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Orphaned Land, Uma noite acústica muito especial

Os Orphaned Land começam a ser uma presença habitual em Portugal. Depois de um concerto na edição do Vagos Open Air de 2015, a banda israelita voltou a colocar o nosso país no seu roteiro, desta feita para uma tour em formato acústico. A acompanhá-los, no cinema São Jorge, estiveram os alemães Mollust e os espanhóis Leaves.

Para dar início a uma noite que se adivinhava especial, vindos de Barcelona, subiram ao palco os  Leaves. Uma banda que se caracteriza por uma sonoridade algures entre o rock e o gótico, com a belíssima voz feminina da sua vocalista, encantadora e que demonstrou ao longo de todo o concerto uma enorme simpatia. Apesar de o som da banda não acrescentar nada de novo dentro do seu género musical, resultou bem no formato acústico, mesmo com uma certa repetição existente na sua sonoridade, o que não foi assim tão notado se tivermos em conta a curta actuação da banda (cerca de 25 minutos apenas).

Seguiram-se os Mollust, a banda alemã que está a acompanhar os Orphaned Land nesta tour. A curiosidade para conhecer esta banda – que se define pela mistura entre Ópera e Metal – era imensa, e assim que entraram em palco captaram imediatamente a atenção de todos os presentes. Com um vestuário clássico, quatro membros femininos – divididas entre teclas/voz, duas violinistas e uma violoncelista – e um vocalista/guitarrista, deram um concerto marcado por uma forte componente teatral (talvez em demasia?), onde fundiram os dois géneros musicais referidos em cima, com a particularidade de se apresentarem em palco sem a banda toda reunida, uma vez que alguns membros ficaram de fora desta tour, devido ao seu formato acústico. Actuação bem estruturada e encenada, com alguns  momentos caricatos, como por exemplo quando o guitarrista decidiu colocar uma coroa e passear entre o público. Uma banda num registo diferente que, certamente, agradou a muitos dos presentes e deixou outros algo estupefactos.

O pano de fundo já era dos Orphaned Land, mas foram os Stimmgewalt Choir – um coro de seis poderosíssimas vozes – a surgir em palco. Interpretando temas de bandas como Rammstein ou Van Canto, passando ainda por uma homenagem musical à cerveja com Beer, Beer, Beer, apresentaram um mini-set, preparando a entrada da banda israelita que todos os presentes aguardavam. E assim foi. O coro de vozes recuou um pouco no palco, onde permaneceram durante as quase horas seguintes, e os Orphaned Land apareceram entre uma enorme ovação, começando a sua actuação com o tema The Simple Man.

Ainda a apresentar o seu trabalho mais recente , All is One -, a banda focou-se sobretudo neste álbum, assim como no excelente The Never Ending Way of OrwarriOR, não esquecendo também temas mais antigos. No ano em que que comemoram 25 anos de banda, o vocalista Kobi Farhi afirmou que a banda decidiu aproveitar o formato acústico para interpretar temas que normalmente não costumam ser incluídos nos seus concertos habituais.

Antes de interpretar o tema Brother, e como à música dos Orphaned Land está subjacente uma importante mensagem, Kobi Farhi falou sobre o conflito que se vive na região entre árabes e judeus, um conflito marcado em grande parte por questões religiosas. Apelou à paz, sublinhando o papel transcendente que a música pode desempenhar em unir as pessoas. I grew tired from these endless years of (our) fight / from a tiny corner stone we may build our realm of light / please hear me brother ouve-se durante este tema. Palavras que não são suficientes para resolver um conflito bastante complexo, mas que têm o poder de transmitir uma mensagem positiva e de unir as pessoas através da força da música.

Temas como New Jerusalem, All is One ou Sapari deixaram o São Jorge completamente rendido a uma actuação onde a interacção com o público foi uma constante, pautada por um enorme sentimento de união que se vivia dentro da sala. Depois de interpretar In Thy Never Ending Way, a banda saiu de palco, regressando de seguida para um encore que começou apenas com os Stimmgewalt Choir e Kobi Farhi em palco, a interpretarem Hallelujah, cover de Leonard Cohen. Já com toda a banda de regresso, despediram-se de um público de peito cheio com The Beloved´s Cry e uma apoteótica Norra el Norra (Entering the Ark).

Adivinhava-se uma grande noite, e assim foi. O cinema São Jorge foi invadido por uma aura mágica e unificadora, com o formato acústico como pano de fundo. Se as duas bandas de abertura não conseguiram ser consensuais entre os presentes, é inegável que os Orphaned Land deixaram (novamente) a sua marca no nosso país. Uma noite muito especial.

Texto – Pedro Reis
Fotografia – Miguel Mestre
Promotor – Prime Artists