocar mais de um par de músicas da sua autoria sem companhia. Primando, assim, pela versatilidade e qualidades instrumentais de cada músico ali presente, que se estendiam às mais variadas maneiras de tocar qualquer tipo de instrumento, brindando-nos, deste modo, com diversas formas de talento.

A festa começa e a voz poderosa e corpulenta de Sara deixa todos boquiabertos pela grande surpresa. Os Storm & the Sun são novos nestas andanças e este era o segundo concerto que davam. O duo aposta em sonoridades de blues, folk e gospel e apresentou-nos “Murderers” e algo mais calmo como “Mouring” ou “Breath Me”.

De seguida, We Bless This Mess chama os amigos para tocarem e cantarem com ele “Silence”, que dedica com emoção ao anfitrião. Toca ainda “Aside Heaven in Hell There’s Peace” e uma música nova. A voz de surf rock americano continua a caracterizar Nelson, que tem um estilo que mescla o rock com o folk cantado com o coração.

The Fellow Man vinha a seguir, começando por tocar o seu single que conta com vários convidados – “Long Road” – dando continuação à festa de folk que estava a acontecer e, depois, encantou a solo com “Sing With Me”.

Era a vez de Fast Eddie Nelson e o seu ritmo contagiante do blues mesclado com o rock’n’roll e com o folk que nos transporta para o Texas nas décadas de 60 e 70. Com a participação de todos, ouvimos “Been Gone too Long” e ainda fomos prendados com uma cover de Louis Armstrong que ele afirma ter pena de não ser dele, a “On my Way”.

No seguimento, vem Frankie Chavez com “Morning Train”, tendo depois passado para bateria, enquanto tocava guitarra e cantava ao mesmo tempo, mais uma apresentação de puro blues de mão dada com rock’n’roll.

Era tempo do anfitrião nos mostrar a sua alma em cima do palco. “Gardens of Death” dava o arranque de saída, seguindo-se a emocionante “Warm” que dedica carinhosamente ao irmão e canta de lágrimas nos olhos. As dedicatórias continuam com “Restless” para o amigo Frankie Chavez em homenagem à sua luta incansável.

Chega-se à linha da frente Roy Duke com o seu contrabaixo. Em conjunto, toca-se uma cover de Morrissey e voltam ao palco todos os amigos para, em conjunto, tocarem mais uma música de cada um. Chegando ao final, o público, incansável e com as emoções à flor da pele, implora por mais. Eles cedem e ofertam ”Maggie’s Farm” do Bob Dylan.

A descontração e união que se via naquele palco eram de louvar, entre as músicas existiam piadas a circular em todos os sentidos. Por quase 3 horas assistiu-se à amizade no seu estado mais puro e celebrou-se a mesma com um brinde ao gosto pela música. O ambiente era de entrega total e foi isto que se sentiu entre o público. Este, abriu os abraços e deixou-se envolver por toda a atmosfera de boas energias, criando magia. A comunhão matrimonial era perfeita entre os que estavam em cima do palco e os que estavam na linha a baixo, as vozes entoavam em coro e a emoção era partilhada por cada alma presente.

Apesar dos problemas existentes com uma das colunas do lado esquerdo do palco, garantidamente, este momento soube a pouco e deixou vontade de mais. Assistimos a um dos concertos do ano e esperamos uma próxima edição em breve. Parabéns a todos! Continuem a fazer boa música e a provar que o amor pela mesma não tem preço.

 

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Valentina Ernö (Silvana Delgado)