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Dope Body, explosões de suor, fúria e rock do bom

A noite da passada quinta-feira estava amena e pouco se esperava o que estava para vir. Na sala onde o escuro é Rei e a boa música governa a Nariz Entupido decidiu criar o caos. Estávamos prestes a assistir a mais uma noite de grandiosas explosões musicais que iam deixar um rasto auditivo e emocional demasiado turbulento.

Eram 23h15 quando se ouvem sons da natureza. Tiago Castro, ou Acid Acid, prepara-se para nos injectar uns miligramas de um ácido transcendental que percorre as veias tão lentamente que tem o poder de criar explosões intergalácticas e majestosas deliciosamente bem escolhidas no cérebro dos presentes.

Acompanhado de uma amiga, a guitarra vinda da América, que acariciava com um arco de violino, do teclado, do sintetizador e dos pedais encantados construía loops magnéticos e criava hipnose geral. A introdução já permitia descobrir que estávamos a caminhar para um bosque. Durante a meia hora em que lá ficámos saboreámos o néctar e montámos a serpente. Uma boa dose de psicadelismo claramente influenciado pelas raízes, remetendo-nos para os anos 60 e 70.

Após um aperitivo saturado de emoções alucinogénias, vem uma porção de loucura. Pela primeira vez em Portugal, os meninos de Baltimore estreiam-se no palco do Sabotage Rock Club.

Confesso que tenho alguma dificuldade em descrever os Dope Body, não por não saber o que dizer sobre eles mas por ter demasiada coisa a dizer.

Estes 4 meninos americanos transpiram rock, energia, garra, presença e talento. Com uma amálgama de estilos que vão desde o noise, ao garage passando pelo punk e até pelo sludge, nota-se que o palco é o ambiente deles e a música o veículo que os guia à concretização pessoal. São claras as influências de Fugazi. Na segunda música, Andrew Laumann, vocalista, despe a t-shirt. A energia electrizante escorria-lhe pelo corpo em forma de suor e revelava-se nas suas danças que tanto tinham de sensuais como de cruas e furiosas. Quase sempre entre o público, aos saltos ou a caminhar, rapidamente espalhou uma aura de poder e uma sincronização de headbanging surpreendentes. Estávamos perante uma banda unida pelo talento e pela sede de rock. Atrás de Andrew, a guitarra, o baixo e bateria produziam um som denso e pesado carregado de uma maresia de substâncias psicotrópicas, tal como o nome sugere.

Do alinhamento fizeram parte “Red Air”, “Enemy Outta Me”, “Leather Head” e, ainda, uma música nova “Obey”. O entusiasmo era tanto que houve direito a um encore com “Lazzy Slave”.

Há que destacar a qualidade do som existente na sala que proporcionou um concerto ainda mais marcante e entusiástico, causando um delírio musical que deixou, certamente, o corpo e a mente de todos num frenesim.

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Nariz Entupido