2015 Backstage Festivais Reportagens Vodafone Paredes de Coura

Entrevista com João Carvalho, um dos mentores do Vodafone Paredes de Coura

Ao terceiro de dia de festival, no alto de um monte e com o concelho de Paredes de Coura ao redor, o Música em DX conseguiu uns minutos de atenção de João Carvalho, um dos mentores do Vodafone Paredes de Coura, e teve uma conversa agradável sobre o festival e as suas origens. Aqui deixamos o testemunho de um dos pais deste evento.

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Música em DX (MDX) – Como é estar por detrás de um dos festivais mais conceituados de Portugal?
João Carvalho (JC) – É um orgulho muito grande, até porque é um festival que nasceu com pedigree. É um festival que nasceu na nossa terra há 23 anos, formado por um grupo de amigos que ainda hoje se mantém unido, permanecemos como sócios mas também como amigos. É o casamento perfeito, estamos quase nas bodas de prata e somos felizes. É um orgulho muito grande e em cada edição é sempre uma alegria enorme, portanto não há aquela coisa de ser mais um… É sempre a melhor semana do nosso ano.

MDX – E qual é a sensação de ver o festival esgotado pela primeira vez?
JC – É muito boa mas também tem a parte menos boa. A parte boa é termos esperado 23 anos para o conseguir, a parte má é que não havia hábitos de esgotarem os bilhetes e é cansativo tanta pressão. Está a ser um ano complicado e acabares o dia com centenas de mensagens e pedidos a que não podes valer é realmente uma chatice muito grande. Este ano ainda fomos sendo condescendentes com algumas pessoas mas para o ano obviamente que não seremos porque as pessoas têm mesmo de comprar os bilhetes com antecedência. É um festival que tem uma capacidade limite e nunca a iremos ultrapassar porque não queremos que as pessoas percam a comodidade e portanto o segredo está em comprarem cada vez mais cedo.

MDX – Há alguma ideia do porquê de ter esgotado?
JC – Um cartaz muito coerente, o salto qualitativo em termos de infraestruturas e também a programação que o festival tem tido nos últimos 3 ou 4 anos. Um patrocinador novo, uma única empresa a fazê-lo, o festival ter ganho dimensão internacional, promovemo-lo como nunca o tínhamos feito e isto tudo junto dá neste sucesso. Há também cada vez mais uma cumplicidade com o nosso público, é um festival de afetos, é um festival onde as pessoas se ouvem e são bem tratadas e portanto é essa a fórmula do sucesso, é um bocadinho de tudo.

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MDX – O cartaz foi escolhido a dedo. Alguma preferência pessoal?
JC – São tantas. Eu ontem respondi a uma rádio que escolhíamos as bandas duma forma muito parecida a um sorteio da champions league: metem-se várias bandas num pote e vamos tirando à sorte. Claro que é feito com todo o rigor e carinho e de acordo com os nossos gostos musicais. Qualquer banda que está no festival faz parte dos gostos musicais de cada um de nós durante todo o ano. Gosto de tudo o que lá está mas se tivesse de destacar alguma banda escolhia obviamente os POND que deram um concerto maravilhoso. Eu já sabia que eles eram bons ao vivo mas acho que ontem se transcenderam o que também é fácil com um público tão vibrante como é o do Vodafone Paredes de Coura; o Charles Bradley que eu acho que vai dar um concerto marcante hoje, assim como The War on Drugs; os Tame Impala, os White Fence, Temples, Lykke Li, os RATATAT, é um cartaz tão bom, tão coerente. Houve anos em que eu tinha dificuldade em escolher 5 nomes, agora tenho dificuldade em escolher 15.

MDX – A vila de Paredes de Coura abraça este festival há 23 anos. De certa forma é uma semana de grande movimento e crescimento económico. Todos colaboram? Todos ficam satisfeitos? Como é que os habitantes reagem?
JC – Este festival tem unanimidade da população, porque Paredes de Coura anda nas bocas do mundo e porque é bom para o comércio. Há pessoas que dependem cada vez mais do festival para sobreviver economicamente o ano todo e não falamos só dos restaurantes e dos cafés, toda a gente beneficia, seja a pessoa que aluga os campos, seja quem disponibiliza o seu terreno para estacionamento, seja a pessoa que até abre um stand de venda de sopas numa aldeia nesse dia, seja até a economia paralela: a quantidade de casas que são alugadas em qualquer uma das aldeias de Paredes de Coura é realmente incrível, Paredes de Coura tem 19 aldeias e posso dizer que qualquer uma das aldeias tem dezenas de casas alugadas a pessoas que vêm para o festival. Há também o fator que não podemos descurar que é da simpatia que as pessoas trazem a Paredes de Coura e das relações que criam. É um concelho que tem perdido população, tem uma população muito idosa e é bom andar na rua e as pessoas mais idosas virem falar comigo a dizer: “que maravilha, devia ser mais vezes durante o ano porque é bom ver sempre pessoas que são tão simpáticas”. Por isso é que eu digo que há uma unanimidade muito grande, mesmo quem não gosta da música do festival gosta do ambiente que se cria.

MDX – Pensam fazer alterações no futuro? Alargar o espaço?
JC – Não. O festival não pode ter mais gente do que o que tem. O festival é para 25 mil pessoas e são essas 25 mil pessoas que queremos que se sintam confortáveis. O que pode acontecer para o próximo ano é realmente fazermos o que eu chamo de um lifting, tirar algumas gorduras: há declives de terra que podem ser reajustados de forma a que toda a gente tenha ainda mais visibilidade, existir uma pequena mudança na disposição do layout do festival de forma a que haja zonas de descanso, corrigir o local onde está a reggie de forma a ganhar mais espaço à frente. Mas aumentar o terreno não! Até porque a magia do festival está ai, naquele recinto, não queremos estraga-lo de forma nenhuma, queremos é que cada vez mais seja um evento premium e que as pessoas comprem o bilhete com antecedência porque o festival também não tem de ser para toda a gente, é para os fãs, para quem gosta da música e portanto não podemos querer fazer de repente a mesma coisa que as outras pessoas, nem pensar nisso!

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MDX – Porquê 4 dias este ano?
JC – Porque nós não sabemos dizer que não a boas bandas e os TV On The Radio só tinham disponibilidade naquele dia e em vez de fazermos o dia de receção resolvemos fazer um dia à séria. Depois apareceram também os Slowdive e decidimos então mudar para o palco principal e calhou bem.

MDX – Como é que está a correr? Expetativas para o resto dos 2 dias?
JC – As expetativas são as melhores, estamos com público ordeiro, a casa cheia como nunca esteve e não se perdeu comodidade e isso vale tudo. Estamos bem, passei a noite de ontem a receber parabéns, pessoas a dizer: “obrigado, tínhamos algum receio que não se pudesse circular mas continua tudo igual, Paredes de Coura é Paredes de Coura” e isso para mim é o principal fator, é que primeiro não haja incidentes com o público e depois haja bons concertos e que as pessoas fiquem felizes.

E, certamente, que ficámos todos felizes.

Entrevista – Eliana Berto
Fotografia – Fotografia – © Hugo Lima | Vodafone Paredes de Coura